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“Lá atrás”, o outro mundo da escalada

O locutor anuncia o nome, entra o atleta e todo mundo pode acompanhar cada movimento dele no esforço para chegar ao fim da via, objetivo da competição. Mas onde estava este atleta antes de entrar na via? Bem, onde é fácil responder… difícil é saber COMO eles ficam.

Isolamento ou concetração: “lá atrás”, separado do mundo, é um dos lugares mais tensos de todo o mundo da escalada esportiva. É lógico que às vesperas de qualquer competição os atletas ficam nervosos, mas acho que na concentração a coisa é um pouco pior.

Muitas vezes ficamos horas e horas a fio, alongando, aquecendo, conversando, dormindo… No isolamento reina um clima de alegria, mas sempre meio nervosa, pois, após os poucos minutos de leitura da via não vemos mais o muro até nossa vez de escalar.

Na maioria dos campeonatos, podemos ver e escutar o público, suas reações, aplausos e suspiros. Há uma “legenda” para cada reação:

Silêncio total: significa que o escalador está no muro, empenhado em subir. Nossas mãos, “lá atrás”, estão geladas…;

Aplausos animadíssimos e que param repentinamente: sabemos que o escalador passou por um movimento difícil, mas continua escalando e precisa do silêncio de volta para continuar a via – ele ainda não caiu. Nossa barriga dói…;

Um repentino ‘Aaaaahhhh!’, seguido de aplausos desanimados: o atleta caiu antes do que era esperado. Um vazio interior…;

Vários gritos de estímulo como “vai!”, “força!”, “respira!”: querem dizer, obviamente, que alguém está tendo dificuldades. Um frio percorre nossa coluna…;

Uma sessão de aplausos frenéticos, assovios e gritos: o competidor completou a via. Respiramos aliviados, pois nosso amigo ou amiga chegou ao topo. Mas então a pressão aumenta: é chegar também ou não passar para a próxima fase, ai!

O lado surreal – E nós, “lá atrás”, a cada reação do público, ficamos mais e mais tensos, com dor de barriga, as mãos transpirando e as pernas moles. A visão da área de isolamento é algo surreal: vários se aglomerando em frente a um minimuro para aquecimento, um ou dois jogados no chão dormindo, outros estirados fazendo alongamento ou simplesmete respirando e se concentrando. Muitos correndo de um lado para outro, à procura de um fiscal da organização para que os acompanhe ao banheiro e até alguns fazendo ioga.

Finalmente vem o fiscal e chama nosso nome, é hora de se preparar para a via: calçar a sapatilha, encordar e dar aquela concentrada final. Só então aquela voz do microfone, alta e penetrante, nos chama para a frente do muro. Escutamos as poucas palavras do juiz, nos avisando que temos trinta segundos para começar a escalar e doze minutos para terminar a via, para tomarmos cuidado para não pisar nas áreas proibidas do muro (arestas laterais e chapeletas), e outras coisas que às vezes a tensão não nos deixa escutar. Damos meia volta, uma última olhadinha no muro e… é subir ou subir.

Rosita Belinky, colaboradora da Webventure, escala há 11 anos e foi campeã brasileira em 92 e 94. Ela tem o patrocínio da Rainha e apoio de BY, Casa de Pedra e Oakley.


Este texto foi escrito por: Rosita Belinky