Bicampeão da Copa Internacional de MTB e prata nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em 2003, Edivando Souza Cruz comenta com exclusividade para o Webventure a prova de mountain bike dos Jogos Olímpicos de Pequim.
No feminino, pela característica do circuito, se definiu muito rápido. No início da competição, a alemã Sabine Spitz abriu vantagem. Esse tipo de fuga que ela fez acontece por causa do tipo de pista, já que os pilotos que vem atrás não têm como trabalhar junto. É difícil fazer um trabalho de equipe e os atletas se ajudarem. As subidas eram muito fortes e as descidas técnicas. Não tinha muito trecho plano.
A Jaqueline largou da metade para trás do pelotão. As atletas estão acostumadas a competir em Copas do Mundo e tem um ritmo forte, principalmente na largada. Ali ela já perdeu um pouco de contato. A Jaque tem a característica de recuperação e um histórico de crescer durante a prova.
Para largar um pouco mais para frente, precisava ter participado de mais etapas da Copa do Mundo e somado mais pontos no ranking da UCI, o que não foi o caso da Jaque, que teve que se dedicar exclusivamente à seletiva olímpica no Brasil. Não tinha como fazer as duas coisas.
Mesmo assim, a competição dela foi muito boa. Mesmo tenho problemas na segunda volta, ela conseguiu recuperar várias posições e conquistou um bom resultado.
Prova masculina – Demorou um pouco mais para quebrar o pelotão devido ao alto nível dos atletas. Na segunda volta, o francês Julien Absalon decidiu partir para a fuga. Logo já pensei que ele estava muito confiante nele mesmo. Mesmo na prova feminina, já deu para ver que foi muito dura. A Sabine Spitz chegou bem cansada por causa das muitas subidas e até mesmo por causa do calor, que desgasta bastante.
Mas o Absalon estava muito confiante e muito determinado no que estava fazendo. Ele sabia que estava bem. Um pessoal veio atrás, mas era difícil de chegar nele. Aos poucos foram se separando e ele veio até o final. Nas últimas voltas deu para ver que ele estava sofrendo bastante, mas isso é comum. É muito difícil o atleta chegar inteiro. Os atletas de ponta acostumam a sofrer bastante. Nas competições internacionais que participei, observei que eles conseguem se concentrar de tal forma para andar no limite durante um bom tempo. E isso é o mais difícil no mountain bike.
Quando se trata de uma competição olímpica, os competidores fazem uma preparação especifica para isso. A cabeça é treinada, tem uns que tem mais pressão, outros menos. Acho que a parte psicológica conta muito em uma prova como essa. E, às vezes, temos surpresas com atletas que conseguem surpreender.
O resultado do Rubinho foi excelente e ele manteve o nível que chegou. Competimos algumas provas internacionais nos últimos anos e temos os mesmos conhecimentos desses atletas. Não temos o ritmo deles, mas sabia que o Rubinho poderia surpreender um pouco mais. Ele largou bem, esteve entre os 20 primeiros. Ele conseguiu se manter nesse bloco e a maior dificuldade veio do meio para o final de competição. Os atletas que competem nas etapas da Copa do Mundo há anos, já estão acostumados a manter esse ritmo de competição. E nós acabamos perdendo um pouco nessa parte. Sofremos mais no final da competição. Digo isso pelo nosso histórico brasileiro, por faltar competir provas fora.
O nível do mountain bike nacional cresceu bastante, mesmo sem ter contato com o MTB europeu, acabamos crescendo entre si e chegamos lá fora um pouco mais forte. Mas para melhorar precisamos competir as etapas da Copa do Mundo. O Brasil precisa investir mais nisso. Qualidade o Brasil já mostrou que tem, a exemplo do Rubinho.
Eles se estudam direto. Nós aqui também sabemos avaliar nossos concorrentes e prever alguma coisa. Quando vamos para fora, não conseguimos fazer isso.
O Rubinho está de parabéns. Ele mostrou novamente a força do mountain bike brasileiro. Acho que é um grande resultado, dentro de nossas condições e ainda podemos chegar mais longe.
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Este texto foi escrito por: Edivando Souza Cruz, especial para o Webventure
Last modified: agosto 23, 2008