Trilhas pela mata (foto: Paulo de Tarso)
A Linha Verde é uma estrada ecológica no litoral norte da Bahia, ligando Salvador à divisa com Sergipe, com 230 km de extensão, é o caminho natural para lugares maravilhosos, ricos de ecossistemas, belíssimas praias entrecortadas por rios e seus estuários, dunas, coqueirais, lagoas e manguezais.
Com a existência de lugares encantadores e paisagens exuberantes, a Linha Verde é uma região que possui um bucolismo ímpar e por isto é muito visitado por turistas que procuram locais ainda selvagens para a prática do ecoturismo.
Nosso propósito era pedalar o trecho compreendido entre Praia do Forte e Mangue Seco (aproximadamente 190 km) durante 05 dias, e sempre parando em algumas cidades e vilarejos ao longo do percurso.
Dentre as atrações alternativas, destacam-se reservas ecológicas, de beleza singular que proporcionam passeios imperdíveis entre estreitos e tortuosos caminhos de terra, quintais, sítios e dunas. Pousadas rústicas e hotéis sofisticados se encontram escondidos em meio à natureza
Preparativos – O que levar numa viagem de bicicleta? Essa foi minha primeira viagem de cicloturismo, e depois de muito pensar, levei tudo o que a mala cabia, e resolvi arrumar o alforje somente na Praia do Forte. Não usei 20% do que levei!
Cabe lembrar que essa foi uma viagem exploratória organizada pelo pessoal do Sampa Bikers, e não tínhamos carro de apoio, apenas informações de algumas pousadas. O roteiro foi determinado à medida que passávamos pelos lugares, Obtivemos dicas dos locais sobre os melhores trajetos, e o Paulinho do Sampa Bikers tinha um olho clínico para isso. Bastava ver alguém com uma bicicleta que já puxava assunto e obtinha as informações que precisávamos para nossa aventura.
1º dia Chegada em Praia do Forte
Depois de madrugar, e chegar ao aeroporto de Congonhas às 06:00, conseguimos embarcar as bicicletas. Bom, até que foi fácil, depois de descobrir que a mala-bike (sim, tem uma bicicleta naquela mala, e não um alienígena, como muitos olhavam estupefatos) não caberia no meu carro!
Chegamos em Salvador e o pessoal de um grupo de pedalada da cidade nos acompanhou e levou até a pousada Refúgio da Vila em Praia do Forte. Conhecemos a vila da Praia do Forte e, à tarde, relaxamos na piscina de hidromassagem. Arrumamos malas e alforjes para o próximo dia, e jantamos nossa primeira moqueca da viagem.
A Praia do Forte é o marco zero da Linha Verde, e a comunidade ecológica do lugar se esmera ao mostrar tudo o que a região tem para oferecer aos milhares de turistas, que chegam todos os anos, de todas as partes do mundo, para conhecer esta, que carinhosamente é chamada de Polinésia brasileira. Os passeios são muito variados, podendo ser feitos a pé, a cavalo ou de jipe. São 12 quilômetros de praias ideais para a prática de esportes náuticos, delimitadas por dunas e coqueiral, piscinas naturais de água corrente no meio do mar, e mais: o Sítio do Castelo Garcia D’Ávila, a Reserva de Sapiranga, as corredeiras do Rio Pojuca e uma animada aldeia de pescadores que recebe turistas de braços abertos, oferecendo além de irresistíveis atrativos naturais, uma boa infra-estrutura de serviços e facilidades.
2º dia Praia do Forte Porto Sauípe
Antes do nosso destino do dia, fizemos uma parada estratégica nas ruínas do castelo Garcia dÁvila (www.casadatorre.org.br), considerado a primeira grande edificação portuguesa construída no Brasil, exemplar único de Castelo em estilo medieval nas Américas e foi a sede do maior latifúndio do mundo, com um total de 800 mil km2.
Outra parada estratégica foi a cachoeira em Imbassaí, distante apenas 13 Km da Praia do Forte, e reúne atrativos para quem busca o turismo ecológico. Dentro de uma propriedade privada, o banho na cachoeira foi fundamental para nos refrescarmos e agüentar mais uma pedalada debaixo de um sol de rachar. Cabe lembrar que fizemos a viagem no final de setembro de 2006.
