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Minha Aventura: A vitória na Expedição Carcará após 4 anos


Direction vence após muito esforço (foto: Divulgação)

Tudo começou na Expedição Carcará de 2008. Naquele ano, a prova não fazia parte do CNA Circuito Nordestino de Aventura e participamos sem uma preparação específica, decidida de última hora.

Apesar disso, fizemos uma boa prova, mas longe do que realmente nossa equipe poderia render. “2009 será nossa!”, comentei com Toinho em tom de brincadeira após abandonarmos a prova já perto do seu no final.

O Pré-prova – Esse ano a Direction está participando apenas do CNA, e a Expedição Carcará é a maior prova do Circuito e de maior pontuação. Precisaríamos de uma preparação especial que iniciou há três meses.

Seriam 55 horas de prova no meio do Seridó, em uma região de Serra onde a noite faz bastante frio e durante o dia o sol é de rachar. O período é o inverno nordestino que esse ano está sendo bastante severo. Esse era o cenário que encontraríamos.

O local escolhido para a largada e chegada foi a cidade de Lagoa Nova. Como sempre faço, li sobre o local e a cidade. A cidade foi fundada por um casal de pernambucanos vindos de Igarassu. Um bom sinal!

Decidimos então chegar no dia anterior à largada para dormirmos o máximo possível, pois teríamos pouco tempo durante a prova. Toda reserva de energia agora era fundamental. Provas desse nível se vencem nos detalhes.

No caminho um gato preto cruzou a estrada e avistamos um Carcará. Não sou supersticioso, mas como gosto do número 13, comentei com a equipe: bom sinal!

Com tudo preparado logo no início da noite, dormimos e esperamos os mapas chegarem para montarmos nossa estratégia e navegação. Na madrugada recebemos os mapas, estratégia definida, já estávamos prontos para a prova.

Partimos em um trekking de 30 km descendo a Serra em direção ao PC1 Virtual (uma ruína) em um ritmo bem forte. Nesse momento pensei que todas as equipes naquele momento esqueceram que a prova tinha 350 km. Mas nossa estratégia era ficar ali no pelotão da frente e não podíamos aliviar.

Passamos pelo PC1 em terceiro e navegamos exatamente pela trilha plotada no mapa. Mas ao chegarmos no PC2 AT1, estávamos em sétimo. Um atalho que não estava na carta, passando por uma pedreira fez diversas equipes encurtarem o percurso e pularem na frente.

Não vi problemas, já que a primeira equipe estava apenas meia hora à frente. Manteríamos nossa estratégia. Pegamos nossas bikes em direção ao PC3 Virtual. Uma pequena capela onde deveríamos contar quantas janelas teria. Não tinha nenhuma. Pegadinha! Seguimos para o PC4 AT2 no açude Tororó (Bike-Natação). Já éramos segundo, a apenas 20 minutos da equipe Tapuia. Ao final da natação um pequeno trecho de trekking, outro PC Virtual (PC6) e voltamos ao PC4 (que agora seria PC7).

Comemos, bebemos um pouco e pegamos a bike novamente. Nesse momento estávamos juntos com Carbono Zero e Terra de Santa Cruz disputando a segunda colocação, com Tapuia um pouco a frente.
Agora era hora de fazermos força, pois a bike é nossa melhor modalidade e a equipe estava recuperada. Passamos no PC8 Virtual já em segundo e no caminho para o PC9, uma subida infernal, avistamos as luzes da equipe Tapuia. Chegamos praticamente juntos nesse PC.

Busca da Liderança – No caminho para o PC10 Virtual, em um pequeno trecho de asfalto passamos os Tapuias e assumimos a liderança que iríamos manter até o final. Mas há ainda muita coisa a falar.

O caminho para o PC10 foi o pior trecho para as magrelas. Uma lama-cola deixava as bikes muito pesadas difícil até de empurrar. Além disso, a bike de Cris ficou sem freio e ela tinha que descer as ladeiras empurrando. Demos um jeito. Luiz trocou de bike com Cris e melhorou um pouco a velocidade, mas perdemos muito tempo!

