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Morre Sergio Mirsky, referência nacional de vela e história de vida

Redação Webventure/ Vela

Sergio Mirsky (foto: Arquivo pessoal)
Sergio Mirsky (foto: Arquivo pessoal)

Morreu ontem aos 73 anos o velejador e médico Sergio Mirsky, pai de André, um dos velejadores selecionados para o barco de amadores do ABN Amro na Volvo Ocean Race. Mirsky foi um dos maiores nomes da vela brasileira, paulista de nascença e niteroiense de coração. Ainda tinha maior número de milhas em regatas no Brasil, participando de todos os eventos do calendário, muitas vezes indo sozinho a raia, porém nunca deixando de comparecer as regatas.

Sob sol ou sob chuva ele comandou os seus veleiros Neptunus em busca da Fita Azul, a sua grande paixão. Para Sérgio a graça sempre foi à disputa na água e não no tempo corrigido, e assim, ao longo dos anos é dele alguns números inigualáveis como as 28 Fitas Azuis na Regata Escola Naval; 35 participações na Regata Santos Rio; Regata Buenos Aires Rio; 2 regatas Recife-Fernando de Noronha; 5 regatas Salvador Rio, fora as consecutivas participações em circuitos como o de Santa Catarina, Salvador, Ilha Bela, Antigua Sailing Week, Semana de Vela de Genebra e do Rio.

Esse comandante de pulso e idéias fortes fez da vela sua razão de viver: nos últimos cinco anos sofreu inúmeros problemas de saúde e, contra todas as recomendações, médicas esteve presente na maioria das regatas que o Neptunus participou, não mais como timoneiro como outrora, mas na posição de líder de um grupo que o respeitava, que o admirava por tanto saber e ensinar a arte de vela competitiva, passando sua experiência aos mais novos e ajudando o seu barco a conseguir uma série inigualável de Fitas Azuis.

Sofrimento – Fala André Mirsky, seu filho: “Para mim o meu pai foi um exemplo de perseverança e força de vontade, mesmo com problemas de saúde, no hospital, só pensava em velejar, em otimizar o barco, em treinar com a tripulação. Nesses últimos meses tenho velejado com os melhores velejadores do mundo, assim sendo posso falar, sem medo, que ele foi o melhor de todos, era de uma sensibilidade incrível sendo capaz de timonear qualquer tipo de barco com uma “mão” inigualável, profundo conhecedor de nuvens e ventos> Eu ficava espantado como ele se antecipava as mudanças meteorológicas, marés e rondadas. Ele me ensinou tudo que sei, lamento não ter conseguido aprender tudo que ele sabia”.

“Tenho certeza que agora ele navega no mar mais calmo e mais lindo que jamais sonhamos”, disse André.

Sérgio começou a velejar aos 7 anos num barco feito em casa com a ajuda do pai, aos 18 deu-se por desaparecido quando resolveu fazer uma viagem do Rio de Janeiro
a Santos com os seus 6 metros internacional, sozinho, sem qualquer carta náutica, luz ou vela sobressalente, chegando ao porto paulista apenas com a ajuda de uma pequena bússola de mão.

Em 1968, vendeu tudo que tinha, casa própria, automóvel, barco etc e foi aos EUA comprar um verdadeiro barco de regatas, pioneiro, trouxe a fibra de vidro ao país com o seu barco Cal 40. Muitas vitórias, títulos brasileiros, sul-americanos e fitas azuis até que um dia o Comandante Sergio foi surpreendido quando teve um enfarte um pouco antes de cruzar a linha de chegada da regata Escola Naval na qual ele surpreendentemente conseguiu superar os favoritos Saga e Carro Chefe na
década de oitenta. Essas são algumas de tantas aventuras que ele conta no livro Fita Azul que escreveu.

Dr. Sergio Mirsky era como um pai para os tripulantes. Seus barcos foram berços para muitos velejadores de sucesso, ensinou a muitas pessoas o bê-á-bá da vela, um incansável incentivador, para ele uma tripulação devia ser formada por amigos e não por um grupo de feras da vela que não tinham qualquer amor à camisa que vestiam.

Seu amor pela vela era algo fora do comum, por tantas vezes participou de regatas sem qualquer adversário, como na década de setenta, na classe Star, segundo ele, “para que a classe não morresse”. E o esporte sobreviveu, talvez graças a ele, e nós brasileiros temos muitas glorias vindas da Star.

Morrer em uma regata era o seu desejo, e isso ele conseguiu, mesmo em terra sua cabeça só estava no mar. Agora seus tripulantes levam o nome e ensinamentos do veterano em regatas mundo afora.

Este texto foi escrito por: Carlos Lua, correspondente do TEAM ABN AMRO

Last modified: agosto 10, 2005

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