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Juca Bala somando experiência para o Dakar

Redação Webventure/ Offroad

”O Juca ainda é um bebê para o Dakar. Ainda tem muita experiência para adquirir e ainda vai dar muitas alegrias para o Brasil na competição”, a opinião é de Klever Kolberg quando falou sobre a segunda participação de Juca Bala no Paris-Dakar-Cairo. Juca, que hoje é considerado o mais completo piloto de motos de rali do Brasil, mais uma vez não completou o Dakar. Desta vez o motor de sua KTM o deixou na mão na penúltima especial da prova. Mesmo assim Juca não se abalou. Fez uma balanço positivo de sua participação no rali, onde conseguiu se manter entre os líderes da prova mesmo com sua pouca experiência. Em entrevista exclusiva para a Webventure Juca falou sobre sua participação na prova, a decepção de parar plena Especial.

Juca Bala fala da experiência adquirida no último Dakar

Webventure: A impressão que você passou para todos nós, embora não tenha completado a prova, foi que você estava com uma experiência duplicada. Como você se sentiu neste Dakar em relação ao anterior?

Juca Bala: Realmente eu aprendi muito. No ano passado eu cometi alguns erros, não por ingenuidade, mas por falta de experiência mesmo. Eu não conhecia o que era a realidade de um Dakar. Estava muito acostumado ao Rally dos Sertões, aos bajas aqui no Brasil, enduro de velocidade, e lá é diferente. Aqui no Brasil a gente corre um Rally dos Sertões, a gente anda 90% da prova em estradas onde um dia um trator esteira, uma máquina, abriu aquele caminho. No Dakar não existe estrada, é realmente fora da pista, deserto aberto. Quando tem uma estradinha e ela via ficando ruim, eles vão abrindo outras paralelas. Então as vezes você chega em locais onde existem várias estradas, cada uma pior do que a outra.

Webventure: Você superou um acidente nesta Dakar, e depois que a moto quebrou mais a frente. Como foi o acidente e como você se recuperou?

Juca Bala: No ano passado eu tomei três tombos feios de obstáculos que estavam na planilha. E este ano eu tomei um tombo que não tinha nada a ver com a planilha, eu fui traído por uma pedra de uns 30 cm que estava escondida atrás de uma moita de capim. Era uma saída de curva, a moto deu uma escorregada pegou a roda de trás nesta pedra e me deu um tombo meio brabo. Eu dei sorte de não me machucar mais. A moto estragou bastante, eu até voltei um pouco a pé, e só para você ter uma idéia eu estava saindo para o lado errado. Mas como a moto estava avariada, tinha caído o proteção de baixo, onde a gente leva a água de sobrevivência, eu parei e fiquei amarrando, só então eu percebi que estava saindo para o lugar errado. Foi aí que eu voltei uns dois ou três metros e vi o que tinha me derrubado.

Webventure: E a moto estava andando?

Juca Bala: Não, eu tive que fazer vários reparos ali mesmo. A tampa do radiador estourou, eu tive que tirar água do reservatório de sobrevivência, colocar no radiador, colar a tampa de qualquer jeito, esperar secar para só depois seguir viagem.

Webventure: Você já tinha feito Especiais tão longas como a deste rali?

Juca Bala: Não, no ano passado eu tinha feito algumas Especiais de 600, 500 km. Mas aqui no Rally dos Sertões a gente está acostumado a fazer pequenos trechos de 30, 40 km, as vezes 60 ou 120. A maior que a gente fez foi de 120km.

Webventure: Mas você acabou se dando muito bem nestas Especiais. Aonde a gente poderia esperar que você não estivesse acostumado você se saiu muito bem. Você se sentiu mais preparado neste ano?

Juca Bala: Eu já estava preparado para isso. Mas o que valeu foi a experiência no ano passado. Mas não é só isso. É nestas especiais que você vê quem tem a garra, quem anda mesmo. Porque eu acabava largando tranqüilamente no começo e mantinha aquele ritmo até o final. Então eu acabava me dando bem no final, por que era onde todo mundo estava abrindo o bico de cansaço, era onde eu estava com um ritmo muito bom. Está foi a minha estratégia para estas etapas.

Webventure: Você já tem consciência de quanto tem que dar uma desacelerada, de quando vale forçar o ritmo mais um pouco?

Juca Bala: Tenho sim. Este ano eu pude fazer uma reflexão sobre a minha participação já que eu resolvi fazer um diário dia a dia, e neste diário vinha anotando as minhas falhas e o que eu poderia fazer para melhorar para o próximo ano. Tudo para não esquecer. Quando eu chegar aqui eu ter algo para reler, e me lembrar das experiências. No Dakar a diferença é que tem muito piloto bom, é diferente aqui do Brasil onde a disputa fica ali, entre uma meia dúzia de pilotos. No Dakar se largam 200 pilotos, 100 andam muito bem.

Webventure: E na hora que a moto quebra? Da vontade de chutar, xingar, sair pulando? Como é a sensação?

Juca Bala: Eu nunca tive essa experiência, porque no ano passado quando eu bati na vaca a culpa foi minha mesmo. Esse ano foi diferente. Eram 8:30 da manhã e eu só fui resgatado as cinco horas da tardes. Tive que ficar esperando um tempão. E depois foi outra aventura também. Andar no carro vassoura que vai fazendo o resgate dos pilotos que ficam pelo caminho. O caro vassoura faz o mesmo percurso que os competidores, porque eles tem que ir varrendo literalmente. E lá fomos nós pegando outros pilotos quebrados, alguns com os mesmo problema que o meu…

Webventure: Uma verdadeira aventura.

Juca Bala: É uma aventura. A gente andou uns 30 km já atolou, eu tive que descer ajudar os caras a desatolar o caminhão. Depois fomos até o quilômetro 190 e eles receberam um telefonema que teriam que ir até o quilômetro 260 para resgatar uma ambulância da organização que estava quebrada. Aí os caras viraram para a gente e falaram que ou a gente dormia com eles lá no meio do caminho e ia direto para o Cairo, ou a gente pegava um taxi ali onde estávamos, era um vilarejozinho, e voltávamos para o acampamento.

Webventure: Mas como se faz para pegar um taxi no meio do Saara?

Juca Bala: Era complicado. Estávamos, eu e um outro piloto francês, em um vilarejozinho e o cara que tinha um carro para nos levar não queria aceitar franco francês. Aí tinha o dono de um hotelzinho onde a organização estava concentrada no vilarejo e o dono deste hotel sugeriu um primo dele que tinha uma caminhonete e poderia nos levar. Ele chamou o sujeito que também não queria aceitar o dinheiro francês. Mas aí o dono do hotel se comprometeu a trocar o dinheiro para ele depois. Foi nossa salvação, porque todas as minhas coisas estavam no acampamento, no caminhão do André. Eu tinha que voltar para lá. Pagamos uns 500 francos para ele nos levar. Foi uma loucura. Fomos em uma caminhonete em que mal cabíamos os três na cabine. O cara ligou uma música árabe lá no último volume. E a gente estava cansado, a esta altura já era mais de onze horas da noite, atravessando umas estradinhas onde mal passava um carro. Foi uma aventura a parte. Chegamos no acampamento eram duas horas da madrugada.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur

Last modified: janeiro 28, 2000

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