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Lucas Brun confirmado na próxima perna da Volvo


O brasileiro no encontro com a imprensa (foto: Theo Ribeiro/ Team ABN Amro)

Direto do Rio de Janeiro – Pela atuação na perna mais complicada da Volvo Ocean Race, e com o proeiro Gerd Poortman ainda machucado, o brasileiro Lucas Brun foi confirmado no ABN Amro 2 para a próxima perna da volta ao mundo.

Hoje o velejador se encontrou com a imprensa pela primeira vez depois da volta ao Brasil e contou algumas experiências e sensações depois das 6.700 milhas dentro do VO70. “Essa era a perna mais importante para mim. Reunia os mares do sul, a passagem pelo Cabo Horn e a chegada na minha terra natal”, disse Brun. “Mesmo sendo a mais perigosa. Se é para estar na Volvo Ocean Race, então eu quis ver o pior dela.”

Nos primeiros dias, o brasileiro confessou que ficou assustado com o desempenho do veleiro. “Nos primeiros dias fiquei muito tenso, sempre alerta, até me acostumar. A definição que faço em uma palavra é extremo. Mas também cansativo, mais do que no físico é no psicológico”, comentou Brun.

A perna – Lucas comentou sobre a atuação da equipe dos jovens talentos na perna mais difícil da Volvo. “Largamos com ventos bons, de 15 a 20 nós. Saímos mais ao norte do resto e permanecemos assim durante dias. Ficamos com os Piratas e o Ericsson no visual um dia inteiro. Ás vezes na frente, outras atrás deles”, contou.

“Mais para frente, uma zona de baixa pressão ia atravessar nosso caminho e tivemos que tomar a decisão de passar pelo norte ou o sul dela. Foi um momento de pânico de navegação, como chamamos. Aquela escolha iria decidir a perna. Resolvemos seguir pelo norte, ao contrário da maioria. Foi um erro, mas nós fomos atrás e conseguimos nos recuperar”, lembrou o velejador.

Na entrada da baía, o brasileiro usou seus conhecimentos para auxiliar a aproximação. “Usei as dicas que meu pai deu e o que eu sei para a aproximação do Rio de Janeiro. Tivemos o mesmo problema do Brasil 1, de rasgar a vela, mas conseguimos consertar em uma hora. Foi aí que passamos eles”, disse.

A passagem pelo Cabo Horn foi o momento mais emocionante da carreira do velejador, segundo ele, mas também o mais difícil. O ABN Amro 2 pegou uma tempestade com ventos fortes e ondas de seis a oito metros. “O balão teve tanta pressão que literalmente explodiu. Isso em menos de uma hora do meu turno. Esse com certeza foi o turno do terror”, lembrou.

O velejador contou que passou seis dias com água até a cintura no convés do ABN Amro 2, usando as roupas de sobrevivência, que são impermeáveis. Segundo ele, os mares do sul representam um lugar único na terra.

“A umidade é muito alta, o vento é muito forte e as ondas são muito grandes. Ter 30 nós aqui na baía é completamente diferente. Tudo é cinza, não se vê o sol nem a lua. Nunca. Não vê mais vida albatrozes, baleias, nada. Além disso, se quebra muita coisa passando por lá”, contou.

Ele também comentou sobre os acidentes na prova. “Só para dar dois exemplos, um dos nossos tripulantes quebrou a mão quando se chocou com o barco, jogado pela força de uma onda. Eu mesmo, quando estava tirando umas fotos, fui carregado por uma onda e caí cinco metros depois. Tive que passar o resto da perna tomando analgésico para poder trabalhar. Outro caiu e deslocou o ombro”, revelou.

Dia-a-dia – Lucas aproveitou para matar a curiosidade sobre temas corriqueiros para quem está em terra, mas mudam completamente em uma prova como essa. “Nossa comida é congelada, depois tira-se 99% da água dela. Tudo para aliviar o espaço e o peso. Esse tipo de refeição, para seis pessoas, pesa 200 gramas no barco”, contou.

“A melhor hora do dia é a entrega do chocolate. Uma barrinha pequena que a gente fica duas horas comendo, só pra apreciar e aquele momento não passar depressa”, disse Lucas. “Com esse tipo de vida, não há machucado, gripe ou dor de cabeça que cure a bordo. Cada um tem que agüentar os seus problemas.”

“Em alguns momentos ficamos entediados, mas tem que pensar em alguma coisa para manter a sanidade”, revelou Brun. Um dos piores trabalhos a bordo é um consenso entre todos os velejadores da Volvo. “Temos 500 quilos de coisas móveis dentro do veleiro. Cada vez que o vento muda, precisamos trocar essa bagagem de lugar. Tem uma vela, por exemplo, que precisa de cinco pessoas pra mover. Isso tudo com o barco balançando, em alta velocidade, subindo e descendo onda”, contou.

O brasileiro está concentrado no próximo compromisso da equipe, a in-port race do Rio de Janeiro, que acontece no próximo dia 25. Mais uma vez ele aposta no seu conhecimento da área para ajudar na tática e na navegação no dia da disputa.

Porém uma certeza ele já tem. A Baía de Guanabara é imprevisível. “Não dá pra saber o que esperar da in-port race. Não adiante previsão de tempo, porque a Baía de Guanabara tem um sistema isolado. Não depende do que acontece lá fora. Vai depender mesmo de como foi o dia anterior e como estará no dia da prova”, adiantou Lucas.

Para ele, o fato dos dois barcos estarem na primeira colocação da regata tem dois motivos claros. “Acho que uma das nossas diferenças para as outras equipes é a integração com a equipe de terra. Assim que chegamos temos várias reuniões com eles para passar tudo o que aconteceu, onde precisa mexer, o que precisa melhorar. Se quebrou algo, fomos nós que quebramos, então sabemos o que tem que fazer”, disse.

“Outra é a parte de desenvolvimento dos barcos. O ABN Amro 1 já é um veleiro de segunda geração, feito com base em todas as melhorias que poderiam ser aplicadas no ABN Amro 2, o primeiro barco a ser construído”, concluiu.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa