Lacre de interdição do Poço Encantado (BA) é oficialmente retirado - Webventure

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Lacre de interdição do Poço Encantado (BA) é oficialmente retirado

Redação Webventure/ Destino Aventura, Trekking

Miguel assinou oficialmente o Plano de Manejo da Caverna (foto: Alexandre Koda/ www.webventure.com.br)
Miguel assinou oficialmente o Plano de Manejo da Caverna (foto: Alexandre Koda/ www.webventure.com.br)

Após quase quatro anos fechado e muitos entraves burocráticos, um dos cartões postais da Chapada Diamantina (BA) foi reaberto na última sexta-feira (11/03). O Poço Encantado, na cidade de Itaetê, foi interditado pelo Ibama em 2007 por descumprimento de lei ambiental.

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  • O proprietário do local, Miguel Jesus da Mota, construiu uma escada de concreto no interior da caverna sem uma licença prévia das autoridades ambientais e teve a atração fechada após uma visita do Ibama. Além da interdição, ele teve que arcar com uma multa de R$ 50 mil e ainda deverá desembolsar R$ 1.500 mensais para que um analista da entidade fiscalize o local regularmente.

    “Passei muita dificuldade neste período, já que todo o meu sustento vinha da exploração do turismo do Poço”, conta Miguel que afirma ainda ter resistido a diversas propostas para vender a propriedade. “Construí a escada para facilitar o acesso das pessoas, não tinha intenção de fazer nada errado, fui ingênuo”, completa.

    “Eu não esperava esse embargo, mas resisti com muita força e finalmente chegou a vitória depois de muitas batalhas. Essa reabertura é uma grande alegria para mim e certamente a Chapada Diamantina vai ganhar muito mais visitantes a partir de agora”, enfatiza o guardião do Poço, nome dado às pessoas que administram cavernas.

    Estudos – Após diversos estudos encomendados, chegou-se à conclusão que a escada deveria permanecer no local. “Se ela fosse retirada poderia haver um dano na estrutura da rocha e o impacto ambiental seria maior”, afirma Jocy Cruz, chefe do Cecav (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas), entidade responsável por fiscalizar as cavernas no Brasil. “Para o desembargo foi necessária a criação de um termo de ajustamento de conduta assinado pelo Ibama, Ministério Público Federal, o Instituto Chico Mendes e o Miguel”, completa.

    Ainda segundo Jocy, foi criado também um Plano de Manejo, documento que oficialmente regulamenta as atividades a serem desenvolvidas no local. “Esse foi substituído pelo Plano Emergencial e haverá um prazo para que o guardião faça os ajustes necessários”. Entre as regras a serem seguidas está a substituição da iluminação a gás no interior da caverna por luzes frias, com o intuito de reduzir o impacto ambiental. “O Plano, além de mostrar o trajeto a ser seguido pelos turistas no interior, ratifica o limite de dez pessoas por grupo a visitarem a caverna em cada turno”, relata Jocy.

    O Poço Encantado foi a primeira caverna da Bahia localizada em área privada a ter um Plano de Manejo efetivamente concluído. “Todas as outras áreas ainda usam o Plano Emergencial e o que aconteceu com o Miguel servirá de exemplo para que os outros guardiões regularizem suas situações”, comenta o chefe do Cecav.

    Célio Costa Pinto, superintendente do Ibama na Bahia, resume os processos burocráticos que levaram à reabertura da caverna. “Foi um longo processo, já que o Cecav teve que fazer diversas notas técnicas e o Ministério Público Federal pediu para acompanhar passo a passo todos os trâmites. Além disso, trata-se de uma matéria nova nas leis ambientais e na competência dos órgãos”.

    Célio fala ainda que a interdição da caverna poderia ter sido evitada, caso a escada tivesse sido construída de madeira e de forma removível, por exemplo. “O Guardião usou concreto definitivo e causou dano permanente ao local”.

    O Secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, foi um dos primeiros a entrar na gruta após a quebra do lacre e comenta suas impressões. “É um misto de satisfação, êxtase e encantamento”, comenta. “Vale a pena vir mais de uma vez, pois a natureza nos reserva coisas muito bonitas e ricas em emoção”.

