Largada foi de duck em Paulo Afonso (BA) (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Fala Galera!
Essa prova seria um pouco diferente das outras etapas, já que a característica das provas do Brasil Wild é de 24horas. O Brasil Wild Extreme levaria nossa equipe ao extremo. Desde que começaram a ser divulgadas as informações sobre a prova, fiquei curioso em saber como seria correr uma assim.
Bom, nessa prova iremos correr com uma equipe nova (pelo menos pra mim): Rafael Campos (único que já tinha corrido com todos os outros participantes), Erasmo Cardoso (o famoso Xikito o Xikito eu conhecia desde que fazia triathlon, éramos da mesma faixa etária) e a Sabrina Majella (conheci quando comecei no triathlon, em 1999).
Fizemos alguns treinos juntos onde aumentou bastante a sintonia da equipe, não dá para ir direto para a prova sem conhecer absolutamente ninguém em ação.
Viajamos para Aracaju (SE) e depois fizemos um translado para Paulo Afonso (BA), onde seria a largada da prova. Nesse vôo fomos eu (Trator), Rafa e a Sabrina. O Xikito iria no dia seguinte em outro vôo.
Preparativos para a prova: montar a bicicleta, arrumar e organizar as coisas dentro das nossas caixas, levar comida suficiente para a prova inteira. Detalhe: a prova teria 650 quilômetros e sem apoio, onde cada equipe seria responsável por todo o seu equipamento.
Teríamos apenas direito de ver nossa caixa de equipamentos duas vezes durante a prova, ou seja, precisaríamos pensar em todos os detalhes para não correr muito pesado ou muito leve e correr o risco de faltar algum equipamento ou mesmo a falta de comida.
Era minha primeira prova longa sem apoio, estava com receio de como seria.
Bom, finalmente chegou o dia da largada, segunda-feira, 7 de abril. Foi um trecho de 70 quilômetros de remo utilizando um duck. Minha pior modalidade na aventura, mas tinha treinado bastante para não influenciar no ritmo da equipe.
A largada foi dada com uma dupla (Rafa e Sabina) nadando um trecho de 500 metros, e depois a outra dupla (Eu e o Xikito) remando para resgatar os dois no rio e começar os quatro a prova, remando até o primeiro PC.
Demorei para achar o Rafa e resgatá-lo para o duck. Quando encontrei, estávamos muito atrás na fila enorme de ducks que se formava no rio São Francisco. Agora, era fazer força e ultrapassar quantas equipes fossem possíveis.
Remada alucinante, parecia que a prova iria durar 24 horas tamanho era a intensidade desse início de prova.
Conseguimos ultrapassar quase todas as equipes até ficar atrás apenas da SOS Mata Atlântica, equipe formada por remadores.
Bom, nos mantivemos ali boa parte do remo, só mantendo um ritmo confortável para chegar no primeiro PC virtual da prova, onde nossa tática era deixar o Rafa e a Sabrina e eles irem direto para o PC2 descansar um bom tempo, e eu (Trator) e o Xikito remaríamos até o PC1 e de lá seguiríamos de trekking até o PC2 encontrá-los.
Teríamos duas vantagens: eu e o Xikito poderíamos fazer esse trecho de trekking bem mais rápido e o Rafa (nosso navegador) e a Sabrina, que poderiam descansar e se poupar para o restante da prova.
Na chegada do PC1, final da canoagem, eu e o Xikito deixamos os ducks juntos com três equipes. Fizemos uma transição muito rápida e saímos correndo rumo ao PC2.
Nesse trecho eu seria o navegador, minha primeira prova navegando sério, e não poderia errar. Mas como existe a famosa lei de Murphy, logo na primeira saída do mapa eu acabei errando e tivemos que passar por baixo da barragem e não por cima como previa o mapa. Mas tudo bem, nada que uma corridinha mais forte não recuperasse o tempo perdido.
Fomos navegando eu e o Xikito, ambos visualizando o mapa para não perder mais tempo em erros.
Chegamos no PC2 em 2º lugar, pausa para hidratar, lavar os pés, comer um pouco e reunir a equipe para continuar a prova. Fomos rumo ao próximo PC/AT que seria a troca para o trecho de bike onde haveria mais uma divisão na equipe.
Aqui abro um parênteses para dizer que na cidade onde houve esse AT, Água Branca (AL), tivemos uma calorosa recepção pelos habitantes. Foi muito gratificante!
Bom, voltando à prova, teríamos uma divisão de equipe nesse trecho de bike, onde o Rafa e o Xikito iriam pegar um PC virtual num trecho mais longo e eu e a Sabrina iríamos pegar outro PC virtual num trecho mais curto.
Nesse trecho curto, a Sabrina começou a sentir o efeito do calor fritante do sertão. Parecia uma sauna ao ar livre, tamanho era o calor. Ela começou a desidratar e com isso perder um pouco das forças. Nesse trecho honrei meu nome de Trator, coloquei uma cordinha bike dela e levei até o final do trecho, para ela ir descansando e a gente também não perder tempo parado.
Chegando na cidade onde iríamos esperar o Rafa e o Xikito, consegui que a Sabrina comesse e se hidratasse para recuperar as forças.
Esperamos uma hora e meia até eles chegarem para reunir a equipe novamente e seguir até o próximo PC/AT.
