O acampamento um do Everest a 7.100 metros de altitude (foto: Vitor Negrete)
Toda a ansiedade e preparação para alcançar o cume de uma montanha como o Everest se concentra em um ponto específico: a previsão do tempo. As expedições recebem informações de todo o mundo para decidirem quando e como começar o tão esperado ataque ao cume. É exatamente nessa fase que se encontra a maioria das expedições nos acampamentos da montanha mais alta do mundo.
A mais importante fonte da equipe na previsão meteorológica é o montanhista e colaborador do Webventure Tom Papp, amigo pessoal da dupla, que decidiu ajudar nas previsões de tempo quando leu no site que a expedição tinha dificuldade de encontrar respostas nas condições de tempo.
Nos últimos diários da Expedição Everest sem Oxigênio, a maior dúvida de Vitor Negrete e Rodrigo Raineri para o ataque ao cume era como comparar as diferentes previsões e arriscar um dia ideal para o ataque.
Previsão – Segundo Papp, os alpinistas têm cerca de duas semanas para conseguir uma nova janela de tempo Vitor e Rodrigo tentaram atacar o cume hoje (20/05), mas o clima não ajudou e eles resolveram voltar, pois a sensação térmica seria de 70°C. É nesse tempo que chegam as Monções, os ventos que vêm do mar, que iniciam um período de tempestades e de muito vento no Everest, explica o montanhista.
No início do ano, os ventos secos do norte são predominantes. As Monções marcam uma inversão total no clima, trazendo os ventos úmidos do Oceano Índico. Só que é bem nessa inversão que pode se abrir uma janela de tempo bom. A inversão dos ventos pode trazer alguns dias de calmaria. Então, se eles conseguirem essa janela será no limite da chegada da Monção, disse o montanhista.
A escolha da equipe em escalar sem oxigênio deixa os montanhistas mais vulneráveis aos extremos da natureza. Isso significa, literalmente, que eles estão com menos gás, ficam mais suscetíveis ao frio, ao vento e, principalmente, ao congelamento de extremidades do corpo, alertou Papp. O que aumenta mais ainda a importância das previsões para Vitor Negrete e Rodrigo Raineri.
Para conseguir as previsões, o montanhista Tom Papp entra em vários sites de meteorologia do mundo e compara os dados. Ainda vejo o relato das outras expedições que estão subindo a montanha e assinei alguns sites que mandam boletins de meteorologia, disse.
Mas o que mais ajuda na pesquisa dos boletins é o apoio do meteorologista Marcelo Romão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Ele começou a me ajudar muito, porque consegue fazer justamente os modelos que a gente precisa, contou Papp. Ontem mesmo, quando o Vitor e o Rodrigo estavam a 7.600 metros e decidindo se iam para o cume, o Marcelo fez uma previsão de três em três horas do que vai acontecer hoje, amanhã e depois, completou.
Quanto mais perto for o dia analisado, mais confiável é a previsão. Segundo o montanhista, com até 72 horas de antecedência é possível conseguir um boletim seguro. O problema é que o caminho do acampamento base até o cume do Everest leva exatamente quatro dias se não ocorrer imprevistos, o que obriga os montanhistas a se programarem com cinco dias de antecedência para a empreitada.
Previsão em tempo real – Após coletar todos os dados, o montanhista envia um e-mail com o resumo dos resultados para o acampamento base, onde está o guia de montanha Guilherme Setani, o Totó, que cuida do apoio à Vitor Negrete e Rodrigo Raineri. Tom também liga para os dois e ajuda na discussão da programação de ataque. Dia desses ficamos discutindo mais de meia hora pelo telefone satelital sobre as diferentes previsões de tempo
As informações desencontradas quanto à previsão de tempo são os piores inimigos das expedições que tentam o cume do Everest esse ano. Na verdade, a média de qualidade das previsões de tempo é muito ruim, lamenta Papp. Mas nos últimos dias têm melhorado, completa. As últimas tendências indicam que uma nova janela de tempo irá se abrir perto do dia 30 de maio. Vitor e Rodrigo têm permissão para escalar a montanha até o dia 5 de junho.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa