Na escalada a pressão sobre a articulação é maior (foto: Tom Papp/ www.webventure.com.br)
Durante a prática de esportes, as funções do joelho são a de absorver a energia cinética gerada pelo contato dos membros inferiores ao solo e transmitir o movimento aos demais seguimentos do corpo. Isto acontece por causa da chamada contração muscular excêntrica, na qual a fibra muscular contrai e alonga-se, resistindo ao movimento e aos graus de flexão. Em uma corrida, por exemplo, a força de reação ao solo, que chega a ser duas vezes ao peso do indivíduo, é absorvida pela flexão do Joelho entre 50 e 60 graus, e pela resistência do quadríceps, ou músculo anterior da coxa. O restante é dissipado pelo quadril e coluna vertebral.
No início dos anos 80 o joelho tornou-se a articulação em destaque na traumatologia do esporte devido à elevada incidência de lesões decorrentes da prática esportiva. Em estudos recentes de biomecânica, concluiu-se que é a articulação do corpo humano que mais trabalha próximo aos seus limites fisiológicos, ou seja: no coeficiente entre destruição tecidual e reconstrução, existe grande chance da primeira prevalecer e, consequentemente, haver lesão. Portanto, não só a prática esportiva, mas também atividades repetitivas da vida diária, como subir e descer escadas, andar, agachar-se podem desencadear dor e inchaço, sem causa maior aparente.
Quando o joelho sai dos seus limites fisiológicos e deixa de executar suas funções, deve-se levar em conta fatores que incluem o treino inadequado, geralmente sem o acompanhamento de um instrutor da modalidade e o aumento da freqüência, ou intensidade. E ainda outros inerentes ao indívíduo: a pisada muito pronada ou supinada, joelhos em x ou arqueados, angulação e rotação anormais entre os ossos do quadril, diferença de comprimento dos membros e, principalmente enfraquecimento e encurtamento de grupos musculares, gerando desequilíbrio entre músculos agonistas e antagonistas.
Juntos esses fatores contribuem para que haja perda da capacidade de absorção e dissipação de energia, gerando as chamadas lesões por sobrecarga, dentre elas as tendinites, bursites, sinovites e o amolecimento e fissura da cartilagem patelar, a Condromálacea.
Dr Adriano Leonardi é médico ortopedista especialista em artroscopia, cirurgia do joelho e traumatologia do esporte. Membro da Wilderness Medical Society e mestrando em ortopedia e traumatologia pela Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo. É idealizador da equipe Taktos de Medicina esportiva e de aventura além de praticante entusiasta de esportes de aventura.
Nos esportes de aventura, diferente de outras modalidades, o que conta é a extrema irregularidade do terreno, com aclives e declives acentuados, exigindo ângulos extremos de flexão do joelho nas subidas e grande capacidade de absorção de energia, frenando e desacelerando o corpo nas descidas. Para a prática esportiva, o joelho, assim como outros seguimentos do aparelho locomotor, deve estar preparado. Em outras palavras, ter boa amplitude de movimento, força e flexbilidade.
Na escalada e na espeleologia, trabalhando em ângulos de flexão do joelho acima de 90 graus, existe aumento do vetor de reação articular, ou seja, a pressão da rótula exercida sobre o Fêmur é maior, aumentando-se o risco de lesão da cartilagem existente entre os mesmos. Além disso, o joelho é submetido a um risco adicional: o joelho travado em flexão aumenta a chance de lesão de ligamentos e meniscos após entorse.
No trekking, a reação articular cíclica sob os mais diversos ângulos e força muscular são os fatores que levam a lesão não só de uma, mas de várias estruturas do joelho. São comuns tendinites associadas a lesões musculares por excesso de uso ou por distenções.
O uso da Mountain Bike mal adaptada ao biótipo do indivíduo pode gerar dores no joelho. Quadro inadequado, selim muito alto ou baixo e técnica errada de pedalar são, de longe, os fatores responsáveis de dores no joelho. Nas corridas de aventura, acrescenta-se o tempo prolongado de exposição da articulação aos fatores lesivos à necessidade de ganho de velocidade. Estatisticamente, é a modalidade com maior incidência de lesões e afastamento parcial ou definitivo de praticantes. Um corredor de aventura que pedalou inadequadamente continuará lesionando quando estiver andando, correndo ou executando as técnicas verticais.
Água no joelho – Independente da modalidade esportiva praticada, havendo lesão, além da dor, ocorre o derrame articular, popularmente conhecido como água no joelho, uma reação inflamatória difusa da membrana que reveste a articulação com extravasamento de líquido para a mesma, ou sangue, nos casos de ruptura ligamentar ou meniscal.
O fato é que, havendo derrame, há inibição do reflexo do músculo quadríceps da Coxa, com conseqüente atrofia muscular. Se o praticante não se reabilita de maneira adequada e corrige os fatores que proporcionaram a lesão, a mesma pode progredir, agravar-se, incapacitá-lo de exercer atividades leves da vida diária ou, até mesmo, em graus extremos, levar à falência estrutural com a possibilidade de fraturas por estresse, rupturas musculares ou tendíneas.
Aí vão algumas orientações aos praticantes dos esportes de aventura:
Este texto foi escrito por: Adriano Leonardi