A idéia é bem simples. Convença alguns amigos com o gosto em comum por passeios envolvendo natureza, alerte para um pouco de sacrifício e retifique uma recompensa garantida pela diversidade de atrativos encontrados nesta região. Fácil, não?
Nem tanto. Na verdade, o mais importante e necessário nesta viagem, sem dúvida, é o planejamento para que não haja nenhum contra-tempo no meio do caminho. E pela quantidade de sorrisos dá pra imaginar que quase nem houve!
Essa viagem se daria da seguinte forma: 11 pessoas, 6 bikes, 3 motos de trilha e 1 carro de apoio.
Para o pessoal de bike, a viagem começa bem antes, pois é necessária uma preparação física até razoável, já que serão percorridos em apenas três dias, 154 quilômetros de pedalada sem muito intervalo, e a falta de gás seria bem complicada, uma vez que o trecho é bem pouco servido de alternativas para alguém mais despreparado.
A saída é do Portal da Graciosa, início da Estrada da Graciosa, uma antiga estrada construída a mando do Imperador Dom João VI, sendo na época, o único acesso do Planalto Paranaense ao litoral do Paraná, que antes de ser construída, era caminho utilizado por índios que habitavam a região.
A estrada tem um misto de história e deslumbre, devido às várias belezas tanto naturais como de engenharia, já que se trata de um desnível de 800 metros vencidos em 21 quilômetros de recortes em maciços de pedra de quase 2.000 metros de altura, e em vários trechos avistam-se alguns ainda mais imponentes, como é o caso do Pico Marumbi e do Pico Paraná, muito procurados por praticantes de montanhismo e escaladores.
Na descida, que alterna trechos originais da estrada feita com paralelepípedos e trechos de asfalto, encontra-se muitas cachoeiras, mirantes e oferece-se algumas áreas de repouso com uma infra-estrutura muito boa, com área de churrasqueira e chalés para as famílias ou amigos que desejam desfrutar de alguns bons momentos.
Já próximo de São João da Graciosa, você pode optar por um passeio de bóia pelo rio que leva até Morretes, cidade que escolhemos para degustar um prato típico do Paraná, o Barreado, um cozido de carne de sabor bem apurado, que é sempre acompanhado de arroz e banana, mas pra quem precisa pedalar, nada fácil digestão!!
Com um bom descanso, seguimos agora para um distrito chamado Cacatú, que completaria o primeiro dia com um percurso de 66 quilômetros, o suficiente para quem está pedalando desde o início do dia sobre forte chuva e alguns tombos leves na descida da Graciosa, que fica extremamente lisa em dias de chuva.
Ficamos instalados em uma espécie de clube de veraneio do local, com tobogãs e piscinas para quem vem com mais tempo. Segundo o administrador, o Polaco, o lugar é bastante procurado por moradores de Curitiba, já que é uma alternativa para quem quer mudar um pouco do visual de praia, porque ali do lado corre um límpido e sossegado riozinho bem convidativo, apesar da água bem gelada, proveniente da Serra.
Com várias áreas com churrasqueiras para camping e até mesmo chalés com todo conforto de uma casa, é uma boa experiência para pessoas acostumadas a viver no dia-a-dia das cidades. Depois de instalados, nossa prioridade era uma boa refeição e uma boa noite de sono, porque no próximo dia é que as coisas começam a ficar mais puxadas!
Saindo de Cacatú, seguimos agora para a estrada que vai dar acesso aos distritos de Serra Negra e Porto Tagaçaba, e para a cidade de Guaraqueçaba, sendo esta estrada, o único acesso.
É nesse ponto que acaba o asfalto e que percorreremos um trecho de também 66 quilômetros de estrada de areia e pedras, que exigem bastante do corpo, mas apesar de tudo, não se sente tanto principalmente pela euforia que a beleza do trecho nos proporciona, quase não dá tempo de pensar em sofrimento em lugares assim tão lindos e tão pouco degradados, uma vez que toda essa região é de proteção ambiental, umas das últimas áreas originais de preservação da Mata Atlântica do Brasil.
Já em Porto Tagaçaba, existem algumas pousadas que margeiam rios, sempre muito limpos e de água mansa, opção para quem quer um pernoite ou mesmo, no nosso caso, limpar o suor do pedal com um delicioso banho de rio e nos servir de uma boa refeição com uma comida de sabor bem caseiro na Pousada Arariba, de fachada simples, mas com um quintal de encher os olhos.
