Eliseu acredita que a internet não acabará com o Mountain Voices (foto: Divulgação)
Já são 20 anos divulgando o montanhismo no Brasil. Nascida entre os meses de setembro e outubro de 1990, a publicação impressa Mountain Voices é considerada hoje uma das maiores formas de expressão e informação do esporte de aventura, com uma tiragem de dez mil exemplares, 500% a mais do que em sua primeira edição.
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Esse produto de sucesso, no entanto, só alcançou o patamar em que se encontra hoje graças a vontade de um escalador comprometido o montanhismo, que em 1990 resolveu encarar um novo desafio quando percebeu que o esporte precisava de uma ajuda para se expandir: Eliseu Frechou.
Na época, eu havia me mudado de São Paulo para São Bento do Sapucaí e, se em São Paulo já não rolava tanta informação quanto no Rio de Janeiro e no Paraná, aqui no meio da serra da Mantiqueira estávamos ilhados. Meu pai era publicitário na época e na mudança eu havia trazido uma parte do estúdio de arte dele para cá. Como desde criança eu aprendera a fazer past-up (antiga forma de diagramação), foi natural querer publicar algo. O fato de estar longe dos centros também foi bom, pois estava mais perto das montanhas e da essência da matéria que queria abordar, contou Frechou.
Cercado por um mercado que, na época, ainda era pouco visado pela população em geral, Eliseu conta que precisou batalhar muito para que se tornasse viável a publicação do jornal, principalmente por saber que não teria espaço caso cobrasse pelo mesmo. Segundo ele, o apoio de colaboradores foi essencial para que o Mountain Voices conseguisse se firmar.
O jornal vingou por dois motivos: sempre foi imparcial nas opiniões e sempre foi gratuito, a não ser que a pessoa quisesse assinar. Uma rede de colaboradores e contatos que se aprimorou com o passar dos anos também foi essencial e é hoje um patrimônio que o Mountain Voices tem e que o mantém vivo em todas as partes do Brasil onde há montanhistas ou escaladores, disse.
Objetivo alcançado – Durante os vinte anos de existência, o Mountain Voices passou por diversas reformulações gráficas e mudanças para que a qualidade fosse o grande atrativo na busca por expansão. De acordo com Eliseu, seu grande objetivo foi alcançado, principalmente por formar um jornal plural e com a linguagem que os montanhistas esperam.
Com o passar dos anos, o MV se tornou referência. As pessoas sabem que vão escrever e serem lidas. O que se escreve hoje como uma narrativa de uma conquista, de uma ascensão ou de um fato qualquer que aconteceu no montanhismo, será um documento amanhã, afirmou. Houveram muitas matérias excepcionais, escritas por nomes respeitados no nosso meio. Então seria injusto citar que fossem dez, pois a pluralidade que sempre imperou nas páginas do Mountain Voices permitiu que tivéssemos o privilégio de ter matérias excelentes, completou.
Uma das grandes questões na mídia atual é se, com o crescimento das tecnologias de informação digitais, os jornais impressos irão desaparecer. Para Eliseu, essa dúvida da imprensa não cabe ao Mountain Voices. Isso porque, segundo ele, uma vez que as notícias estão em uma folha de papel, o documento continua como um patrimônio do esporte.
A palavra escrita e impressa tem uma força enorme, muito maior que as que flutuam no ciberespaço. A internet tem sua importância por conta da rapidez e baixo custo, mas ainda é algo que não é palpável como as folhas de um jornal ou de uma revista. Sites, blogs e portais existem enquanto seus donos assim o querem e há dinheiro para mantê-los. Uma página uma vez escrita perdura séculos. Esta é a diferença primordial, a essência do MV, e é nisso que acredito e me mantém motivado para manter um registro histórico de nosso esporte, explicou.
Confiante sobre a continuidade do projeto, Frechou espera expandi-lo ainda mais. Após 20 anos comandando o Mountain Voices, o escalador vê seu objetivo inicial como um passado, trançando novos caminhos para a publicação por meio do interesse de cada montanhista que confia em suas matérias.
Há muito tempo o Mountain Voices transcendeu de um projeto particular para um patrimônio nacional. O MV faz parte da história e do cotidiano dos montanhistas. São os montanhistas e o mercado de montanha que devem chamar para si a responsabilidade de mantê-lo vivo, pois só com meios de comunicação abertos é que nossa comunidade existirá e terá uma memória para balizar seu futuro. E isso, nossos colaboradores, assinantes, anunciantes e leitores já entenderam há anos, finalizou.
Este texto foi escrito por: Caio Martins