Foto: Pixabay

Lições de vida em expedição ao Aconcágua

Redação Webventure/ Montanhismo

Fotografar ou filmar uma viagem ou passeio parece obrigatório para eternizar as lembranças daquela experiência. Há quem pense diferente… Confira abaixo a coluna do mês de Helena Coelho.

Fui contratada para guiar um casal de japoneses residente aqui no Brasil em uma expedição ao Aconcágua. Ela queria ir somente para fazer o trekking e ele com planos de subir até o cume pela rota normal.

Fizemos todos os acertos e nos encontramos no avião, já que eles não residem no mesmo estado que eu. Conversas normais, até que ele me perguntou se eu estava levando máquina fotográfica; com a minha resposta afirmativa, ele rapidamente disparou que não queria que eu a usasse quando ele estivesse por perto. A curiosidade me fez querer saber por que. Pois nós estamos sempre acostumados a registrar com fotografias e vídeos nossa passagem pelas montanhas do Brasil e do mundo. Aliás, como dizia uma bem feita propaganda não fotografou, dançou…

Nas velhas épocas do CEU Centro Excursionista Universitário as fotos eram utilizadas para divulgar os lugares para onde poderíamos ir escalar, explorar cavernas ou mergulhar. E que lugares! Paisagens maravilhosas que nos faziam querer aprender o esporte para desfrutar daqueles ambientes mágicos. E, como o dinheiro era bastante curto naquela época, nos contentávamos com apreciar as fotos e íamos para o Jaraguá, aqui bem perto, treinar escaladas em pequenos lances todos os fins de semana.

Funções de ontem e de hoje – Na primeira vez que vimos uma projeção de slides feitos pelo Milton Shirata sobre uma viagem do pessoal do CAP – Clube Alpino Paulista – para uma montanha nos Andes, literalmente babamos. E agendamos em nossos planos, aprender a escalar em neve e gelo, assim que tivéssemos condições.

Para nós, naquela época, a fotografia tinha esse objetivo: divulgar os lugares maravilhosos e convidar os amigos a viajarem juntos, a compartilhar esses ambientes.

Com o passar do tempo, as coisas se complicaram um pouco e as fotos acabaram tendo outro objetivo.

Para os escaladores com patrocínio, as imagens feitas através de fotos ou vídeos tinham a possibilidade de retorno de marketing para as empresas que investiam. Além do que, muitos cumes são provados com a mostra das fotos. A imagem passou a valer muito mais que os depoimentos, pois era a comprovação de que este ou aquele alpinista chegou mesmo lá e não estaria falseando por compromissos com patrocinadores ou com o próprio ego.

Um prazer pessoal – Falei de tudo isso para eles; então, ele me respondeu que o que estava fazendo só a ele interessava, estava indo para a montanha apenas e tão somente por prazer pessoal, por pura satisfação de estar lá e de tentar, mesmo na idade dele 63 anos, chegar ao topo da América. Que ele não precisaria contar para ninguém se chegou ou não ao cume e as belezas do lugar ele não precisaria mostrar para ninguém, ele as teria gravadas nos olhos, na mente e no coração; além disso, não é fotógrafo e já há muitas e belas fotos tiradas por muitos outros. Para ele, também, o sucesso numa viagem dessas era muito relativo, chegar ao cume ou não tem dimensões diferentes para as pessoas. Escalar uma montanha como o Aconcágua não é um piquenique, mas uma questão de vida, de viver cada momento e aproveitar para aprender conhecendo-se mais e também a mãe natureza.

É claro que eu fiquei feliz com a resposta dele e lembrei dos velhos tempos onde os escaladores também não tinham a preocupação em documentar a si mesmos… Se ele chegou ao cume? Ah! Essa pergunta todos os amigos fazem, mas, isso… somente ele poderá dizer.

Este texto foi escrito por: Helena Coelho

Last modified: março 11, 2004

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