Normalmente, todo mergulhador consciente faz pelo menos uma vez na vida a seguinte pergunta: será que eu realmente estou preparado para fazer este mergulho?
A definição de quais são os reais limites nos quais o mergulhador pode chegar sem comprometer a sua segurança, o que pode significar até mesmo a sua vida e a de seu companheiro, varia um pouco de acordo com as características de cada pessoa e também do próprio mergulho. Entretanto, de uma forma geral, podemos citar alguns aspectos que são comuns a todos os mergulhadores, independentemente da habilidade e experiência individuais.
Estar bem física e mentalmente para o mergulho é uma condição básica. Não há necessidade de que se tenha o corpo de um atleta olímpico mas é importante se lembrar que durante o mergulho, pode-se rapidamente passar de uma situação de conforto e relaxamento para um evento onde há necessidade de muito esforço físico e em um ambiente onde é fundamental se manter a concentração e o raciocínio rápido.
Atividade física – Para atingir estes objetivos devemos estar sempre praticando alguma atividade física regularmente e também os exercícios básicos do mergulho (alagar e desalagar a máscara, troca de ar com o companheiro, etc.). Um bom exame médico anual também é importante pois pode-se detectar alguma condição médica que pode trazer problemas no futuro. Não fumar, não ingerir álcool pelo menos antes e logo após o mergulho além de se manter bem hidratado também são muito importantes.
Além de eventuais problemas médicos que podem limitar a atividade de mergulho, algumas outras situações também deve ser lembradas. Mulheres gestantes, independentemente do tempo de gestação não devem mergulhar. Como não existem dados concretos sobre o que pode ocorrer com o feto durante e após o mergulho, incluindo a possibilidade de uma doença descompressiva, não se pode justificar tal risco, principalmente em se tratando de uma atividade normalmente de recreação.
Quanto aos limites de idade, isto ainda gera muitas discussões. Normalmente, considera-se como limite mínimo de idade para se iniciar o mergulho com SCUBA a partir dos 12 anos mas mesmo isso tem sido variável. O que não podemos esquecer é que a criança ainda está com o crescimento ósseo muito ativo e a partir de que momento podemos expor as cartilagens em crescimento a uma quantidade maior de gás inerte (N2), como o que ocorre no mergulho, ainda é uma pergunta sem uma resposta única.
Em relação á idade avançada, aparentemente isto mais relacionado ao condicionamento físico da pessoa. Recordo-me claramente da cena em que vi, pela TV, Jacques Cousteau mergulhando logo cedo, pulando do Calipso, para um mergulho aos 73 anos de idade. Manter a saúde em forma e consultar o seu médico regularmente sem dúvida é o caminho para se chegar até lá.
Um outro aspecto importante é o de se respeitar os limites da certificação que cada mergulhador deve ter. Participar de um curso credenciado por algumas das inúmeras agências de ensino de mergulho que existem no Brasil e no mundo é uma condição básica para se aventurar debaixo dágua.
Cada curso normalmente fornece ao aluno os limites de profundidade , técnicas e equipamento e devemos estar sempre atentos par não ultrapassa-los. Se há o interesse em ir mais fundo ou em uma outra condição (à noite, água doce, cavernas, ect.) de-se participar de um curso específico de cada área. Isto também nos mantém em treinamento continuado.
Entretanto, mesmo em se tomando todos estes cuidados, eventualmente podem ocorrer situações de emergência durante a atividade de mergulho. Neste caso, a preparação antecipada também faz um diferença enorme no resultado.
Primeiros socorros – A participação em cursos de primeiros socorros, independentemente da certificação oferecida, já um primeiro passo. Somente ao se praticar várias vezes as manobras básicas de primeiros socorros, incluindo RCP, é que se consegue um pouco de habilidade nesta área.
Ao mesmo tempo, o uso do oxigênio (O2) no atendimento das emergências de mergulho é fundamental uma vez que já se sabe que o uso desta medida pode diminuir a gravidade da situação e até mesmo facilitar a recuperação após o tratamento (recompressão em câmara).Ter um plano de ação preestabelecido no caso de emergências também é importante. Telefones de contato e uma seqüência do que fazer nestes casos ajuda muito na hora de se tomar decisões nestas horas difíceis.
O Divers Alert network é um serviço sem fins lucrativos dedicado ao desenvolvimento da segurança do mergulhador recreativo em todo o mundo. Associado ao serviço de saúde da Universidade de Duke, EUA, e com atividades na Europa, África, Ásia, Oceania e em todas as Américas, fornece aos seus associados informações e serviços com o objetivo de difundir um mergulho mais seguro.
No caso do Brasil, já estão disponíveis os cursos de provedor de O2 (inclusive para instrutor) além de um número dedicado a receber as chamadas de emergências de mergulho (1-267-520-1507), mesmo que para mergulhadores acidentados que não são membros do DAN. Além, disto, os membros do DAN podem optar por adquirir um seguro para acidentes de mergulho que pode cobrir as despesas de transporte e tratamento em casos de acidentes de mergulho. Maiores informações podem ser obtidas através do site www.DiversAlertNetwork.org.
Em resumo, fique atento aos limites de sua segurança, sempre procurando realizar o seu mergulho de maneira consciente e confortável. Lembre-se de que a sua segurança debaixo dágua pode comprometer não apenas a sua saúde mas também a de seu companheiro. Em caso de emergência, forneça o atendimento básico de emergência, incluindo o uso de O2 e leve imediatamente o acidentado a um serviço médico de emergência (pode ser o público mesmo) para uma avaliação médica inicial e, também, para garantir um suporte contínuo de oxigênio. Enquanto isto, ligue para o DAN (11-267-520-1507). Nós estamos lá para ajudá-lo.
Eduardo Vinhaes, colaborador do Webventure, é mergulhador, montanhista, espeleólogo, com 20 anos de experiência, e Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). É Instrutor de mergulho três estrelas – CMAS e open water instructor NAUI, coordenador regional da Divers Alert Network (DAN) para o Brasil. Também é Membro correspondente no Brasil da comissão médica da UIAA.
Este texto foi escrito por: Eduardo Vinhaes, especial para o Webventure
Last modified: junho 13, 2002