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Melhor brasileiro nos carros, Palmeirinha diz que tirou um peso ao terminar o Dakar

Redação Webventure/ Offroad

Palmeirinha e o navegador Filipe Palmeiro (foto: Aifa/ RTF)
Palmeirinha e o navegador Filipe Palmeiro (foto: Aifa/ RTF)

O brasileiro Paulo Nobre, o Palmeirinha, terminou o Dakar pela primeira vez. Ele foi o melhor brasileiro nos carros já na sua segunda participação no maior rali do mundo. O brasileiro tem o apoio semi-oficial da equipe BMW e competiu com um modelo X5 preparado, ao lado do navegador português Filipe Palmeiro.

“É um peso que sai das costas depois de completar o primeiro Dakar. Antes era uma cobrança muito grande, por causa da frustração do ano passado”, comenta o piloto, sobre uma quebra que o deixou de fora do Dakar 2006.

Palmeirinha ficou com a 38ª colocação na geral, e acha que poderia ter ido melhor. “Com o passar do tempo deu para ver que dá para andar entre os 20 primeiros o que significa terminar entre os dez. O único problema grave foi a nossa penalização de cinco horas em Portugal”, lamenta o piloto.

Do hotel em Dacar, no Senegal, Paulo Nobre conversou com o Webventure sobre sua participação no maior rali do mundo. Confira a entrevista a seguir.

Webventure – Como está a festa em Dacar ao final do rali?
Paulo Nobre
– As festas são somente fechadas, nas equipes. Na BMW, por exemplo, saímos para jantar, todos juntos. Fiquei decepcionado com a cidade. Imaginava que pudesse ser um lugar turístico, com praias maravilhosas. Mas Dacar é uma cidade muito pobre e muito suja. É aquela África que vemos em filme, quando querem montar aquela África pejorativa, com uma frota de carros super velha. As pessoas vêm penduradas para fora das lotações, o transito é completamente desorganizado. A polícia não organiza nada. Carros andam pela calçada, pela contramão. É terra de ninguém. Na parte dos hotéis, onde estamos, fica um pouco mais limpo. Mas a realidade da cidade não é essa.

Ao fim do Dakar, qual é a sua avaliação?
É um peso que sai das costas depois de completar o primeiro Dakar. Antes era uma cobrança muito grande, por causa da frustração do ano passado. No começo eu queria chegar. Com o passar do tempo deu para ver que dá para andar entre os 20 primeiros o que significa terminar entre os dez na geral. O único problema grave foi a nossa penalização de cinco horas em Portugal. Fizemos a segunda especial em 2h15, mais cinco horas de penalização. Isso acabou com a nossa prova. Algumas pessoas acharam que eu tive algum acidente no segundo dia. Mas na verdade o nosso alternador não estava funcionando. Foi um perrengue para andar sem bateria, tínhamos que carregá-la toda hora. Se tirar seis horas do nosso tempo, estaríamos entre os 20 primeiros. Eu não entendo porque uma especial de 60 quilômetros em Portugal tem penalização de cinco horas e aqui na África o forfete é só de uma hora.

Webventure Os trechos que você já tinha passado em 2006 foram mais fáceis?
No Marrocos haviam algumas especiais que eu já tinha feito, no Rally do Marrocos 2006. É basicamente uma quebradeira impiedosa, não dá para descrever. Tem muita pedra e as valas são grandes e fundas. Judia muito do carro.

E como foram os trechos novos para você?
A Mauritânia que era o grande pesadelo é realmente o que eu imaginava. Tem uma parte de erva de camelo, uma vegetação do deserto que acumula areia. É uma espécie de cupinzeiro, mas de areia, e com cabelo verde (risos). É complicado de andar, pois é muito fácil de atolar. Se pegar de frente com uma erva de camelo arrebenta o carro, e pode até capotar. E se desviar corre o risco de cair na areia fofa.

E as dunas?
As famosas dunas da Mauritânia não são grandes, porém é tão fofa que eu brincava que era areia movediça. Parecia que ela chupava o carro. Vínhamos andando bem e de repente o carro assentava. Aí não adianta nem lutar contra a natureza: tem que descer, colocar as pranchas, sair, e o navegador vem a pé depois. É muito complicado. A gente brincava que tudo na Mauritânia é como o nome, começa com “Mau”.

Vocês atolaram muito?
Um dia antes do descanso a navegação foi muito complicada. Largamos em 18° e teve gente que largou em terceiro, quarto, nos ultrapassando, porque se perderam. No final dessa etapa tinha uma duna que todos atolaram, e conosco não foi diferente. Uma atolada normal, e depois outra que foi uma atolada de piloto inexperiente. Fiz uma manobra nas dunas que não se faz e acabei atolando de um jeito que eu ficaria cavando até hoje para tentar tirar o carro. Tivemos que esperar o nosso caminhão de apoio T4, o que levou quase três horas.

Chegou a contar quantas vezes atolou no rali inteiro?
Atolei no sétimo dia, uma normal e outra absurdamente ruim. No oitavo dia atolei duas vezes também, só que mais normal. Não dá para ter muita leitura de onde passar. É tudo areia e de repente o carro assenta. Foram quatro vezes, mas uma delas foi do tipo que precisamos de uma ajuda externa para tirar. As atoladas que se demora mais de 20 minutos, meia hora para sair são as que não podem fazer parte de uma equipe que queira ser competitiva. Até o Peterhansel atola, mas o problema é a gravidade da atolada.

Vocês baixaram a calibragem dos pneus?
Assim que chegávamos nas dunas, baixávamos a pressão dos pneus para 10 libras. Quando o terreno era firme voltávamos para 35, 40 libras para andar nas pedras. O problema é que havia trechos de areia fofa com pedras. Foi um dos maiores pesadelos que passamos. Não podíamos baixar a pressão para não furar o pneu, mas com pressão alta tínhamos que andar forte, batendo nas pedras, para não atolar.

O rali mudou quando saiu da Mauritânia. Ficou mais fácil?
Ao entrarmos em Mali, na África Negra, foi um aprendizado para mim. Foram etapas mais rápidas, muito sinuosas e passando por árvores, tocos e erosões. Os tempos começaram a ficar muito próximos entre os carros. As diferenças caíram de uma hora entre um carro e outro para poucos minutos. Pensei que poderia tirar alguma diferença por lá, mas quando vi que não ia conseguir eu diminuí o ritmo.

No primeiro dia no Senegal bati de lado em um toco. Quebrou a roda e me comprometeu toda parte hidráulica do carro, como a direção e o macaco. Foi uma especial que eu cheguei a pensar que iríamos ficar pelo meio do caminho. Aprendi que na África Negra é para andar rápido, mas ao tomar riscos de mais se tem muito mais a perder do que a ganhar.

E como foi a chegada em Dacar?
A última etapa, que deveria ser tranqüila, fiquei com uma ansiedade de chegar tão grande que estava mais nervoso que em muitas etapas grandes. A hora de largar custou a chegar, e foram 16 quilômetros de areia fofa, na praia. Muitos atolaram, mas conseguimos até ganhar mais uma posição no geral.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: janeiro 22, 2007

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