Nesse meio tempo estávamos em 2º colocados a 1 hora da equipe 1ª colocada.
Chegamos no próximo PC/AT, e eu particularmente tive um grata surpresa. Como era meu aniversario, o PC em conjunto com um grupo de crianças que moravam perto cantaram parabéns para mim. Foi emocionante, nunca mais vou esquecer aquele momento!
Velinhas apagadas para os meus 32 anos, seguimos para o percurso de trekking. Nesse trecho conseguimos alcançar a 1ª equipe mas também fomos alcançados pela 3ª, aí ficou uma disputa até o final desse trecho.
Chegamos no PC/AT, e em seguida seria um trecho de bike com bastante subida e trecho de single track, só não imaginávamos o que estava por vir.
Para começar teríamos que subir um morro com a bike nas costas e depois descer da mesma maneira. Depois nós pedalamos em areia fofa praticamente todo o trajeto desse trecho. O trecho era isolado, não havia nenhum ponto de apoio, nem moradores, nem rio ou qualquer outra forma de obter água para consumo humano.
Foi necessário uma atenção tremenda na navegação para não haver erros, porque poderíamos pagar caro com a possível falta de água. E com um sol de 36°C, poderia ser perigoso.
Nesse trecho, estávamos em 1º e fomos ultrapassados perto do final.
O próximo PC/AT seria para 2ª canoagem da prova, até então estava programado um trecho de 80 quilômetros. Quando chegamos ao PC/AT fomos informados que houve redução no percurso da prova, o remo seria de 40 quilômetros e o próximo trecho de bike que seria de 140 quilômetro passaria para 70 quilômetros.
A notícia serviu com um alívio depois daquele trecho exaustivo de empurra-bike na areia. Fizemos nossa preparação para remar, escolhemos os ducks e entramos na represa.
Começamos a remar por volta das 16h30 em direção a uma igreja que foi inundada pela formação da barragem, onde só restou o telhado para fora da água. Fantástico!
Após passar pela igreja, seguimos até o próximo PC que estaria a 40 quilômetros dali. Com o cair da noite, céu estrelado, começou a ventar, ventar muito!
Trecho sinistro, ventava forte e com isso houve a formação de ondas. Parecia que estávamos no mar.
Tivemos o azar de escolher um duck que estava furado, com isso nosso ritmo caiu muito. Sem contar que precisávamos parar para encher o duck a cada 30 minutos.
Bom, amanheceu e encontramos o próximo PC/AT onde seria um trecho de bike. Nesse PC descobrimos que estávamos a 6 horas atrás da 1ª colocada e a 2 horas atrás da 2ª colocada, foi um golpe forte para a equipe. Nunca imaginaríamos que tivéssemos perdido tanto tempo com o duck furado e o vento durante o trecho de canoagem.
O jeito era forçar e ver até onde conseguíamos recuperar essa diferença. Pedalamos forte os 70 quilômetros para tentar reduzir essa diferença.
Chegamos no PC/AT onde seria realizado o trecho de trekking mais difícil da prova, o famoso e inóspito: RASO DA CATARINA (BA), trecho de areia fofa e com 50 quilômetros de extensão. Era a região onde o bando da Lampião se escondia dos seus inimigos.
Começamos o trecho no início da tarde e por nossa sorte, fizemos o trecho durante a noite e a madrugada. Isso nos poupou de enfrentar um calor imenso do sertão. O trecho foi percorrido com uma pausa para descansar e dormir um pouco, afinal estávamos com mais 80 horas de prova e o sono já era quase insuportável.
Amanheceu e chegamos no último PC/AT, onde pegaríamos a bike e seguiríamos até o trecho onde estava sendo realizado os verticais.
Aliás, das provas que eu fiz essa foi a tirolesa mais linda que eu realizei.
Nas técnicas verticais, o Rafa fez ascensão e o rapel, a Sabrina fez o rapel e a tirolesa, o Xikito fez a tirolesa seca e eu a tirolesa molhada, onde terminava numa piscina natural formada pelo rio São Francisco.
Técnicas verticais realizadas restavam apenas 4 quilômetros de bike até a chegada.
Missão cumprida, não era nosso principal objetivo, mas estamos felizes com o 3º lugar por que lutamos com boas equipes.
Adorei participar dessa prova, foi uma chance única de conhecer um pouco mais do nordeste brasileiro. Região rica em beleza e com pessoas com uma generosidade imensa, que serviu pra nós como uma lição de vida. Depois dessa prova eu com certeza sou uma pessoa melhor.
Só um caso que aconteceu conosco: Toda e qualquer casa que pedimos ajuda durante a prova, sempre fomos atendidos, por mais humilde que era a casa ou o morador sempre era nos oferecido o que eles tinham de melhor.
Ficamos envergonhados com tamanha generosidade do povo nordestino, foi emocionante! Se eles tivessem apenas um copo dágua e um prato de comida eles dariam pra gente sem pensar e caso nós negássemos em receber ficariam chateados.
Essa prova foi mais que uma aventura, foi uma lição de vida!
Valeu Galera e até a próxima.
Abraços,
Rodrigo Martins – TRATOR
Este texto foi escrito por: Rodrigo Martins
Last modified: abril 29, 2008