Salto faz joelho ficar em constante desaceleração (foto: Divulgação/ Stock Photos)
O joelho é uma articulação que trabalha próximo a seus limites fisiológicos. Qualquer sobrecarga mecânica, tanto por um treino esportivo, quanto pelo trabalho ou atividades do dia-a-dia, podem desencadear quadro de dor e inchaço, às vezes de difícil controle.
Para entender por que o joelho dói, é necessário ter em mente o conceito do “aparelho extensor”, que se compõe da patela, da massa muscular anterior da coxa, um forte músculo chamado quadríceps e dos tendões quadricipital e patelar. Como o próprio nome diz, a função deste conjunto e a de estender o joelho, movimento necessário para, por exemplo, chutar uma bola.
Nas atividades da vida diária e nos esportes, a principal função do aparelho extensor, por incrível que pareça não é a estender o joelho, mas sim de desacelerá-lo, absorvendo energia cinética. Isso e feito por um mecanismo denominado contração excêntrica, na qual o músculo contraído alonga-se contra resistência.
Nos esportes de aventura, diferente de outras modalidades, o que conta é a extrema irregularidade do terreno, com aclives e declives acentuados, exigindo ângulos extremos de flexão do joelho nas subidas e grande capacidade de absorção de energia, frenando e desacelerando o corpo nas descidas. No trekking, por exemplo, a reação articular cíclica sob os mais diversos ângulos e força muscular são os fatores que levam a lesão não só de uma, mas de várias estruturas do joelho.
Mas afinal, por que ocorre a lesão? – Tendo-se em mente o conceito de aparelho extensor e que sua principal função é a de absorver energia cinética gerada pela reação do corpo ao solo, entende-se que, se todas estas estruturas funcionam bem e estão integras, tudo vai bem. Porem, havendo predisposição individual, fraqueza e desequilíbrio muscular, somado a sobrecarga mecânica do esporte ou excesso de escadas ou salto alto, a energia que seria dissipada pela massa músculo-tendínea passa para a articulação, desencadeando lesão. Quando atinge o tendão patelar, por exemplo, temos a tendinite patelar, mas quando atinge a cartilagem de contato entre a patela e o fêmur, poderemos ter a condromalacia.
A palavra provém da aglutinação dos radicais chondros, cartilagem e malacea, amolecimento, traduzindo portanto um “amolecimento da cartilagem” da patela. A lesão é, portanto um amolecimento desta cartilagem, que pode evoluir para sua total destruição.
Sabe-se, desde a época de Hipócrates que a cartilagem articular lesada de potencial de cicatrização muito limitado. Isso se deve às propriedades histológicas do tecido cartilaginoso que, ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, possui pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (avascularidade), é aneural, ou seja, não possui terminações nervosas e é riquíssimo em água. Consequentemente, uma vez lesada, a reação inflamatória é muito pequena e a possibilidade de reparo, quase nula.
Dr Adriano Leonardi é médico ortopedista especialista em artroscopia, cirurgia do joelho e traumatologia do esporte. Membro da Wilderness Medical Society e mestrando em ortopedia e traumatologia pela Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo. É idealizador da equipe Taktos de Medicina esportiva e de aventura além de praticante entusiasta de esportes de aventura.
Errado! Trabalhos científicos recentes têm demonstrado que muitas pessoas cujos joelhos apresentam imagem de condromalacea, às vezes já em estágios avançados presentes na ressonância magnética não tem necessariamente dor. Em outras palavras, a condromalacea pode, muitas vezes ser apenas um achado de exame e a dor, decorrente de inflamação de outros tecidos. Por este motivo, preferimos abordar o assunto como sobrecarga femuropatelar.
Em tese, qualquer pessoa pode vir a desenvolver esta condição, mas estudos recentes têm demonstrado que algumas características individuais do aparelho locomotor de cada pessoas pode predispor ao desenvolvimento da lesão. Isso incluiria pisada muito pronada ou supinada, joelhos em x ou arqueados, angulação e rotação anormais entre os ossos do quadril, diferença de comprimento dos membros e, principalmente enfraquecimento e encurtamento de grupos musculares, gerando desequilíbrio entre músculos agonistas e antagonistas.
Algumas profissões e atividades esportivas estão mais sujeitas à lesão. Dirigir muito, muito tempo sentado com joelhos flexionados, excesso de escadas são fatores relacionados.
As mulheres parecem estar especialmente em risco de desenvolvê-la. O salto alto, que mantém o joelho em constante desaceleração e um fator importante, mas estudos têm também indicado um funcionamento diferente do joelho masculino.
Tratamento – Assim como para qualquer atividade física, acredito que o indivíduo deve primeiro conhecer seu aparelho locomotor, em seguida melhorar o condicionamento físico e, a seguir iniciar-se no esporte.
Frente a um quadro de sobrecarga femuropatelar com ou sem o amolecimento cartilaginoso, sou, particularmente partidário da reabilitação fisioterápica, seguida pelo trabalho de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Havendo alívio das dores, “entregamos” o paciente de volta ao esporte. Isso, obviamente, sob contato contínuo e harmonioso entre o treinador e profissionais da saúde. Finalmente, em raros casos refratários, realizamos o tratamento cirúrgico através da artroscopia do joelho.
Este texto foi escrito por: Dr. Adriano Leonardi