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Mau tempo foi o principal desafio


Subida do flanco Lhotse. (foto: Arquivo O Brasil no Topo do Mundo)

Sem desafios, não tem graça. O pensamento unânime de quem encara a alta montanha também atuou na expedição dos brasileiros Waldemar Niclevicz, Irivan Burda, Marcelo Santos, Alir Welner (Mute) e Paulo Souza (Máfia), personificado pelo mau tempo e adversidades comuns da alta montanha. Além disso, passaram um susto com a quebra de uma placa de gelo. Esses fatores, segundo Niclevicz, impediram que eles atingissem o objetivo principal, que era o cume do Everest. O segundo, o cume do Lhotse, foi realizado em 5 de outubro, num dia de trégua da natureza.

“Muita gente pode questionar porque fomos para o Everest no outono. É porque é a melhor época para o Lhotse, uma montanha que eu tinha muita vontade de escalar”, conta o alpinista. Na época em que os brasileiros chegaram ao Nepal, chuvas castigavam a região. “Sabia que estávamos em pleno monção, mas a nossa caminhada para o base foi mais seca do que a minha em 1991 (quando Niclevicz esteve no Everest pelo lado do Nepal; dois anos mais tarde, com Mozart Catão, chegaria ao cume da montanha pelo lado do Tibet)”. Ele diz que todas as manhãs na montanha foram ensolaradas, “só chovia à tarde”.

Progressão mais lenta – A progressão do grupo no Everest foi mais lenta, no início. “Demoramos mais porque os sherpas que montam a estrutura para a travessia da Cascata de Gelo, para cujo serviço se cobra um pedágio dos escaladores, não tinham chegado ao local quando o alcançamos. Resolvemos até ajudá-los carregando corda e outros equipamentos para acelerar o processo”, conta.

Dois dos alpinistas Máfia ficou coordenando o base tiveram problemas de aclimatação. “Todos estavam muito bem até o ataque ao cume do Everest. A 7.400m, o Bonga começou a sentir formigamento nas mãos e nos pés, que são sinais de princípio de congelamento. Era meio cedo para isso… Aconselhamos que ele usasse oxigênio, mas ele ficou um pouco incomodado com a máscara. Resolveu por vontade própria descer. Desceu chorando, todos nós ficamos muito tristes”, descreve Niclevicz. “A 7.500m, o Mute sentiu falta de ar e dor no estômago. Ele passou a noite com a gente no acampamento e no dia seguinte optou por não ir para o cume.”

No dia desta tentativa de cume, Niclevicz conta que ventava muito. “Uns 50km/h, vento de lado, levantando cristais de gelo. Mas o céu estava estrelado. Estávamos nós e os coreanos seguindo por umas cordas fixas velhas, que desapareciam em alguns trechos. Havia muitas placas de neve. Nossos sherpas diziam que não se sentiam bem e queriam descer. Enquanto decidiam se desciam ou não, chegamos a uma parte mais inclinada, onde não tinha mais corda.”

“Ali o sherpa dos coreanos fixou corda, desceu rapelando e me chamou para subir. Era uma placa de gelo. Eu subi e a placa começou a rachar na minha frente, uns 15 metros. Pulei a rachadura, cravando o piolet à frente e, logo depois, a parte de baixo da placa rolou para baixo. Os coreanos e seus sherpas estavam presos em outra corda. Um dos nossos sherpas e o Irivan estavam soltos e foram levados por uns 150 metros”, descreve Niclevicz.

“Na hora foi o maior susto, desescalei e vi lá embaixo uma luzinha. Cheguei até eles e o Irivan estava se levantando, sacudindo a neve. O sherpa chorava, dizia que não queria morrer. Não tinha mais clima: voltamos.”

Trégua – No acampamento, segundo o alpinista, passaram a usar oxigênio. Ainda achavam que seria possível tentar o Everest, mas não sem usar ar suplementar. No dia seguinte, o vento continuou forte e Niclevicz e Irivan desistiram do Everest para tentar o cume do Lhotse. “A caminho, o vento parou de repente, olhei e vi que não tinha uma nuvem sobre o cume do Everest…”, lembra o primeiro, expressando pena. De qualquer forma, seguiram para o Lhotse. Com esta trégua da natureza, alcançaram o topo de uma montanha pouco conhecida no país.

“É um cume pequeno, menor que o da Agulha do Diabo, na Serra dos Órgãos (RJ). Cabe uma pessoa em pé e duas sentadas. Mas é o cume mais bonito de 8 mil que já fiz até hoje.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira