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Minha Aventura: estréias no rali de dentro do caminhão


Antes da largada ao subir no caminhão (foto: Arquivo)

Existe primeira vez para tudo na vida. Para mim, o fim de semana dos dias 9 e 10 de agosto foram repletos de novidades. Fui, pela primeira vez, realizar uma cobertura de rali pelo Webventure em São Paulo, mais precisamente na cidade de São Luís do Paraitinga.

Tudo sob controle: cheguei minutos antes da primeira largada e pessoalmente, conheci figuras importantes do rali no Brasil. De perto, fiquei vendo como aqueles veículos eram bonitos e interessantes, fora do comum. De perto, entendam, um braço de distância.

Eu estava terminando de publicar algumas matérias quando, de repente, aparece um macacão e um capacete na minha frente, seguidos de uma voz de ordem: “Vá se trocar!”. Lógico que a primeira reação foi dar risada. Um segundo depois comecei a perceber que não era brincadeira, eu ia realmente participar dos 44 quilômetros de especial da Copa RallySP no caminhão da equipe Petrobras Lubrax, do André Azevedo e Maykel Justo.

Fiz-me de corajosa e fui trocar de roupa. Parecia um astronauta com aquela roupa quente, enorme. O primeiro desafio foi mesmo sair do motorhome, onde me troquei, e subir no caminhão. Bom, o pneu do caminhão é do meu tamanho! De longe, comecei a estudar como eu ia subir naquilo.

Um dos mecânicos me ensinou um jeito, mas que eu trocaria facilmente por uma mãozinha, cadeirinha ou uma escada magirus. Com um certo esforço, subi no caminhão e não me mexi para ajustarem o cinto de segurança de quatro pontos. Quanto mais apertado, melhor. Mas o cinto não ficou tão apertado assim, mas me segurou. Bom, todos me desejando boa sorte (e eu não entendendo o porquê disso, afinal eu só ia ficar ali do lado quietinha).

Ansiedade – Esperamos até 13h15 para ir até o local de início da especial, mas só poderíamos largar três minutos depois. Foram os três minutos mais longos que eu já vivi. A ansiedade e expectativa eram enormes. Às 13h18 partimos para o trajeto nas três fazendas preparadas. Era a segunda bateria e os pilotos tinham idéia de onde passavam, pois a primeira bateria tinha sido no sentido contrário.

Até os primeiros metros, tudo tranqüilo, estava até sorrindo quando, de repente, começaram a aparecer uns buracos enormes, que me fizeram agarrar o banco que estava sentada. Senti-me em um liquidificador e dei graças a Deus por não ter comido nada. Quando ouvi o Maykel dizendo “dois quilômetros livre”, nossa! Minha glória de arrumar o capacete e curtir… Ledo engano! Mais pirambeiras à vista, valetas que me faziam sair do banco novamente por umas cinco vezes seguidas.

Comecei a rir, imaginando o que seria de mim, pois ainda faltavam meros 35 quilômetros para o fim. Além dos desesperos de ficar me debatendo no banco, na janela, no ombro do Maykel, o André perguntou se eu tava bem. Olhei para a cara dele e ri.

As paisagens, quando era possível de apreciar sem chacoalhar demais, eram muito bonitas. A floresta de eucaliptos deu um charme interessante à prova.

Pelo fone, as orientações do navegador eram bem claras, e uma delas assustou. “Cuidado com a próxima curva, área de escape é abismo”. Abismo? Como assim um abismo? Para ajudar, a lama estava escorregadia bem no ponto da curva, fazendo o caminhão perder a traseira algumas vezes. O mais incrível é que ambos competidores não perdem a calma em nenhum momento.

Eu, motorista de um Celta e que anda pelas ruas de São Paulo, tenho todo o cuidado para passar em valetas e buracos. Ali não tinha como: se o caminhão de 10 toneladas estava a 100 km/h, era nos mesmos 100 km/h que iria passar pelas valetas. No chão do caminhão embaixo dos meus pés que quase nem alcançavam o piso, apareceu uma chave de fenda e umas peças que pensei “meu Deus, chutei tudo, quebrei o caminhão, me dei mal, vão me chutar daqui, quando voltar vão me colocar numa máquina de tortura”. E tudo isso era normal, de acordo com o Maykel.

Um dos momentos divertidos foi quando um erro nos fez perder um tempo precioso. Demos ré e voltamos para o caminho certo; foi quando a equipe do Amable Barrasa também passou reto, no mesmo trecho que erramos. Logo começou uma ‘perseguição’ e André deixou Amable passar. Poucos metros depois, ele errou, dando oportunidade novamente para o caminhão que eu estava seguir na dianteira.

Faltavam ainda cerca de quatro quilômetros para o fim e ainda tomei muitos chacoalhões. Quando vi, já havíamos retornado ao parque de apoio, onde tinha deixado minha mochila, roupa. É, tinha acabado!

Minha perna tremia feito vara verde, mas não conseguia tirar o sorriso da cara. Estava suada, morrendo de calor, parecia uma pimenta de tão vermelha que estava. No meio da prova, comecei a sentir um mal estar, vontade de tirar o capacete e respirar.

Abri a porta e logo veio a Ana, assessora da equipe e pessoa que me colocou nesta “roubada”. Ela estava preocupada, mas desci do caminhão tranqüila e ainda atolei meu pé na lama! Fui avisada que sentiria muitas dores nas costas e pescoço, mas nada que um relaxante muscular não aliviasse.

Esperta seria se eu tomasse um relaxante muscular, e não simplesmente um remédio para cólica por engano. Passei o domingo (10) deitada, tomando o remédio certo, ganhei massagem. Sigo o dia com mais dores e rindo da situação, lembrando cada minuto dessa “simples” cobertura para o Webventure.

Este texto foi escrito por: Bruna Didario