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Mateus Ferraz conta como está se preparando para a Brasil Ride, prova que vai correr com a alemã Ivonne Kraft


A paisagem da Chapada Diamantina (foto: Divulgação)

Mateus Ferraz Gil, 31 anos, conhecido pelos excelentes resultados nas corridas de aventura, ultimamente anda pedalando e muito em sua mountain bike. Ele está em plena preparação para a próximo Brasil Ride, ultramaratona que acontece entre 23 e 29 de outubro, na Chapada Diamantina (BA).

E o atleta vai dar trabalho: depois de correr a prova sem pretensões em 2010, este ano ele fará dupla com ninguém menos que a alemã Ivonne Kraft, campeão da última edição, ao lado da portuguesa Celina Carpinteiro. Mas quem conhece Mateus, sabe que quem tirou a sorte grande foi a gringa: a força física do brasuca é proporcional ao seu estilo gente boa de ser.

A seguir, o piracicabano radicado na capital de São Paulo conta ao Webventure como surgiu a superdupla, fala dos treinos (andar no vácuo de uma moto é um deles), das expectativas de pedalar 585 quilômetros sob o desértico calor da Chapada e da relação com a sua namorada-treinadora, Adriana Nascimento, atleta que também estará na Brasil Ride.

O convite para a prova
“Quando corri em 2010, já sabia que não iria brigar pelo resultado, por causa do histórico da minha dupla, que não era biker profissional. Como ela teve de abandonar a prova no terceiro dia, por causa de problemas intestinais, eu acabei pedalando sozinho nos últimos três dias, conseguindo chegar entre os cinco primeiros na geral. Daí o Mário Roma (organizador do Brasil Ride) enxergou o meu potencial e me chamou para correr este ano em sua equipe Brasil Soul MTB Team. E como ele queria uma mulher forte para a minha dupla, falou com a Ivonne, que topou. Agora estou aqui, para brigar pelo resultado.”

A parceira alemã
“Nunca pedalamos juntos. Não sei como será o entrosamento. Tenho um histórico de mountain bike e, como fiz a prova no ano passado, sei o que iremos enfrentar. Até hoje, a minha especialidade foram as provas longas, inclusive nas corridas de aventura. Estou fazendo o possível para chegar lá e não desapontar a Ivonne, Também não sei o que ela está esperando de mim, mas é a realização de um sonho correr com uma atleta de ponta. Estou com frio na barriga. Temos chances de andar entre os primeiros, pelo histórico dela. E, normalmente, as duplas mistas dependem muito da mulher. O homem tem o papel de protegê-la. Como sou atleta de corrida de aventura, estou acostumado com o trabalho de equipe não adianta um estar mais forte que o outro, se os dois têm de andar e chegar juntos. Acho que formaremos uma grande dupla.”

Prós e contras de pedalar em dupla
“A desvantagem é ter de administrar justamente a questão de ser uma dupla, entendendo que tem de trabalhar junto. Há momentos em que um está mais forte que o outro. As grandes duplas geralmente têm seus objetivos muito bem acertados. Já a vantagem é que você sempre terá um parceiro para te ajudar. Pedalar sozinho é arriscado nesses lugares inóspitos, com poucas pessoas. Em dupla, você tem mais segurança, caso sofra um acidente ou se machuque. E quando a dupla é mista, o homem ajuda mais a mulher. Ele vai na frente, para deixá-la no vácuo.”

Treinos
“Como já tenho base de endurance, estou focando na bike e evitando correr. A Adriana Nascimento (treinadora e atleta da Brasil Soul), montou meus treinos, que mesclam pedal em estrada com longos de mountain bike, mais funcional. O funcional substitui a academia parte dos atletas da elite mundial está fazendo esta troca, pois o velho trabalho na academia é engessado. Em alguns dias faço bike e funcional, em outros chego a ficar cinco, seis horas em cima da bike. Sempre que possível, treino em Campos do Jordão (SP) e na Serra do Japi (Jundiaí/SP). E durante a semana na USP, em São Paulo. De vez em quando, também no Velódromo de Caieiras (SP). Nestes dois lugares ainda faço um treino específico no vácuo da moto, para ganhar ritmo (vou a 40 ou 50 quilômetros por hora).”

