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Montanhismo: morte do alpinista Vitor Negrete completa 10 anos

O objetivo de muitos alpinistas é chegar ao cume do Everest, a montanha mais alta do mundo (8.850 metros de altitude), localizada no Himalaia. Era o caso também do brasileiro Vitor Negrete, de 38 anos, que além de grande escalador, era pesquisador da Unicamp, marido e pai de dois filhos.

O montanhista ainda queria registrar um feito nunca antes realizado por um brasileiro: subir até o topo sem o auxílio de oxigênio suplementar. Ele até cumpriu a meta, em maio de 2006, mas não resistiu aos problemas de saúde decorrentes da altitude elevada.

Além de grande escalador, Vitor era pesquisador da Unicamp, marido e pai de dois filhos. Foto: Arquivo pessoal

Após dez anos do ocorrido, confira a cronologia dos fatos daquela expedição:

Começo: Vitor Negrete junto com Rodrigo Raineri, seu grande amigo e companheiro de escaladas, decidiram subir o topo do Everest pela face norte, a mais difícil pelo Tibete. Eles levaram os cilindros de oxigênio, que seriam posteriormente deixados no Acampamento 3 (8.300 metros) para a segurança.

6 de abril: No início da tarde, os brasileiros chegaram sem problemas ao Campo Base (BC), a 5.200 metros de altura.

12 de abril: A dupla brasileira, que pretendia subir ao acampamento intermediário, teve que continuar no acampamento base devido ao forte vento.

16 de abril: Em um domingo com temperaturas muito baixas, Vitor e Rodrigo chegaram ao Campo Base Avançado (6.500 metros do nível do mar). Os equipamentos deles foram levados pelos sherpas (guias que ajudam os escaladores a subir as montanhas na região do Himalaia) para o acampamento 600 metros acima.

Dupla brasileira a caminho dos 7.100 metros de altitude. Foto: Divulgação

25 de abril: Os alpinistas brasileiros chegaram ao Colo Norte do Everest e ficaram no Acampamento 1 (7.100 metros de altitude). Mas as últimas nevascas deixaram o caminho difícil. Sendo assim, a previsão era que a dupla descesse até a cidade de Shegar, no Nepal, e depois voltasse para o ataque ao cume entre os dias 15 e 17 de maio do mesmo ano.

13 de maio: O mau tempo e os problemas de saúde de Rodrigo – que teve um principio de congelamento dos pés – fizeram a dupla adiar os planos. Então, eles precisaram voltar ao Acampamento Base Avançado.

15 de maio: Nesse dia, Vitor começou de fato o ataque ao cume do Everest. O brasileiro aproveitou a janela que estava para chegar, que indicava uma situação ideal de pouco vento. Enquanto isso, Rodrigo retornava ao Acampamento Base sem condições de continuar.

16 de maio: Como previsto, Vitor chegou ao Acampamento 2 (7.600 metros de altitude). Lá ele estava indeciso sobre a tentativa de alcançar o topo da montanha, afinal teve que lidar com uma série de más notícias, como a morte do inglês David Sharp, que fazia parte do seu grupo. Apesar disso, o brasileiro decidiu partir para o Acampamento 3 (a 8.300 metros de altitude), o último antes do cume.

17 de maio: Sozinho e sem cilindros de oxigênio, o brasileiro saiu para subir até o topo da montanha. Ele pretendia voltar para a barraca até o dia seguinte (19/05) às 18 horas.

19 de maio: Vitor chegou ao seu objetivo, mas na descida sentiu-se fraco e pediu ajuda para seu guia Dawa Sherpa. O alpinista foi levado até o Acampamento 3, mas segundo análise de alguns médicos, ele provavelmente teve um edema pulmonar ou cerebral ou ambos e acabou falecendo na barraca.

Vitor Negrete no acampamento base. Foto: Vitor Negrete/ Divulgação

Cobertura Webventure

Na época, Daniel Costa era o repórter do Webventure, e contou que recebia as informações dos brasileiros na madrugada de um dia para o outro por conta do fuso-horário. “O Vitor mandava um áudio todos os dias para a família e para a assessoria de imprensa sobre o que estava acontecendo tanto com ele quanto com o Rodrigo”, afirma. ”Conseguir um áudio de quem está a 6.800, 8.000 metros de altitude no meio do Nepal realmente para a época era uma coisa estrondosa, conseguíamos ter uma tecnologia muito à frente”, fala.

Para ele, receber a informação da morte de Vitor foi um baque, afinal todos estavam confiantes. “Fui correndo para a redação para entender melhor o que tinha acontecido. Era obrigação dar a noticia e fazer da forma mais respeitosa possível”, diz. “Eu acabei fazendo um texto praticamente no automático, quase como um robô, porque não tinha psicológico para conseguir colocar qualquer emoção. Nós e toda a comunidade do montanhismo o víamos como um ídolo”, completa.

Naquele ano, a editora do site era a Cristina Degani, que ao saber do ocorrido rapidamente checou as informações com as autoridades nepalesas. “Nós ouvimos bastante gente, foi um dia bastante agitado, a gente não esperava…”, relata. “Eu me lembro da missa de sétimo dia, da família se despedindo dele, muito triste”, conta.

Vitor Negrete e Rodrigo Raineri eram amigos de longa data. Foto: Divulgação

Amigos para sempre

Em entrevista ao Webventure, Rodrigo Raineri falou sobre a morte do seu parceiro de escalada. “Foi um dos dias mais tristes da minha vida, foi muito difícil receber esta notícia. Ele era meu amigo já há 18 anos”, diz.

Para ele, Vitor era um cara muito valente, ousado e otimista. “Nas montanhas ele era o parceiro ideal para mim, porque eu era um pouco mais técnico e ele era um pouco mais forte. Nós nos complementávamos”, conta.

Raineri ainda disse que o amigo deixou o legado de que é possível realizar grandes escaladas e expedições, com treinamento, garra, coragem e ousadia. “O Vitor foi um grande montanhista. Ele rompeu muitos limites, como escalar comigo a Face Sul do Monte Aconcágua. Juntos nós trouxemos muitas conquistas para o Brasil”, finaliza.

Este texto foi escrito por: Denise Duarte