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Minha aventura: De volta à infância no Adventure Camp


Arrumando as bicicletas pra prova (foto: Arquivo Pessoal)

Quando eu assistia ao filme da Mary Poppins na Sessão da Tarde ficava intrigada com aquela afirmação besta da mocinha de saia comprida e chapéu preto: “Nunca diga nunca”, ensinava ela. “Digo, sim!”, retrucava eu. Pois cresci repetindo aos quatro cantos que jamais competiria prova alguma de bicicleta (muito menos mountain bike), que não havia hipótese de, nesta encarnação, alguém me ver dependurada nas cordas de um rapel. Pois bem. Se da bolsa da Mary Poppins saía de tudo um pouco, de uns tempos pra cá da minha mochila também começou a sair umas coisas estranhas: luva, capacete, bomba de pneu, câmara de ar… mosquetões. Alguma coisa estava fora da ordem.

O auge dessa maluquice foi exatamente no Adventure Camp de Brotas. Tudo bem que devo ter feito o “processo inverso”: o mosquitinho da aventura me mordeu quando fiz a comunicação do Ecomotion/Pro de 2006, depois quando fui apoio na final do Try On Meeting e no Brasil Wild, e competi o Chauás e, finalmente, cheguei ao Camp por onde dizem que eu deveria ter começado. Cheguei ao tão falado Camp com entusiasmo de criança, com medo de criança, com jeitinho desconfiado e ao mesmo tempo destemido de criança. Deixei de lado a palavra “nunca” e topei todos os desafios.

Parece bobeira. Uma mulher de 30 anos (vá lá, 29 e seis meses) se achando muito radical só porque está prestes a fazer um rapelzinho de 15 metros. Mas vou falar que foi a atitude mais ousada da minha vida. Quando cheguei à clínica de iniciantes do Adventure Camp no Alaya, estava tensa. Repetia pros meninos (meus companheiros de equipe X-PRESS Sundown Alexandre Cappi, André Piva e Felipe Meireles) que nada me faria descer aquele rapel. Mas não deu nem tempo de respirar. Quando vi, o instrutor já tinha me colocado a cadeirinha e eu estava subindo a rampa ainda sem entender bem onde tudo aquilo ia dar.

Na “beira do abismo”, quase “refuguei”. A mão suava frio e nada me fazia largar a corda presa no alto. “Agacha, joga o peso para trás”, repetia, em vão, o instrutor. “Ta doido?”, respondia eu. Ficamos nessa uns 30 segundos que pareceram 30 minutos. Quando, enfim, tive coragem de me soltar. Ia descendo tão devagar, tão tensa, que o povo lá embaixo gritava; “Respira menina, pode respirar”. E eu travada.

Superando os medos – Pois subi uma outra vez e, na nova descida, até olhei para a paisagem ao redor. Bonitas as colinas de Brotas. E teve também uma terceira vez, com direito a mãos para o alto e pose para fotos. Me achando expert total!

Mas ainda tinha alguns downhill pela frente. Até que eu tinha encarado bem uma bike no Chauás Fast Night mas graças a Deus, tinha sido um pedal com bastante asfalto, ideal para gente “café-com-leite” que nem eu. Os meninos (sempre eles!) tinham feito todo tipo de ameaça, até de tirar o meu freio para eu não atrasar a equipe. Claro que era terrorismo barato. Veio a prova, apareceram as descidas, e eu me orgulhava de ter acionado o freio apenas duas vezes. Não que eu tivesse ido rápido. Mas tinha conseguido superar outra barreira imposta por mim mesma. Pra me acalmar, tentava lembrar das dicas do Guilherme Pahl, na clínica de mountain bike da véspera. E ainda tinha o Cappi berrando no meu ouvido aquele irritante “Pedaaaalaaaaa Manuuuuuu!”, além de ficar buzinando que “lama é mais mole que asfalto, se cair machuca menos”. Pode machucar menos, mas eu sei que se cair dói. E ainda não me libertei tanto assim dos meus medinhos, vamos combinar.

E já ia me esquecendo da terceira lição: o rafting. Sempre detestei ondas, correntezas e coisas assim. Remo há quase onze anos, mas remo olímpico, em água parada. Nada de canoagem, muito menos canoagem em corredeira. Menos ainda duck, esse barquinho traiçoeiro. Também na clínica de sábado, peguei umas dicas com Coquinho sobre como fazer o leme. Achei que tivesse aprendido. Mas na hora do vamos ver, aquela água toda empurrando para um lado e para o outro, as pedras, os galhos, o Felipe gritando, eu tentando entender que raios queria dizer “água branca”. Foram os cinco quilômetros mais infernais que andei até aqui. Só pensava que tomaria um capote na próxima queda d´água, antes de dobrar a próxima curva. Quando vi o PC de desembarque, ufa, tive a certeza de que tinha vencido mais um desafio.

A X-PRESS Sundown (Nissan/Kailash/Bull Terrier/Capacetes Giro) terminou em segundo lugar entre os estreantes do Adventure Camp Brotas. Para mim, foi bem mais do que uma “colônia de férias” radical. Foi quase que uma volta à infância, onde deu pra “começar tudo de novo”: desfazer mitos, refazer planos, apagar pequenos traumas, desmascarar aqueles fantasmas bobos.

Recomendo… é mais eficiente que muita terapia!

Este texto foi escrito por: Manoela Penna