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Minha Aventura: De repórter a navegadora na Copa Troller

Redação Webventure/ Offroad

Segundo trecho foi mais complicado (foto: Donizetti Castilho/ Troller)
Segundo trecho foi mais complicado (foto: Donizetti Castilho/ Troller)

“Lilian, você vai para Betim, em Minas Gerais, no próximo fim de semana, ok? Será a cobertura da Copa Troller.” Foi assim, de repente, que fiquei sabendo pelo meu editor que iria para a minha primeira cobertura de rali desde que entrei no Webventure. Fiz a cobertura do Rally dos Sertões, com a equipe que ficou em São Paulo neste ano, já fiz outras várias matérias e coberturas na modalidade, mas nunca me desloquei até as provas. Outros repórteres estavam mais focados nessas coberturas, enquanto eu acompanhava de perto outros esportes.

Enfim, sexta-feira 22 de agosto às 7h da manhã estava eu já dentro de um Troller a caminho de Betim. O assessor da prova, Ricardo Lopes, foi me buscar e pegamos nosso rumo de quase 600 quilômetros até a cidade. Depois de 8 horas já me acostumando com os “obstáculos” do rali impostos pela Rodovia Fernão Dias, chegamos ao hotel Abba onde dezenas de Trollers estavam estacionados na porta. Tínhamos o briefing e a checagem da prova no Centro Cultural de Betim naquela noite e foi lá que comecei a ter os primeiros contatos com aquele mundo.

Antes do diretor de prova começar a explicar os detalhes do percurso, eu estava sentada ao lado de outro jornalista, o Anderson Inácio, quando Ricardo Lopes se aproximou com uma ficha de inscrição e deu a ele. Perguntei o que era aquilo e o assessor me explicou que o Anderson iria correr a prova. Olhei para um, olhei para o outro e perguntei onde eu iria acompanhar a prova. A resposta foi: em algum carro de algum fotógrafo que iria para a trilha.

Analisei bem a situação e pensei: trilha por trilha, que seja participando. “Tem lugar para mim aí nesse carro?”. perguntei. Com a resposta positiva e um carro da organização à nossa disposição para competirmos na categoria Expedition, lá fomos nós para os stands de inscrição. Passa em um, passa em outro, pega os adesivos do carro e “simbora” deixar esse Troller nos trinques para a corrida. O nome da equipe não poderia ser melhor: 100 Rumo, afinal, a navegadora estava mais perdida que qualquer um ali.

Adesivamos o carro, fizemos a vistoria e fomos jantar antes de irmos para o hotel descansar o corpo e a cabeça para correr meu primeiro rali. Confesso que não estava muito ansiosa. Mesmo sabendo que os caminhos da Expedition seriam mais tranqüilos e com menos “quebradeiras”, havia aquela insegurança de como me sairia como navegadora. Aliás, esse é um capítulo importante: a navegação, ou melhor, a planilha de navegação.

Após a inscrição e antes do jantar, eu analisei bem a planilha de navegação. Quem conhece sabe do que estou falando. Há pequenos sinais que são colocados nas tulipas e que indicam o que há pelo caminho. Tulipas são as indicações de direções do percurso. Além disso há as indicações de perigos, riachos, velocidade média, cronometragem, deslocamentos… Ah, se não fosse o Anderson me ensinar um pouco, não sei o que seria. O piloto me passou o básico e o restante eu estudei sozinha quando cheguei no hotel.

Li, reli, olhei, decorei os detalhes, desenhos e logo cedo, no sábado, estava pronta para a largada, que começou às 9h da manhã. Pena nosso número ser o 143 e ter demorado tanto para largarmos. Era um carro a cada um minuto. O bom foi que deu para ver a Seleção Feminina de Vôlei vencer e levar a medalha de ouro na Olimpíada de Pequim. Ouvi o jogo no rádio e acompanhei alguns detalhes na televisão de um bar em frente a largada. A narração da rádio valeria um capítulo só para ela, mas estamos aqui para falar de rali e não de vôlei.

Voltando à largada, saímos às 11h para a prova com mais um Zequinha, que nos termos off-Road é toda e qualquer pessoa que vai dentro do carro que não o piloto e o navegador. Era Rafael Munhoz, outro jornalista, que nos acompanhou e colaborou na navegação.

