O casal Cleverson e Deborah (foto: Arquivo Pessoal)
Tudo começou em Curitiba, a gente sempre quis viajar depois de terminar a faculdade, só não sabíamos como e nem para onde. A primeira decisão importante foi a de que a viagem se faria de bicicleta, meio de transporte mais barato, mais ecológico e mais versátil de todos. A segunda decisão foi tomada praticamente ao mesmo tempo: a rota seria o litoral. Não tínhamos treino para pegar serras e nem coragem de enfrentar o interiorzão do Brasil, com longos trechos isolados.
Morava junto com a gente uma vira-lata, a Lara. O transporte de um cão era fator complicante em uma viagem de bike. Primeiro a gente desistiu de levá-la, depois o Cleverson, tomado de uma decisão repentina disse: Levamos ela. Todos acharam que éramos loucos, até hoje, depois de seis meses na estrada, nenhum arrependimento. Assim foi traçado o plano, iríamos de bicicleta, do Chuí (RS) ao Oiapoque (AP), costeando todo o litoral brasileiro, com a cachorra.
A pedalada não começou realmente no Chuí, queríamos antes fazer um curso em Bagé (RS) que nos daria embasamento para desenvolver um projeto em conjunto com a viagem, o PedalEco Brasil. De Curitiba à Bagé fomos no conforto de um ônibus e após o curso é que começamos realmente a pedalar.
O primeiro trecho de nossa viagem foi de Bagé à Pelotas, onde desenvolvemos a primeira ação do projeto. Foram três coletas da água da chuva, duas delas em uma comunidade de catadores de lixo.
De Pelotas ao Cassino foi um pulo e de lá fomos direto ao Chuí, atravessando a maior praia do mundo. Foram 245 quilômetros de areia ininterruptas, três dias de pedalada num ambiente totalmente insólito, tudo o que víamos era mar, areia e céu. Nesses dias por mais que pedalássemos parecia que a gente não saía do lugar, tamanha a uniformidade do terreno. Só para vocês terem uma idéia da viagem que foi pedalar lá, a praia do Cassino é a maior do mundo em extensão e em alguns trechos, em largura.
Do Chuí ao Cassino novamente fomos pela estrada, a estrada do Taim, quase tão insólito quanto à praia. Uma estrada deserta, desprovida de casas, comércio, pessoas, postos de gasolina. Apenas uma reta interminável. Uma rodovia cercada por pântanos repletos de jacarés, cobras, capivaras e outros animais silvestres. Tínhamos apenas 12 litros de água por dia para gastar cozinhando, bebendo, escovando os dentes, lavando as louças. Doze litros de água para tudo, foi um aperto danado.
Educação Ambiental – Chegando ao Cassino de novo, ficamos lá por quase três semanas desenvolvendo trabalhos de Educação Ambiental e mutirões para a construção de hortas, coletas de água da chuva e outros.
Do Cassino até aqui passamos por muitas aventuras, picada de aranha venenosa, infecções por falta de banho, fome, frio, hostilidade de moradores, estradas intermináveis de areia fofa, informações erradas, pneus que rasgaram, eixos que quebraram, caminhões alucinados, acostamentos fantasmas…
Mas também muita coisa boa aconteceu, anjos que apareceram na hora certa e nos salvaram, coincidências incríveis, tão incríveis que passamos a chamá-las de sincronicidades, pequenos contratempos que acabaram nos levando aos lugares mais incríveis.
Estamos atualmente no Guarujá. Aqui fomos encontrados por pessoas que estão nos ajudando a reformular o projeto, dar uma cara mais profissional ao PedalEco Brasil. Daqui para frente vamos manter neste espaço um resumo de nossas aventuras e para quem tiver interesse de conhecer a história de perto pode acessar o blog: www.pedaleco.blogspot.com.
Este texto foi escrito por: Deborah Pizzatto e Cleverson Zapelini
Last modified: setembro 1, 2007