Palmeirinha teve problemas no Dakar 2006 (foto: Divulgação)
O inverno na Europa está mais ameno, pelo menos na capital portuguesa, Lisboa, que recebe desde ontem os competidores da 29ª edição do Dakar para as vistorias técnicas antes da largada, no sábado. Os brasileiros Riamburgo Ximenes e o navegador Lourival Roldan foram os primeiros a passar pela vistoria, às 8h30 da manhã de ontem. Segundo Lourival, o dia foi ensolarado, com temperaturas de até 15°C. Hoje ficamos só de camiseta, contou.
O navegador está em Lisboa desde o dia 28 de dezembro e prepara o veículo e a burocracia da organização para a sua quarta participação no maior rali do mundo. Ele estará ao lado do estreante cearense Riamburgo. Ambos são conhecidos pelo perfil tranqüilo no rali nacional, mas competiram apenas uma prova juntos. Acho que somos a equipe mais zen do Dakar, brincou o navegador.
Porém o clima tranqüilo a bordo não esconde o espírito competitivo da dupla. Estamos em uma das categorias mais competitivas, contra equipes muito melhor estruturadas que a nossa. Mesmo assim queremos chegar em Dakar no pelotão da frente, o que significa estar entre os 20 primeiros, avalia Lourival.
De Lisboa, o navegador conversou com o Webventure e falou sobre o carro, a equipe de apoio e a expectativa para a prova.
Webventure – Depois de não competir em 2006, como está esse reencontro com o Dakar?
Lourival Roldan – E muito bom voltar ao Dakar, agora pela quarta vez. Sinto-me tranqüilo porque já sei exatamente o que vou enfrentar. Sei das nossas condições técnicas, tanto de navegação como de pilotagem. Estou otimista. Sei que não temos experiência e equipamento para ganhar, mas sei que temos condições de chegar em Dakar e chegar no pelotão da frente. Pelotão da frente no nosso caso está entre os 20 primeiros.
Essa sua união com o Riamburgo faz provavelmente a equipe mais zen do Brasil. Você acha que isso é uma vantagem para enfrentar o deserto e os perigos do Dakar?
Lourival – Acho que é a equipe mais zen do Dakar (risos). A tranqüilidade é do dois lados. É uma confiança mutua, cada um sabe o que tem que fazer, não tem nenhuma ansiedade em relação à prova e o que vai acontecer. Sei exatamente como é o Dakar, não tenho nervosismo. E o Riamburgo, mesmo sem fazer o Dakar, é muito tranqüilo. Está mais tranqüilo que eu.
É bom começar uma prova com tranqüilidade, porque conseguimos nos concentrar realmente no que temos que fazer: entrar no carro, terminar a especial, cuidar do veículo e andar o mais rápido possível. Tudo isso sem abusos, já que essa é uma prova em que não se pode abusar, não dá para andar no limite o tempo todo, por causa da dimensão do rali. Não há equipamento que resista.
O carro está como vocês queriam?
Lourival – O carro está muito bem montado, é uma versão semelhante a que eu andei com o Klever [Kolberg] em 2004, mas bem superior em relação àquele carro. Foram feitas várias modificações que melhoraram o desempenho, a força, a velocidade máxima. A suspensão também, está com amortecimento melhor, a parte de controle eletrônico melhorou. É um carro mais confiável, mais potente e mais rápido do que a gente andava. Para o piso ruim do Marrocos devemos ir muito bem, temos um pneu que resiste bastante a esse tipo de terreno. Espero ter vantagem também nesse começo, na Europa ainda, com montanhas cheias de curvas e precipícios, já que nosso carro é curto e com facilidade para manobras e controle fácil. É uma prova onde temos muita concorrência, a vitória é praticamente impossível pela quantidade de concorrentes melhor estruturado que nós e estão com equipamentos de fábrica. Eles podem forçar muito todos os dias. Nós não podemos, até pela quantidade de peças que levamos. A nossa equipe é de tamanho médio para pequeno.
E como foi a recepção da equipe de apoio, a estrutura é como vocês esperavam?
Lourival – É uma estrutura muito melhor do que as outras participações que tive no Dakar. Temos mais pessoas trabalhando no carro. Vamos receber uma atenção maior. Eu fui muito bem recebido, o fato de conversar na mesma língua facilita muito quando pedimos algo e realmente acontece. Eles atendem rapidamente o que pedimos, é feito e tem qualidade. Tudo o que prometeram no carro eles fizeram. E o carro é bom, é igual ao carro do dono da equipe.
O Palmeirinha teve alguns momentos difíceis no Dakar passado por causa da equipe de apoio. Em um determinado momento o carro dele estava muito avariado e a equipe deu preferência para outros competidores em situação melhor. Você espera algo assim?
Lourival – Temos que fazer a nossa parte também. Acredito que isso não vai acontecer. Eles vão dar muito sangue para que a gente chegue em Dakar. Mas nós também temos que cuidar do equipamento. É natural que se o piloto danifique o carro logo no começo vai desanimar a equipe de apoio. Depois que já chega no meio da prova, eles têm todo o interesse em fazer você chegar em Dakar. É como um casamento, cada um tem que fazer a sua parte, caso contrário nada vai para frente.
Como está o clima com os brasileiros aí em Lisboa, existe alguma rivalidade?
Lourival – Ainda não consegui falar com nenhum piloto de carro. Falei apenas com o André Azevedo, com o Dimas Mattos, o Carlinhos [Ambrósio] e eles estão animados. Para o Dimas, o Carlos e o Sylvio [Barros] vai ser uma estréia, então fiz o que eu puder ajudar com dicas eles também estão recebendo dicas de pilotos te moto. Essas dicas temos sempre que ouvir, as pessoas que nos dão conselhos estão sempre querendo o nosso bem, e temos que aplicar na medida do possível .O clima está muito tranqüilo. Entre nós não existe essa rivalidade. E se surgir será mais para o fim do rali, caso disputarmos alguma posição.
A idéia é fazer uma prova de colaboração um com outro. Quem estiver com algum problema a instrução – principalmente dentro da nossa equipe, a Red Line é ajudar o mais rápido possível. Porém, para a pessoa ser ajudada ela precisa colaborar. Tem que estar preparada para receber uma ajuda. Por exemplo, não adianta nada um competidor atolar e não estar com a cinta na mão para ser rebocado. Se ele não estiver preparado para ser rebocado o outro carro vai embora. A pessoa que quer ser ajudada já tem que mostrar para o carro que vai ajudar onde ele tem que parar, ou também vai atolar.
Eu gostei desse clima, temos que fazer todos chegarem, mas sem atrapalhar ninguém. Perder alguns minutos para dar um puxão no companheiro de equipe é saudável, porque sabemos que podemos contar com isso também se precisarmos.
Hoje a Red Line, a estrutura em que estamos, é a maior equipe privada de Portugal, e uma das maiores na Europa. Estamos acreditando muito nesse time para tentar comprovar as nossas expectativas.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa