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Montanhismo e escalada em crescimento no Brasil

Redação Webventure/ Montanhismo

Niclevicz na base do K2 em julho deste ano (foto: Waldemar Niclevicz)
Niclevicz na base do K2 em julho deste ano (foto: Waldemar Niclevicz)

E o Brasil continua de olho nas grandes montanhas, elas foram o assunto quando se falava em montanhismo durante este ano. Seja para lembrar da aventura do casal Paulo e Helena Coelho no Everest, seja para falar da última tentativa de Waldemar Niclevicz em escalar o K2. Enquanto isso, bem aqui debaixo dos nossos olhos a escalada esportiva ganhou força com campeonatos que pela primeira vez atraíram alguma atenção da mídia, o que no fim das contas não reverteu em apoio para o esporte que sofreu com participações limitadas em importantes torneios.

O Everest parece ter mesmo uma magia especial. Quando parecia que todas as surpresas que o “teto do mundo” poderiam trazer ao montanhismo brasileiro já haviam se esgotado, ele novamente surge como centro das atenções. Desta vez trazendo a tona um casal de montanhistas que a muito tempo mereciam um reconhecimento mais abrangente. Estamos falando de Paulo e Helena Coelho, que não chegaram ao cume do Everest. Mas saíram de lá como heróis. O casal de brasileiros, que tentava escalar o Everest sem oxigênio pela terceira vez, em maio deste ano, abandonou suas chances de chegar ao topo do mundo para salvar a vida do português João Garcia, evitando assim a terceira morte na temporada 1999. De volta ao Brasil, o casal que tenta escalar o Everest mesmo sem a ajuda de patrocinadores, teve pela primeira vez o gosto do reconhecimento, após anos de trabalho silencioso. “É uma pena que a gente tenha que se tornar conhecido através de uma tragédia como essa. Mas parece que é assim que as coisas funcionam no Brasil”, comentou resignada Helena Coelho algum tempo depois, surpresa com os vários convites para palestras que surgiram nos meses que se seguiram ao retorno do Everest.

Também sem alcançar o cume, mas com forças revigoradas voltou o alpinista brasileiro Waldemar Niclevicz para o Brasil após sua segunda tentativa de escalar o K2, conhecida como a mais perigosa montanha do mundo. A grande quantidade de neve acumulada na montanha e a morte de um alpinistas levaram a decisão de abortar o Projeto K2, em agosto. A mais de dois anos nenhum alpinista consegue atingir o cume do K2, que mantém uma impressionante média de uma morte para cada dois alpinistas que atingem o topo. Mesmo diante dos números nada animadores, Niclevicz anunciou que a montanha continua sendo seu objetivo principal para o ano 2000.

Ainda falando de alta montanha o ano de 1999 começou com surpresa. Com a descoberta do corpo do lendário alpinista britânico George Mallory que desapareceu a 75 anos atrás quando enfrentava as encostas geladas do Everest. A descoberta foi feita pela expedição Expedição Mallory & (Andrew) Irvine que escalou a maior montanha do mundo com o único objetivo de encontrar os corpos de Mallory e de Andrew Irvine.

Em outubro o montanhismo ficou de luto com a notícia da morte de Alex Lowe, um dos maiores nomes da história do esporte. Lowe morreu em uma avalanche no Shishapangma (8.046m), quando participava da expedição American Shishapangma Ski Expedition, que pretendia escalar o cume da 14ª maior montanha do mundo e descer esquiando. Lowe tinha 40 anos e já havia escalado o Everest duas vezes.

Escalada no Brasil

Enquanto isso, aqui em terra tupiniquins o universo da escalada dava passos tímidos porém firmes. Se não deu para comemorar nenhuma grande conquista internacional, nenhum grande resultado nas participações brasileiras nos torneios mundiais, deu para considerar uma vitória o crescimento do número de adeptos de escalada no país. Um resultado visível deste crescimento e o surgimento de novas escolas, muros de escalada e de campeonatos pelo país. O crescimento foi confirmado pelos resultados do Censo de Praticantes de Escalada e Montanhismo, que indicou um perfil jovem (entre 20 e 30 anos) e de classe alta entre os praticantes.

O Brasil até começou o ano com o pé direito, quando venceu o Desafio de Escalada Esportiva Brasil X Chile, realizado em janeiro, praia da Copacabana. O evento por si só era um sinal de que a escalada esportiva dava um importante passo para ganhar luz própria no cenário esportivo nacional.

Em maio a Seleção Brasileira de Escalada, formada por Helmut Becker, Edison Shimabokuro, Janine Cardoso e Alexandre Paranhos participou da Copa do Mundo, em Leipzig, na Alemanha. O grupo não conseguiu resultados expressivos, mas para quem viajou pensando mais em ganhar experiência o saldo final foi considerado positivo.

O Brasil ainda enviou representantes para o Pan Americano de Escalada, organizado no último momento no Equador pela a UPAME (Unión Panamericana de Montañismo y Escalada). Em meio a desordem e falta de estrutura e organização local do campeonato o Brasil perdeu a chance de conseguir uma vaga para o Mundial de escala esportiva no ano que vem. O melhor resultado da equipe de cinco atletas brasileiros foi o vice-campeonato de Paloma Cardoso, no feminino.

Em 1999 também brilhou forte a estrela do escalador Helmut Becker. Vencedor no Campeonato Brasileiro de Escalada em dificuldade, realizado em dezembro, Becker também saiu vitorioso em um desafio particular: encadenar a via Poltergeist, na Serra do Cipó, considerada a mais difícil do Brasil, com grau de dificuldade de 10c.

Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur

Last modified: dezembro 28, 1999

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