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Minha Aventura: Leões de Judá dorme em acampamento MST

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Equipe conseguiu retornar após carona até Inajá (PE) (foto: David dos Santos Jr)
Equipe conseguiu retornar após carona até Inajá (PE) (foto: David dos Santos Jr)

Nós da equipe Leões de Judá, já alcançamos um 4º lugar na Expedição Chauás e um 8º no Brasil Wild Extreme, mas nosso resultado no Brasil Wild Extreme – Corrida das Fronteiras, que aconteceu entre os dias 5 e 13 de abril no sertão nordestino, foi pífio, pois abandonamos a prova na 3ª noite devido a problemas de bolhas nos pés em dois atletas.

Passamos por momentos interessantes durante a corrida, como durante o 2º trekking, de 44 quilômetros, quando dois dos nossos integrantes estavam com muitas bolhas devido aos 63 quilômetros do 1º trekking.

O Bruno mal conseguia andar, e o Wagner, que é o nosso capitão, ficou desesperado com nosso ritmo e se ofereceu para carregá-lo nas costas. Após ser dissuadido de tal intento, afinal o Bruno pesa 70 quilos, o capitão resolveu procurar e achou o que parecia ser um atalho para subir a serra, e aí fomos nós serra acima e fora da trilha.

Depois de muito andar, e após o doloroso encontro com duas moitas do famoso cansanção (planta espinhenta que queima como ácido e da qual havíamos sido prevenidos para ficar longe), chegamos por volta das 12 horas na fazenda Canindé, onde fomos recebidos pelo Sr. Sebastião, empregado da fazenda, e por sua esposa e a filha de 8 anos.

Ele nos deu água, mangas, coco verde e uma refeição. E ainda indicou um atalho subindo a serra para chegarmos ao nosso destino: Caraibeiras. Explicou que íamos encontrar duas casas de palha no fim da subida e que a estrada era ali perto. Nós agradecemos e lhe demos R$ 50.

Ao chegarmos nas duas casas de palha (na verdade eram casas de folha de coqueiro), encontramos uma pobre senhora cega que nos disse que havia duas estradas: uma para “Craibeira” a direita, e outra para “Craibeiro” em frente.

Certos de que ela era um pouco perturbada, tomamos a estrada mais larga, em frente e não a da direita.

Às 18 horas, certos de que estávamos no caminho errado, mas com dois integrantes praticamente incapazes de andar devido às bolhas nos pés, chegamos a uma escola onde uma mulher nos informou que havia duas cidades: Caraibeiras e Caraibeiro. Exatamente como a cega dissera e nós não havíamos acreditado!

Sem condições de prosseguir na prova devido à tomada da direção errada, mas principalmente pelas bolhas nos pés do Bruno e do Adolfo, demos a prova por abandonada após mais uma caminhada de 1 hora.

Aí nos perguntamos: “e agora?”. Perdidos no alto da serra, no sertão de Pernambuco, já eram 19h, tudo escuro e sem sinal de moradia perto. Andamos mais um pouco e encontramos um morador, que nos disse ser impossível conseguir um transporte principalmente a noite, e que a condução que os moradores dali usavam era carroça de boi.

Ele nos aconselhou a andar mais 5 quilômetros e ir até o acampamento “Santa Rita”, que vinha a ser um assentamento do Movimento dos Sem Terra MST, onde certamente conseguiríamos um transporte para nos levar à cidade, e que possuía ônibus para Paulo Afonso.

Andamos mais duas horas até chegar ao tal acampamento, e chegamos às 21h, e não se via ninguém dentro da cerca com portão fechado do acampamento.

Após muito chamar, apareceu um rapaz que, diante de nossos pedidos e oferecimento de dinheiro para que alguém nos levasse até Inajá (PE), disse que era impossível, eis que não havia carro e todos os animais estavam soltos no pasto.

Ouvindo a conversa estava Risalva que, após escutar uma voz de mulher (a minha), saiu de sua casa e foi ver o que havia. Ela, ao se deparar com nosso triste estado, cansados, com fome, e sem ter onde dormir ou como ir para outro lugar, nos ofereceu sua casinha de pau-a-pique para que lá pernoitássemos.

Ela nos ofereceu duas camas feitas de varas, com espuma por cima e mais duas redes, e ainda fez comida para nós. No outro dia serviu-nos café da manhã com biscoitos e, quando viu que ninguém queria nos transportar, antecipou sua ida para Inajá e nos ofereceu carona até o projeto “Amigos do Bem”, uma organização de São Paulo que procura melhorar a vida dos nordestinos, onde ela disse que conseguiríamos uma carona.

Vimos que a égua descarnada de Risalva mal agüentava nos levar os 10 quilômetros até o “Amigos do Bem”, mas aceitamos seu desprendido oferecimento.

E foi assim que conseguimos voltar para a cidade, pois Risalva nos deixou na administração do “Amigos do Bem” e aí conseguimos uma carona para Inajá, onde pegamos um ônibus de volta para Paulo Afonso (BA).

Agradecemos muito à Risalva, prometemos mandar uma foto da nossa equipe e lhe demos R$ 100 como agradecimento por sua boa ação.

Acredito que se ela não se tivesse compadecido de nosso estado teríamos que passar a noite ao relento, e só Deus sabe como faríamos para voltar à civilização por causa do estado dos pés do Bruno e do Adolfo.

Fica aqui o nosso relato, de como fomos salvos por uma boa alma que, sem pedir ou esperar recompensa alguma, deu comida, hospedagem e transporte a quatro malucos participantes de corrida de aventura que mal conseguiam ficar de pé.

Este texto foi escrito por: Denise de Sene

Last modified: abril 23, 2008

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