Tom Papp: Se eles não tivessem isso não subiriam. (foto: Theo Ribeiro)
Não é uma decisão fácil aceitar o uso do oxigênio artificial após escalar 8 mil metros de montanha. Escaladores experientes dizem que são duas montanhas diferentes quando se escalada com e sem oxigênio em cilindros. Para Vitor Negrete e Rodrigo Raineri, da expedição Everest Sem Oxigênio, que está há quase 70 dias na montanha, o limite parou em 8.200 metros de altitude. Dali para diante, a escalada é com uso das garrafas.
Opinião de Tomás Papp
O montanhista e colaborador do Webventure Tomás Gridi Papp, que auxilia Vitor Negrete e Rodrigo com a análise da previsão meteorológica aqui no Brasil disse que, antes da expedição, ainda em terras brasileiras, aconselhou os dois a considerarem a possibilidade de fazer o ataque ao cume com oxigênio se o tempo não permitisse a subida sem o gás.
Olhando as estatísticas dos últimos anos, poucas pessoas chegaram ao cume sem oxigênio, fala Tom. É muito extremo para o físico. Fica muito sujeito ao congelamento de extremidades e com problemas de raciocínio. O montanhista trabalha no limite do organismo, completa.
Os dois eram radicais quanto ao uso do oxigênio, mas eu disse que, se não houvesse um boa janela de tempo, seria quase impossível e foi o que aconteceu. Isso tem que ser feito com tempo muito bom, muita coisa tem que dar certo para ser um ataque de sucesso, diz.
Garrafas de oxigênio – Tom explica ainda que esse foi um ano atípico, de mau tempo, e que a oportunidade de um brasileiro fazer a montanha, mesmo com oxigênio, é importante e não deve ser desperdiçada. Eles não podiam voltar sem tentar, e resolveram fazer uma tentativa com oxigênio, afirma.
Segundo Tom, as garrafas de oxigênio deixadas antes pelos sherpas, para o caso de emergência, foram usadas porque estavam lá. Nessa última subida, eles começaram a considerar a hipótese de terem que usar oxigênio e se preveniram. Subiram com garrafas extras, que vão permitir que eles alcancem o cume, revela Papp. Ele garante que até os 8.200 metros, onde acamparam, a dupla não utilizou o suprimento de oxigênio.
“Eles chegaram ao acampamento de 8.200m com muita dificuldade, devido ao frio e o vento. Se não tivessem garrafas de oxigênio não teriam iniciado o ataque final ao cume”, explica Tom.
O montanhista e personalidade do UOL Thomaz Brandolin passou por uma situação parecida em 1991, quando liderava a primeira expedição brasileira ao Everest. Nossa proposta era subir com oxigênio, mas não usamos porque não atingimos a altitude que é necessário oxigênio suplementar. Estava ventando demais naquela temporada e desistimos da expedição, lembra.
Para ele, desistir seria o mais correto nessas condições. O que fizeram acho meio antidesportivo. Fizeram marketing em cima da subida sem oxigênio e vão usar um recurso que até ontem estavam renegando, comentou.
Desde o começo, então, eles deveriam dizer que se as condições piorassem iam tentar o cume com oxigênio, que o objetivo era chegar lá de qualquer jeito, disse Brandolin. A gente entende que para subir sem oxigênio precisa de condições ideais, que é mais difícil. Mas se não tem condições boas, volta no ano que vem, conclui. “Mas eles têm o direito de fazer o que desejarem e devem satisfação apenas para eles mesmos e e seus patrocinadores, eu não tenho nada a ver com isso. Estou torcendo para que eles atinjam o cume”, concluiu.
Paulo e Helena – O montanhista deu como exemplo o casal Paulo e Helena Coelho, que também tentam chegar ao cume do Everest sem oxigênio, mas recentemente tomaram a decisão de voltar ao acampamento base e esperar uma janela de tempo mais favorável.
É a sexta vez que estão lá. Quando não conseguem, eles desistem e voltam depois, defende. Esses rapazes são muito jovens. Eles pularam do Aconcágua direto para o Everest, é como do segundo degrau de uma escada para o vigésimo”, opina Brandolin.
Paulo e Helena continuam na montanha, no acampamento base e devem aproveitar a próxima janela de bom tempo, por volta dos dias 3 e 4 de junho. Sua escalada será sem oxigênio e sem auxílio de sherpas.
Para Nelson Baretta, montanhista e colaborador do Webventure, a atitude de Vitor Negrete e Rodrigo Raineri foi acertada. Conheço os dois pessoalmente. Escalei minha primeira montanha junto com o Rodrigo, já o Vitor eu encontro eventualmente em corridas de aventura. Eles são muito prudentes, não são loucos, são alpinistas conscientes, defende.
É uma decisão pessoal, eles foram preparados para escalar o Everest sem e com oxigênio. Acho muito prudente eles optarem por alcançar os objetivos deles da forma mais segura possível, avalia Baretta.
Ao contrário de Brandolin, Baretta considera a Vitor e Rodrigo uma dupla experiente. Foi uma decisão baseada em toda a experiência que os dois têm, tanto individual como juntos. O que acontece na montanha é impossível de reproduzir aqui, ainda mais numa cidade como São Paulo, disse.
Para ele, a parte física contou muito para essa decisão. Fisicamente são dois cumes diferentes. O Everest com e sem oxigênio, explica. Falando de sonhos, cada um tem seu cume, às vezes o cume é o topo da montanha, outras é a experiência que você leva dela.
Cumes diferentes – Na opinião de Baretta, Paulo e Helena estão sendo mais persistentes na idéia de alcançar o cume sem oxigênio. “Olhando de fora dá para perceber que foi uma decisão diferente da tomada pelo Vitor e o Rodrigo, afirma.
Não quero julgar em uma palavra, mas parece que eles são mais puros, ou conservadores. Não é a primeira vez que eles estão no Everest, conclui.
Este texto foi escrito por: Cristina Degani e Daniel Costa
Last modified: maio 31, 2005