Chegamos no PC11. Alguns minutos depois chegaram Carbono Zero e os Tapuias. Estávamos no início da enorme barragem Armando Ribeiro na cidade de Jurucutu para iniciarmos o primeiro trecho de canoagem de 22 km. Era também o local dos nossos containers. Eram três horas da madrugada da sexta-feira, portanto já teríamos sono na canoagem. Decidimos então nos alimentar apenas nos barcos no meio da canoagem para evitarmos ao máximo a parada e a sensação de cansaço e sono. Deu certo. Paramos apenas 30 minutos aproveitando o vento que nos empurrava para comermos e descansarmos.

Terminamos a canoagem em menos de quatro horas e chegamos ao povoado de Mazagão (PC 12) para um longo trecho de 30 km de trekking em direção ao rappel. Já era dia.

No caminho do PC12 para o PC13 (Virtual) Assentamento Serrote 2 em uma trilha bastante alagada cortada de riachos por todos os lados encontramos o nosso inferno astral. Um pequeno inseto da família das moscas onde a fêmea é hematófaga. A famigerada MUTUCA DE CAVALO. Eram milhares desse inseto no caminho que nos atacavam nas pernas e vinham de todos os lados. Quem conhece sabe do que falo. Quem não, não queira saber. É terrível!

Tentamos correr o mais rápido possível para nos livrar das picadas. Em vão! Esses insetos voam a mais de 40 km por hora e nos acompanharam em outros trechos, até nas bikes. Incrível e desesperador!
Bom, mas tudo tem seu lado positivo. Nesse trecho iríamos apenas andar rápido e acabamos correndo feito uns loucos. Ganhamos tempo!

Esse trecho também teve uma navegação complicada. Uma trilha marcada por fitas zebradas de acesso difícil. Encontramos a primeira fita e decidimos não seguir pela trilha mais curta. Parecia que seria muito lenta e decidimos fazer outra mais longa uns 4 km, mas que seria mais rápida. Não sei ao certo se foi ou não melhor, mas foi o que fizemos.

A verdade é que decidimos então apressar o passo, pois poderíamos ter perdido a liderança. Ao chegarmos no PC13 (anotar o número de um “orelhão”) ficamos sabendo que não tinha passado ninguém ali ainda. Bom! Ainda estávamos na frente. Lanche rápido, reabastecer de água e vamos ao rappel. Precisávamos fazê-lo ainda de dia e depois a pista de orientação. Isso nos faria ganhar mais tempo, mas ainda faltavam 13 km de trekking. Apertamos o passo novamente. Chegamos no PC14, na base da montanha, às 16 horas.

No caminho Cris, nossa guerreira, perguntou ao matuto. “Moço, como se faz para livrar-se da Mutuca?”. E ele respondeu “Ah, moça. Essa época tem muita não. Muita tinha há um mês atrás…”. Aí eu pensei: obrigado Toinho e Véscio por não ter feito essa prova em maio.

Esforço Compensado – No PC14 encontramos Véscio. Uma rápida orientação de como chegarmos ao topo da montanha (uma trilha azimutada sinalizada que nem se você quisesse teria como se perder). Porém, o que tinha de fácil na trilha tinha de difícil pra subir. Uma rampa de pedra super inclinada num calor de rachar o crânio de qualquer cristão. Mas chegar no PC15 no topo da montanha compensou qualquer esforço.

O visual era impressionante. Uma montanha isolada em uma região de planície com a barragem Armando Ribeiro ao horizonte. Só posso dizer a Véscio e Toinho uma coisa: parabéns pela escolha do local e obrigado por nos proporcionar um visual desses.

O rappel guiado e a via ferrata foram bem seguros e do grau de qualidade que deveria ter em todas as corridas de aventura.

Final do rappel, início da pista de orientação. Navegação fácil e rápida. Fazê-la durante o dia ajudou bastante. No final da pista chegamos à casa do “Seu Nen”, PC16. Rápido reabastecimento e partimos.

