Mark Twight escreveu alguns textos fortes em seu livro “Extreme Alpinism”. Vou comentar as idéias principais de um destes textos. Acredito que o sofrimento tem um papel central nos esportes, quando chegamos nos limites extremos. A escalada em alta montanha é um destes casos. Comer barrinhas por vários dias, derreter gelo até encher as garrafas de água, acordar cedo e sair para um dia longo, continuar subindo quando seus dedos doem de frio, seguir, mesmo quando seu corpo grita para você voltar.
Acho que as pessoas são diferentes e nem todas tem vocação para suportar estes e outros sofrimentos. Mas para chegar nos extremos você deve estar disposto a ampliar seus limites. “O sofrimento dá a oportunidade de exercitar a força de vontade e a força”.
Qual é o limite? – Quando as pessoas chegam ao seu limite querem parar, voltar, se perguntam: o que estou fazendo aqui? “As difíceis experiências do montanhismo podem parecer irracionais e arriscadas do conforto de uma cadeira de uma sala de estar, mas aprender a lidar com elas é essencial”. Outras pessoas apreciam o desfio de superar as dificuldades. Cada experiência amplia os limites, possibilita e dá segurança para ir um pouco mais longe.
Lembro-me de estar conversando com amigos sobre a resistência física quando as corridas de aventura chegaram ao Brasil. Para nós era difícil imaginar passar um dia, uma noite e outro dia correndo. Hoje achamos isto normal. Participamos de várias provas e estes mesmos amigos hoje podem passar uma semana dormindo uma hora por noite e continuando a correr. Chegamos ao ponto que parecia impossível.
Valor da experiência – Acredito que o treinamento amplia os limites físicos e, particularmente, os psicológicos. As equipes de corridas de aventura vencedoras têm corredores mais velhos. As corridas de bicicleta de longa distância são ganhas por atletas mais velhos. Lidar com o sofrimento. Lidar, pois acho que não é possível vencê-lo. Este é o ponto central: aprender a conviver com ele.
Este texto foi escrito por: Vítor Negrete
Last modified: janeiro 22, 2003