Poderia dizer que é desnecessário dizer isso aqui, mas na verdade é totalmente necessário quando se pensa que estou contando de minha aventura: nos perdemos com cinco minutos de prova. No deslocamento havia uma indicação confusa de uma saída na avenida em Betim, e ao questionarmos uma referência da planilha a um senhor, ele respondeu: “Acho que vocês estão errados. Estão todos passando ali embaixo, ó”. Qualquer um perceberia nosso erro. Ok, corrigimos o erro voltando para a avenida abaixo de onde estávamos.

Após aquele momento, conseguimos acertar grande parte do percurso. Digo grande parte porque a organização prega peças à navegação, obviamente. Era um rali de regularidade, então precisávamos alcançar os pontos impostos na planilha no tempo estabelecido e tudo de acordo com as indicações. Vencia quem completasse as ordens da planilha com menos erros.

Após um primeiro trecho completamente empoeirado, cheio de obstáculos, lombas e paisagens secas, paramos em um neutro, local estabelecido pela organização para uma pausa obrigatória de 20 minutos. Era em um restaurante na estrada, já após a trilha. Porém, no final da trilha havia fiscais da CBA, a Confederação Brasileira de Automobilismo. Dentre vários itens checados, eles conferiram o uso de cinto de segurança de todos os integrantes, e com o maior sorriso no rosto, o tal fiscal anotou que nosso Zequinha Rafael estava sem o dele.

Nesse momento gostaria de não divulgar tal informação. Todos sabem que o cinto de segurança é obrigatório em todo território nacional, e também numa prova de automobilismo, mas Rafael constatou um problema na fivela do cinto traseiro e o desafivelou durante o percurso. Mais para frente eu conto o que isso nos causou.

Após o neutro de 20 minutos, onde aproveitei para um pequeno cochilo, já que uma gripe avassaladora havia tomado conta de mim e os remédios me deixavam sonolenta, partimos para a segunda parte do desafio. Aí sim tivemos mais emoção.

Muitos mata-burros, obstáculos, riachos a serem transpostos, subidas íngrimes, mais poeira, mais erosões, alguns abismos, mas tudo sob o controle de uma navegação segura, diga-se de passagem, mesmo que sem voz ou fanha, em alguns momentos.

Conseguimos terminar a prova no tempo previsto, batemos alguns pontos exatamente como mandava a cronometragem da planilha e ficamos muito orgulhosos do nosso desempenho. Mesmo com alguns erros foi tudo muito bem, afinal a navegadora aqui nunca tinha nem pensado em decifrar os comandos de uma planilha.

Após um belo almoço oferecido numa fazenda de alambiques, a chegada da prova, esperávamos ansiosos para o resultado, quando o Rafael já havia voltado para São Paulo, onde o dever o chamava. Eu e o Anderson ouvimos, quer dizer, não ouvimos o responsável anunciar o nosso número na retirada da pontuação. E lá foi o piloto ver o que tinha acontecido. Aí eu volto no erro da falta de cinto de segurança: fomos desclassificados. Sim, estávamos fora da disputa. Se nas ruas você toma multa quando está sem cinto, num rali você cai fora da brincadeira, porque não é possível aplicar multas nem pontos na carteira. Penalidade máxima para a equipe 100 Cinto, quer dizer, 100 Rumo.

Confesso que fiquei contrariada com o resultado. Concordo com a punição, mas não poderia ser em outro momento? Estragou todo o brilho de minha estréia! Brincadeiras a parte, me chateei com a desclassificação porque fomos bem, realmente. Era positivista com a nossa boa colocação, mas a vontade foi adiada.

Mas já estabelecemos nosso próximo desafio: Porto Alegre (RS) , no Troféu Troller, porque na próxima etapa da Copa, em 13 de setembro, compromissos pessoais me tirarão da competição. O Anderson já está avisado e a data reservada em nossa agenda de pilotos. E tem mais: o desempenho na navegação foi tão bom que até fui chamada para ser navegadora de rali de velocidade, em provas do campeonato brasileiro.

Fica a lição do cumprimento das leis de trânsito em todo e qualquer momento, seja nas ruas, nas estradas ou nas competições. Os quesitos de segurança são indispensáveis para a realização de uma boa prova, e a organização estava correta em nos desclassificar. Mas na próxima não tem erro. É da largada para o pódio, viu Zequinha?!

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: agosto 25, 2008

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