    Quem aguardava ansiosamente para visitar a caverna era o mineiro radicado em Salvador, Lúcio Henrique, que soube da reabertura e chegou a tempo de ser um dos primeiros da fila no dia da solenidade. “Para fechar a semana com um gran finale, eu e minha namorada resolvemos visitar o Poço”. A acompanhante de Lúcio, Elídia Morais, veio de Belém do Pará após saber que a caverna era um dos principais atrativos da Chapada.

    O Poço – Localizado no município de Itaetê, a 140 quilômetros de Lençóis, uma das principais cidades da Chapada Diamantina, o Poço Encantado é uma caverna com um lago cristalino em sua parte mais baixa, onde a incidência do sol, aliada à forte presença de cálcio e magnésio, o deixa com uma coloração azulada. Entre os meses de abril a setembro um feixe de luz deixa o local ainda mais bonito.

    O lago possui 61 metros de profundidade em sua parte mais funda, 98 metros de comprimento por 49 de largura e a água vem de um lençol freático que corta a região. No período de chuvas o nível da água sobe 40 centímetros e na seca ele volta ao seu nível normal.

    Na década de 80 o guia local Luis Krug descobriu no lago um bagre cego albino, endêmico da região, que se alimenta de insetos e larvas. Esse é um dos motivos pelo qual se proibiu o banho, já que o suor do corpo humano impede a correta filtração natural dos detritos existentes e prejudica o ecossistema.
    Quatro vezes ao ano a equipe de guias local entra no lago com um bote para retirar o excesso de calcário da entrada da caverna, já que o material acumulado poderia impedir o acesso dos raios solares. Caso esse procedimento não seja efetuado, a coloração azulada tenderia a sumir e o poço perderia sua característica original.

    Para acessar a caverna o visitante deve fazer uso de um capacete, touca descartável e lanterna. O acesso se dá por uma pequena fenda na rocha e escadas garantem a transição até a região do lago. Há também outro salão, seco, com formações de estalactites e estalagmites, que futuramente poderá ser aberto ao turismo após estudos de impacto ambiental.

    Os guias locais contam que a caverna foi descoberta por Gustavo, um nativo da região, que na década de 40 caçava pelos arredores e se deparou com a fenda. Pensando se tratar de morada de onças, ele reuniu um grupo de amigos para futuramente explorar o local.

    Depois de chegar ao interior, ele não encontrou felino algum, mas avistou o lago imaginando se tratar de uma porção de areia. Ao jogar uma pedra, descobriu que era uma água azulada, mas ao analisar mais de perto, percebeu que o líquido era cristalino. Gustavo não encontrou uma explicação lógica para a coloração, então imaginou que era um encanto divino.

    A notícia se espalhou pela região e logo o local foi batizado de Poço Encantado, nome que desde os anos 80 é utilizado para atrair turistas. Considerado um dos principais pontos de interesse da Chapada Diamantina, o fechamento causou prejuízos não só para o proprietário Miguel, mas para as agências locais também.

    “Esse é um dos atrativos mais bonitos da Chapada e estava fazendo muita falta”, comenta Manoel Renato de Queiros, responsável pela Volta ao Parque. “Após o fechamento nossas vendas diminuíram consideravelmente, pois as pessoas se desinteressavam em vir ao saber do fechamento”, completa o empresário. Outros donos de agência chegam a calcular 20% a menos de movimento.

    Localização – Para chegar ao local, saindo de Lençóis, é necessário acessar o trevo da BR 242 à direita, após 65 quilômetros entrar à direita na BR 407, depois à direita na BR 242 novamente após cerca de 42 quilômetros, à esquerda para permanecer na 242 depois de 29,5 quilômetros e finalmente à direita na BA-245. Devido ao pouco acesso à região durante o fechamento, as estradas estão em condições precárias, então é recomendável contratar um guia na cidade.

    Este texto foi escrito por: Alexandre Koda

    Last modified: março 15, 2011

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