Chegamos em Porto Sauípe, e fomos direto para a Pousada na Praia, do Thomaz e da Juliana. Muito aconchegante e bem bolada. O lavabo com jardim e vista para as estrelas é indescritível. Vale a pena. Jantamos por lá mesmo (sim, moqueca novamente), e no dia seguinte, avistamos uma baleia jubarte, enquanto saboreávamos nosso café da manhã. Bem legal!
Aliás, essa temporada é uma boa época pra quem quer aliar mais atrações à viagem. Há passeios de barco para se ver baleias partindo da Praia do Forte.
Primeira entre as localidades em desenvolvimento na Linha Verde, e a que mais vem crescendo em termos de infra-estrutura turística, com praia de mar aberto e grande extensão de areia que acompanha o coqueiral, Porto Sauípe fica na margem esquerda do Rio Sauípe e não foge à regra das localidades da região: oferece banhos de mar e de rio, com praia de areia fina e branca. A maior concentração de barracas de praia fica ao longo do rio, antes da barra, onde o banho é calmo e a água cristalina. Passear de barco ou banana-boat são duas opções para conhecer o Rio Sauípe, do trecho próximo à foz até o porto.
3º dia Porto Sauípe Subaúma
Último dia de pedalada pela estrada. Algumas subidas, mas nada muito difícil, embora seja recomendável que se tenha algum preparo físico. Chegando em Subaúma, procuramos pousadas e ficamos na Cadê, no centro do vilarejo. Adivinha o que tivemos para o jantar? Moqueca.
A concentração urbana e os equipamentos turísticos de pequeno porte multiplicam-se rapidamente em Subaúma, que possui em seu litoral, praias protegidas por recifes que formam uma grande quantidade de piscinas naturais. O Rio Subaúma, à esquerda do povoado, deságua em uma grande e calma bacia onde se misturam águas doce e salgada, muito apreciada para o lazer de adultos e crianças.
Uma antiga murada adentra o rio e é o ponto preferido dos pescadores em busca do robalo. A caminhada na praia em direção ao farol faz parte de qualquer programa de quem visita Subaúma, além de se fazer um passeio para a Lagoa Verde, entre Subaúma e Baixio, a dez quilômetros do trevo de Subaúma. A lagoa fica entre as dunas e o mar, em meio a uma belíssima paisagem.
4º dia Subaúma Baixius
Primeiro dia de pedalada pela areia…Bem…uma bela experiência e algumas derrapadas pelo caminho. Alguns ficaram para trás e foram escoltadas por cavaleiros, que proporcionaram até água de cocos para as donzelas do grupo! Debaixo de um sol de rachar como sempre, ficamos na primeira pousada que encontramos, que aliás, era bem aconchegante. Jantamos um peixe com molho de camarão na Dona Zezé, baiana que odeia praia!
Logo quem chega a Baixio, à direita, uma lagoa enfeita a paisagem, salpicada de garças. Mais adiante, o vilarejo cresce na direção da barra do Rio Inhambupe, um local perfeito para pesca e banho. A costa de Baixio é de mar aberto, com ondas altas, propícias para a prática do surf. O coqueiral acompanha a praia em todas as direções. Em frente ao povoado se concentram as barracas de praia, que servem água de coco e outras bebidas geladas. A infra-estrutura de Baixio é mínima, se resumindo a pequenas casas de comércio e bares, ao redor de uma simpática e muito florida pracinha no centro do lugar.
5º dia Baixius Sítio do Conde
Depois de um saboroso café da manhã na pousada Aldeola, tivemos um longo dia. Pedalamos pela praia, atravessamos o rio Imbassaí, onde foram filmados trechos do filme Tieta, descansamos em um barzinho com uma vista espetacular, no encontro do rio com a praia, e continuamos nossa trajetória através de uma estrada que misturava terra, areia e mais parecia que estávamos inseridos no cenário do filme Jurassic Park.
