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Mal de altitude tem remédio?


Aproveite o visual ao seu redor: não tenha pressa; na foto Helena e o marido Paulo na caminhada ao Cho Oyo no Nepal. (foto: Arquivo pessoal)

As montanhas sempre representaram um grande atrativo na história da humanidade, mesmo quando permaneceram muito tempo inacessíveis. Para chegar ao topo das mais altas, os aventureiros tiveram de aprender também a conviver com altitudes diferentes e seus efeitos no organismo humano.

Tiveram de encontrar explicações para diferentes reações nos seus organismos, à medida em que iam ganhando mais altitude: lentidão de movimentos, dores de cabeça, dificuldades com o sono, perda de apetite, tonturas, enjôos, dificuldade respiratória, tosse e outros sintomas menos freqüentes; além de descobrir como evitar os riscos de edemas de pulmão, cerebrais e congelamento de extremidades.

É bastante comum as pessoas nos perguntarem como preparar-se para, por exemplo, fazer alguma das belíssimas caminhadas na Cordilheira dos Andes e não ter problemas com a altitude; se a questão dos efeitos da altitude no organismo humano se resolve com um bom preparo físico ou se haverá necessidade de desenvolver alguma técnica específica para superar esses efeitos.

Boa forma basta? – Claro que um adequado preparo físico é importante para qualquer caminhada ou escalada, mas, em se tratando de altitude, este não será o fator que evitará problemas na aclimatação.

Escalando no Himalaia, temos visto situações de vários tipos: desde maratonistas com excelente preparo físico tendo grandes dificuldades para aclimatação até alpinistas tarimbados que acabam se rendendo aos efeitos do ar rarefeito por se cansarem demais carregando muita carga ou montando cordas fixas ou em algum trabalho extenuante de preparar acampamentos.

Conversando com o médico de uma expedição no campo base avançado do Everest, ele nos disse que dormir, sem utilizar cilindros de oxigênio, a 8.300 m de altitude, é muito arriscado; porém, também em termos de literatura, não se deveria passar tempos prolongados a 6400m, porque aí já é considerada uma altitude onde não se recupera mais nada no organismo.

Saber ouvir o corpo – No entanto, os integrantes da expedição da qual ele fazia parte, e ele próprio, já estavam ali há mais de três semanas. E nós mesmos acabamos dormindo duas noites sem utilizar qualquer oxigênio suplementar, no acampamento de 8.300 m de altitude. Como estávamos em dois, observamos constantemente a reação um do outro; e, na segunda noite, quando íamos novamente iniciar o ataque ao cume, percebemos que não seria possível, que estávamos mais cansados do que no dia anterior. O remédio foi, sem dúvida, descer mais uma vez sem ter atingido o cume. E sem perder nenhum dedo, sem desenvolver edemas, completamente lúcidos. Quer dizer, os amigos dizem que mais ou menos lúcidos…

Na verdade, o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação, mesmo às situações mais difíceis. E, em situações de altitude, deve-se estar atento para o caso de desencadear algo mais sério que possa colocar sua saúde em risco desnecessário.

Os sintomas de mal de altitude podem aparecer imediatamente enquanto caminha na subida, ou mesmo até 12 horas após e, dependendo do conjunto de sintomas, a pessoa pode apenas tomar uma aspirina e ter resolvido o problema; ou precisa adiar a subida e descansar enquanto se recupera; ou mesmo ter de iniciar rapidamente a descida.

O melhor é, sempre que apresentar esses sintomas, iniciar a descida para altitude mais baixa; esta atitude é de longe o melhor remédio. Não quer dizer que você terá de abandonar a sua caminhada ou escalada, apenas que você irá demorar um pouco mais para retomar o trajeto de subida. Isto, é claro, se você não desenvolveu nenhum edema pulmonar ou cerebral.

Como a aclimatação é um processo individual, que não depende de quanto preparado físicamente uma pessoa está, deve-se apenas observar os sintomas que se apresentarem, estando atento para o caso de ser necessária a descida.

Não se apresse – Esses sintomas podem aparecer nas pessoas após altitudes superiores a 3.500 m, ou, em alguns casos pouco freqüentes, em altitudes menores que isso. E, por isso, um adequado processo de aclimatação, em que se sobe gradualmente, ou se faz um vai-vém, onde você se expõe a altitudes superiores, observando suas reações, de forma cautelosa, sem pressa.

Não tenha pressa. Vá mais devagar, aprecie a vegetação, o horizonte, o céu, o pôr-do-sol. Deixe de lado, pelo menos nesta subida, aquele estresse de estar sempre correndo, sem tempo para ver o que acontece ao seu redor. E aproveite muito bem sua caminhada ou escalada na montanha!

Este texto foi escrito por: Helena Coelho