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Medicina a bordo: questão de sobrevivência

Redação Webventure/ Vela

O vento passava assobiando enquanto o barco da Volvo Ocean Race enfrentava um mar violento na primeira perna. A combinação desse vento a 70 nós (130 km/h) com as ondas de 8 metros de altura sacudia o barco e o fazia subir e despencar no vazio como em uma montanha russa.

Um dos tripulantes, mesmo usando o colete de segurança, que tem a função de mantê-lo preso ao barco, foi jogado por uma onda pelo cockpit.

Sua cabeça bateu em um objeto afiado e o couro cabeludo abriu. Sangue para toda parte, tanto sangue que estava difícil de achar até mesmo o ferimento. Esta é a hora que o medico de bordo entra em ação.

Essa história que vocês acabam de ler não é uma ficção, é uma situação real que pode acontecer com os tripulantes em uma regata de oceano. Basta perguntar a Justin Slattery o proeiro do ABN AMRO I. Sua experiência mais cabeluda, como médico de bordo, foi ter que suturar o tripulante ferido durante a edição de 2001/2002 da Volvo Ocean race.

“Já tinha lidado com muitos cortes antes, eles normalmente são fáceis” comentou, Não desta vez, porém. “O barco é uma plataforma em constante movimento e eu tinha que dar pelo menos 5 pontos na cabeça do companheiro. Para conseguir isso duas pessoas o seguravam e duas seguravam a mim” Cinco pessoas para dar 5 pontos na cabeça de um tripulante só.

A função de um medico de bordo em uma regata é a de tratar ferimentos leves e, se necessário, estabilizar o paciente até que ajuda médica chegue. Justin explicou que “costelas quebradas, cortes e contusões são muito comuns.”

Recentemente ele quebrou as costelas enquanto treinava a bordo do ABN AMRO. Quando o barco passou por uma zona meio agitada “fui jogado uns 3 metros para trás. Estávamos velejando forte e a movimentação estava bem difícil naquele momento”

O que faz então um experiente medico de bordo como Justin ter as costelas quebradas? “Normalmente é o impacto das ondas que joga você contra diversos objetos sólidos com força total” Nem mesmo o mais bem preparado dos tripulantes não pode evitar as contusões. “Há muito pouco a fazer a não ser tentar e ficar fora do perigo”

Helicópteros voam apenas a distâncias limitadas da costa no caso de terem que intervir para resgatar um tripulante. Normalmente os barcos estão bem longe do alcance dos helicópteros. Por isso tem que sair de sua trajetória e se aproximar da costa para conseguir ajuda. Na realidade podem ser 24, 48 horas e até mesmo dias até que uma ajuda possa alcançar o barco. Nesse tempo um tripulante pode até morrer se não for tratado de maneira correta.

Acidentes podem acontecer em alto mar. Levar o barco até o seu limite é sinônimo de risco elevado para os tripulantes. O consolo está em saber que existem médicos experientes e tranqüilos como Justin. Ele será um dos médicos a bordo ao lado de Jan Dekker.

O tempo gasto na recuperação de acidentes, no tratamento de feridas ou no concerto do barco é tempo também perdido na regata. Por isso todas as precauções são tomadas para minimizar o risco.

Justin e Jan fizeram treinamentos de primeiros socorros para velejadores. É bom saber também que além deles Mike Sanderson, Mark Christensen e Sidney Gavignet já foram médicos de bordo em outras regatas.

Mike Sanderson disse que “a Volvo Ocean Race exige que façamos um extenso treinamento medico. Eles precisam ter experiência em procedimentos até como um traqueotomia de emergência. Precisa também de uma dose muito alta de confiança para colocar um tubo na traquéia de alguém.”

Mas costelas quebradas, mãos feridas e traqueotomias não são nem a metade da história. Os médicos de bordo, disse Mike, “terão que cuidar de pessoas que eventualmente tenham sofrido traumatismos severos na cabaça ou no pescoço, que tenham pulmões danificados, ossos quebrados ou que tenham que colocar drenos” Em resumo, “os rapazes são capazes de fazer muita coisa.”

Justin explicou que “é preciso decifrar qual é o problema e diagnosticar se deve ou não procurar assistência de terra.” A bordo dos ABN AMRO I e II a equipe médica de emergência de terra pode ser contatada 24 horas por dia. A linha de frente da ajuda, porém, tem que ser de bordo mesmo.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: abril 17, 2005

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