Pernoitamos em uma pousada bem nova chamada Apoena, de propriedade de dois irmãos suíços, onde assim que chegamos, tomamos uma providencial limonada suíça na beira de uma piscina com uma vista espetacular. Êta vidão!! Jantamos bobó de camarão do Zeca. Figuraça! Dubla Maria Betânia no filme Tieta!!!
Aqui tivemos o melhor pôr-do-sol da viagem, fotografado do mirante da pousada onde nos hospedamos.
Antigo vilarejo de pescadores, com praias belíssimas, dunas, coqueirais, lagoas, cachoeiras e manguezais, Sítio do Conde, é hoje um dos passeios imperdíveis na Linha Verde, oferecendo uma boa infra-estrutura turística, com hotéis, pousadas e restaurantes. O lugar pertence ao município do Conde e possui atrativos naturais, como Barra do Itariri, Barra de Siribinha, Barra do Itapicuru, Poças, Cavalo Ruço e Praia do Corre Nú. O Sítio do Conde concentra a maioria das pousadas e toda a infra-estrutura turística. As praias dos Artistas e do Corre Nú são as mais próximas do centro.
O primeiro ponto turístico do Conde pode ser alcançado antes mesmo de se chegar ao Sítio. Cinco quilômetros após a entrada de Baixio, depois de atravessar as pontes sobre o Rio Itariri, uma placa sinaliza a entrada para a Barra do Itariri, a seis quilômetros, em estrada de terra, que serpenteia entre coqueiros e pequenos riachos. A Barra localiza-se de forma privilegiada, ao lado da foz do Rio Itariri, oferecendo ao visitante, além das paisagens exóticas, a possibilidade de banho de água doce e salgada.
Na margem desabitada, o manguezal acompanha o rio até a foz. Do outro lado, o rio forma praias rasas e tranqüilas. Aí se concentram os bares e restaurantes, sendo um dos locais preferidos e mais freqüentados por veranistas, turistas e moradores da região. Dezesseis quilômetros de dunas separam a Barra do Itariri do Sítio do Conde, por uma estrada de terra em bom estado. Neste caminho encontram-se algumas pousadas e restaurantes e o acesso à praia só é possível escalando-se as dunas.
6º dia Baixius Mangue Seco
Certamente, o dia mais difícil de pedalada. Passamos por alguns vilarejos como Siribinha e Poças. Além dos 55 km na areia, quase não haviam pontos para reabastecimento de água. Mas a paisagem valeu a pena. Iniciamos com uma travessia de canoa pelo rio, e passamos por quilômetros de praia, dunas, riachos até chegarmos na pousada Fantasia do Agreste, em Mangue Seco. Antes disso, duas paradas estratégicas: a primeira foi em um conjunto de barracas desativadas, ou sei lá que raios era aquilo, onde eu jurava que havia algo para beber. Ledo engano! E a segunda, em uma barraca de praia e quase acabamos com os estoques de água, refrigerantes e pastéis. Um bom banho de mar nos incentivou a acabar o trecho de 2 km restantes com uma ressalva: ninguém havia nos dito que tínhamos que atravessar uma duna! Jantamos em um restaurante do outro lado da cidade (distante uns dez passos da pousada).
Siribinha fica a treze quilômetros do Sítio do Conde, na direção norte. Originalmente era uma vila de pescadores, construída sobre dunas, que aos poucos foi descoberta pelos turistas. Dunas, coqueiros e uma extensiva faixa de praia calma compõem a paisagem frente à Vila. Atrás, o Rio Itapicuru faz divisa entre as dunas brancas e o manguezal. A Capela de Bom Jesus dos Navegantes empresta um ar bucólico à paisagem, com suas amendoeiras e coqueiral. Faça uma caminhada até a Barra de Siribinha, na foz do Rio Itapicuru, e conheça algumas das paisagens onde foram filmadas cenas do filme Tieta, baseado na obra de Jorge Amado.