Depois de tentarmos uma trilha de volta pela montanha, que se mostrou um pouco complicada a noite, decidimos novamente pelo caminho mais longo, porém seguro. Já era noite e precisaríamos descansar. Pegar um trecho de asfalto, mesmo sendo mais longo, era melhor, pois poderíamos encontrar uma casa ou bar para descansar. Dito e feito! Encontramos uma casa em que os moradores nos recepcionaram como membros da família. Fizeram café com leite e biscoito e nos deram a varanda para descansarmos. Tratamento VIP no meio do sertão do Seridó. Como o nordestino do interior, não tem igual.

Paramos uma hora. Foram 20 minutos para dormir, 20 para cuidarmos dos pés e o restante para comermos.
A volta para o PC17 já era conhecida, pois foi o que fizemos na ida. Mas era longa e os pés já davam sinal de desgaste. Principalmente em Luiz, nosso guerreiro, o menos experiente em corridas longas do grupo. A trilha muito encharcada e a inexperiência nessa situação o fez sofrer muito. Sofrimento que foi até o final da prova e que se não fosse a sua alta capacidade de superação não teríamos conseguido concluir a prova.

Chegamos no PC17 pouco depois da meia noite do sábado. Lá fizemos nossa melhor refeição. Uma galinha guisada com arroz, macarrão, feijão e de sobremesa uma cocada espetacular. Não me recordo do nome da senhora que nos atendeu, apesar de ter-lhe perguntado o nome. Mas aqui vai meu agradecimento.

Dificuldade na Reta Final – Essa etapa de canoagem exigiu bastante da nossa equipe. Era uma navegação bem técnica com recortes e entradas além de inúmeras pequenas ilhas que não apareciam na carta de 1 para 100.000. Além do mais era noite, um céu limpo com nuvens apenas no horizonte, porém uma região de planície com montanhas somente ao fundo bem distantes.
Isso não nos dá referências suficientes e as nuvens confundiam-se com montanhas devido ao cansaço.

Contar as entradas nos diversos recortes também foi um desafio. Nisso acabamos passando uns 6 km da entrada e ficamos fora do mapa. Perdemos, acredito, que uma hora nos localizando e com o amanhecer do dia, com as montanhas ao fundo já visíveis e uma rápida triangulação nos achamos novamente. Agora era remar os 8 km restantes o mais forte possível para recuperar o tempo perdido. Mas depois desse erro, difícil era fazer a equipe acreditar que estávamos indo em direção a uma ponte que só eu conseguia ver. Na verdade eu não a via, mas sabia que estava lá e só a uns 500 metros conseguimos avistá-la para alívio de todos. Fizemos esse trecho em pouco mais de 6 horas e chegamos depois das sete da manhã no PC18 / AT11.

Agora era a reta final de um longo trecho de 90 km de bike até a chegada passando por três PCs virtuais. Pegamos nossas bikes e toda alimentação que conseguimos carregar. Antes, demos uma olhada para a barragem e não avistamos o segundo colocado. Sabíamos que tínhamos pelo menos uma hora e meia de vantagem, mas como a fiscal tinha nos passado que todos já tinham deixado a canoagem, decidimos não relaxar. Não sabíamos como estavam as outras equipes.

Esse trecho de bike, apesar de longo, não tinha uma navegação complicada. Chegamos ao PC 19 bem rapidinho. Do PC 19 até o PC 20, no povoado de Santa Tereza, aí a coisa foi diferente. O calor já mostrava toda a sua força e Luiz já mostrava sinal de cansaço. Reduzimos um pouco a velocidade e chegamos ao PC20 por volta de meio dia. Agora só faltava um. Isso nos motivava a continuar num ritmo forte. Batemos o PC21, na fazenda Feverdeiras, às 16 horas.

Agora era só subir a montanha e pronto. Aí começou nosso martírio. A subida era muito íngrime e Luiz não conseguia empurrar sua bike. Na verdade mal conseguia andar. Sentia muita dor e o cansaço era notório.

Nesse ponto a união da equipe fez diferença. Ora Jorge, ora eu, ora Cris revezávamos empurrando duas bikes e carregando a mochila de Luiz. Outro ficava ao seu lado sempre o incentivando. Isso durante quase três horas até a chegada em Lagoa Nova. A emoção já contagiava a todos!

Finalmente, depois de quatro vezes na segunda colocação a Direction ganhava uma prova do CNA.

Este texto foi escrito por: Jairo Martins Marques