Dieta pré-competição
“Não sou de fazer dieta especial para a prova. Mas, tento segurar um pouco a onda, para não engordar. Se deixar, comemos de tudo por causa desses treinos pesados. Eu procuro comer mais frutas e evitar a “porcariada” ou coisas gordurosas. Mas nunca fui bitolado e não tenho o acompanhamento de um nutricionista.”

Desafios da edição 2011
“Parece que não irá chover, que foi o maior problema em 2010. Mas daí terá o calor, que judia mais do atleta do que da bike. Já no ano passado, com as chuvas, as bikes sofreram mais. Outro problema são as queimaduras do sol: um segredo é deixar a pele coberta e protegida com roupa branca e leve, para evitar as queimaduras a não baixar a resistência do corpo. E quem não comer e ou se hidratar direito, pode ter de abandonar a competição.”

Os adversários
“Haverá mais em relação a 2010. Tem diversas duplas boas: duas italianas e uma norte-americana, que ganhou no ano passado (Jennifer Smith e Brian Smith). Ano passado, consegui andar com eles no quarto e no quinto dia.”

Estratégias
“Você tem de encontrar um equilíbrio entre não arriscar muito não quebrar a bike ou levar um tombo e não ser tão cauteloso a ponto de andar devagar. Se acontece alguma coisa com a bike em uma prova longa como essa, você já era. É preciso balancear esses dois lados.”

Percurso casca
“O terreno da Chapada Diamantina é um misto de areia com pedra e trechos com tocos, raízes de árvores e rios para atravessar. Em algumas partes, temos de empurrar a bike, porque não tem como subir pedalando. Ou ainda carregá-la, para atravessar a água. Eu prefiro os trechos técnicos anda mais quem tem mais domínio das técnicas.”

Um olho no adversário e outro no visual
“Dá para curtir um pouco a paisagem, mas não quando há uma disputa violenta. Nos momentos em que andamos em pelotão, é preciso ter atenção redobrada para que uma roda não toque na outra. Esse tipo de formação, em grupo, acontece com mais frequência no começo da prova, e é sempre mais estressante. Depois, os pelotões acabam sendo fracionados e, então, conseguimos apreciar o visual.”

Dieta durante a prova
“É muito importante nesse tipo de prova regrar a alimentação e hidratação desde o início, para não comprometer tudo. Tem dias que são sete ou oito horas pedalando. Para aguentar, tomamos um café da manhã reforçado e levamos lanches, como pão com queijo. Como o período é longo, não dá para aguentar apenas com gel energético. Já levei até pão com ovo mexido. É bom ter sal, porque perdemos muito com o suor. A organização também dá Coca-Cola, água, gel e barras de cereal e de proteína. A cada meia-hora comemos uma barra de cereal, uma fruta ou gel e tomamos isotônico não adianta apenas água, pois perdemos muitos sais minerais. Como o lanche mais ou menos na metade do percurso.”

Qual será o dia decisivo?
“O segundo dia é determinante. Ano passado, foi nele que os campeões da prova assumiram a ponta. Acho importante então abrir neste dia, que será longo e terá um trecho de singletrack bem técnico.”

Namorada e treinadora
“Eu já pedalava quando conheci a Adriana. Sempre fomos amigos até há pouco tempo, antes de começarmos a namorar. Eu consigo separar a parte pessoal da equipe, e acho que este é o segredo. Mas realmente, depois que comecei a namorá-la, passei a pedalar melhor, principalmente em relação à parte técnica. Ela sempre me ajuda bastante com os treinamentos específicos.”

Este texto foi escrito por: Amanda Nero