No caminho para a Siribinha, se desfruta ainda da bela paisagem de Barra nova, onde a estrada é paralela à praia. De um lado, o coqueiral, do outro, a praia margeada por extensa faixa de pedras. Logo adiante vem Poças, que ganhou esse nome por conta das inúmeras piscinas que se formam em sua praia.
Em Poças pode-se alugar um barco para descer o Rio Itapicuru e chegar até a lagoa do Cavalo Ruço, do outro lado da Barra de Siribinha. Em uma das margens há uma duna de aproximadamente trinta metros de altura, de onde se escorrega até cair nas águas da lagoa. Andando um pouco mais, se chega ao Cajueirinho, uma nascente de água doce que brota da raiz do cajueiro. Para estes passeios é imprescindível se levar água, pois o acesso é longo e muito quente, por entre caminhos de areia
Mangue Seco – Depois de conhecer Mangue Seco, você vai entender porque a estrela Sônia Braga escolheu este local para as filmagens de “Tieta”. Internacionalmente famosa, através do romance de Jorge Amado, “Tieta do Agreste”, que virou novela de tv e agora filme nacional, Mangue Seco tornou-se destino de turistas que desejam conhecer as dunas brancas onde Tieta, imitando uma cabrita, conheceu o amor. Apesar de muito falado, o lugar ainda se conserva naturalmente rústico, o que o torna ainda mais atraente.
Em Mangue Seco, como em toda a Linha Verde, é verão o ano inteiro. Muito sol, dunas que andam ao sabor dos ventos e praias de águas cristalinas. O vilarejo fica encurralado entre a foz do Rio Real que, dia-a-dia vai escavando suas margens, e as dunas que avançam, como a querer encobrir tudo. A vida passa mansa como as águas do rio, e os moradores – pescadores e pequenos comerciantes – não têm pressa. A hospitalidade é marca registrada da comunidade do lugarejo e, graças a ela, se desenvolveu a infra-estrutura local, que é mínima: apenas cinco pousadas e não mais que meia dúzia de bares e restaurantes.
Os passeios de bugre, de barco e de ultraleve, são imperdíveis para se conhecer a região. Os bugres fazem translados até às praias e passeios de uma hora pelas dunas, em trilhas autorizadas pelo IBAMA. No primeiro mirante, se avista toda a paisagem de Mangue Seco, entre o rio e o mar. No segundo, o cenário é de coqueiros enterrados na areia, e o guia anuncia que “aqui Tieta pastoreava as cabritas”. No terceiro mirante, as dunas formam um paredão de frente ao mar, encobrindo os coqueiros. O mais interessante destes coqueiros é que, por causa do deslocamento das dunas, eles ficam tão baixos que, para se colher um coco, é preciso se abaixar. Uma outra opção de passeio de bugre pela praia, com a maré baixa, é para a Costa Azul, distante trinta e um quilômetros de Mangue Seco, na direção sul. É uma praia deserta e belíssima.
Da vila até as praias, onde há o encontro do rio com o mar, são dois quilômetros de caminhada através das dunas, coqueiral e vegetação de restinga. Na maré baixa, a areia represa a água formando grandes piscinas naturais. O passeio de barco, se for completo, percorre o manguezal e visita as ilhas do Sossego, Porto do Mato, Terra Caída e do Bobó. Há também a possibilidade de passear nos aparelhos alugados no local. À noite, se anda pelas poucas ruas do vilarejo, cobertas de areia fina e macia, onde crianças ainda se divertem com brincadeiras de roda e de esconde-esconde, longe da televisão. Pouco iluminada, a vila oferece noites sempre estreladas, e se for tempo de lua cheia, então a magia
7º dia De volta à Praia do Forte
Pois é, acabou nossa aventura. Voltamos de barco pelo rio, embarcamos nossas magrelas em uma perua, e chegamos à Praia do Forte, onde nos hospedamos na primeira pousada que ficamos. Nosso último jantar foi em um restaurante na vila da Praia do Forte, e já estamos na saudade!!
Fica aí uma imagem do amanhecer em Mangue Seco! E uma certeza: essa foi a primeira de muitas viagens de bicicleta. Vale a pena!
Este texto foi escrito por: Celso Misaki