De volta ao nosso percurso, o destino de hoje é a Reserva Natural Salto do Morato, uma reserva ambiental de uma incrível infra-estrutura sempre voltada à educação ambiental de quem a visita, inclusive com sede nas instalações para exibição de vídeos educacionais para excursões escolares ou mesmo visitantes aleatórios do local.
Mas como o próprio nome do lugar já diz, a princesinha dos olhos é um salto com meros 103 metros de queda, que desce sobre uma espantosa formação rochosa, daquelas que enchem os olhos de quem a vê e permeiam na memória pra sempre!
Para chegar até lá tem uma caminhada de aproximadamente 1,5 quilômetro do local de acampamento, onde no caminho há desde ponte pênsil, aquários naturais de água cristalina (muito, muito fria), e uma natureza intocada graças a freqüente presença de técnicos e guias ambientais, contando com placas indicativas de espécies encontradas na reserva. Realmente um lugar a ser preservado!!
Depois de conhecer uma maravilha dessas, seguimos agora para Guaraqueçaba, uma das primeiras cidades do Paraná, que fica a 24 quilômetros da Reserva Ambiental, onde embarcaremos para Paranaguá em uma travessia de barco muito prazerosa pelas águas calmas da Baía de Paranaguá.
Mas há de se lembrar que a travessia é feita em horários e dias específicos, portanto a programação da viagem deve ser bem planejada para não precisar esperar um dia todo por perder esses horários. Mas se preferir, pode-se alugar barcos para fazer a travessia, ficando um pouco mais salgado para o bolso, nesse caso.
O carro apoio que nos acompanhava até então, volta por todo o caminho e vai para Paranaguá, nosso próximo destino.
Para os que não conhecem bem Paranaguá, a cidade tem muitos atrativos, são pontos turísticos para os mais diversos gostos e estilos. Dentre eles o Porto de Paranaguá, o maior em escoamento de grãos e o segundo maior exportador do Brasil, bem ali próximo situa-se a Igreja de Nossa Senhora do Rocio, com uma arquitetura colonial e uma praça imensa a sua frente, convidando a um bom descanso.
Ou também o Mercado Municipal e Mercado do Peixe, encontrando desde artesanato às mais inusitadas surpresas que o povo confecciona. Há também a Estação Ferroviária de Transporte, uma aula de história sobre a colonização de nosso estado e sobre a construção da Linha Férrea Dom Pedro II, hoje denominada Estrada Férrea Central do Brasil, fazendo o trecho Paranaguá/Curitiba, um verdadeiro desafio de engenharia para os padrões da época em que foi construída (1882 1885), contrariando até o pessimismo de engenheiros estrangeiros que diziam impossível tal construção ser bem sucedida, sendo concluída por João Teixeira Soares, que teve sua capacidade reconhecida internacionalmente.
E é por ali que fizemos nosso retorno à Curitiba, um passeio para não se esquecer jamais, até por que este é um dos últimos e mais longos trechos em que se faz o transporte ferroviário de passageiros em todo o Brasil, sendo os demais em Minas Gerais e São Paulo, todos com menor extensão, uma vez que essa linha percorre 110 quilômetros subindo até o Planalto Paranaense e chegando a Curitiba.
O caminho surpreende a cada instante, com cenas dignas de cinema, recortes por muita mata nativa e paredões de pedra de enormidade indescritíveis. Em alguns momentos, você chega a ter a sensação de voar, devido aos abismos muito íngremes da subida.
A subida leva em torno de 6 horas, passando por incontáveis pontos a serem registrados, ficando bem mais fácil de identificá-los devido à presença de guias nos vagões dando orientações de onde e quando poderíamos avistá-los.
A chegada é na Estação Rodo-Ferroviária de Curitiba, onde aparecemos todos na primeira foto do texto, sorridentes, extasiados por conhecer tantas maravilhas, de onde seguimos para a nossa viagem de volta até Apucarana, norte do estado.
Fica aqui a sugestão para quem pretende excursionar por caminhos diferentes e muito interessantes que esse meu lindo estado tem a oferecer! Um grande abraço!
Este texto foi escrito por: Paulo Rogério Gloor
Last modified: maio 12, 2008