Muita conscientização para preservar as belezas como os golfinhos (foto: Roger Grinblat)
Falta de opções? Viagens repetitivas? Pouca adrenalina? Que tal uma aventura em um arquipélago paradisíaco formado por 21 ilhas e ilhotas situado a 360 km de nosso continente, onde dezenas de trilhas, praias e uma fauna marinha rica e abundante guardam aventura e emoção aos turistas que por ali passam. Mais do que um roteiro da moda, Fernando de Noronha é um verdadeiro santuário ecológico difícil de descrever, imaginar e de deixar para trás. E onde ninguém fica parado.
Ao chegar perto da ilha, pude compreender porque Américo Vespúcio ao descobri-la em 1503, definiu-a como paraíso. Sobrevoando toda a sua área, vi a água cristalina com suas diferentes tonalidades de cor que tomavam conta da paisagem e as inúmeras praias com suas respectivas formações rochosas que completavam o cenário naquele fim de tarde. Algo de arrepiar.
O arquipélago é, na verdade, formado pelo topo das montanhas de uma cordilheira de origem vulcânica, com sua base localizada há cerca de 4.000 metros de profundidade e uma área terrestre com um total aproximado de 26 km2, tendo a ilha principal a extensão de 17 km2. As praias da ilha são divididas em dois grupos: as do mar de dentro voltadas para a costa brasileira e as do mar de fora, voltadas para o continente africano.
Fui para Fernando Noronha em busca de sete dias diferentes de tudo. Neste Aventura Brasil, convido você a conhecer em terra e mar um lugar que faz jus à sua fama.
A história de Noronha inclui grandes navegações, prisioneiros, guerras e estrangeiros, como aqueles livros de aventuras pelo mundo. A ilha foi descoberta em 10 de agosto de 1503 por Américo Vespúcio, que abordou-a logo após o primeiro naufrágio brasileiro, quando a principal nau das seis que compunham a Segunda Expedição Exploradora foi ao fundo do mar, numa viagem financiada pelo nobre português Fernão de Loronha. Um ano mais tarde, a ilha foi doada ao mesmo, em forma de capitania hereditária – a primeira do Brasil. O curioso é que Loronha nunca se interessou em conhecer o seu território. Mais tarde, a ilha seria disputada e povoada por franceses e holandeses voltando a domínio português em 1737.
1737 – esta é a data de tudo o que se tem hoje construído ou em ruínas em Fernando de Noronha. Nada é anterior… Foi neste ano que construiu-se nela o maior sistema de defesa daquele século, com dez fortificações nos 17 Km². Ergueram-se dois núcleos urbanos. Em um deles, na Vila de Nossa Senhora dos Remédios, dois presídios; no outro, da Quixaba ou Sambaquixaba, um alojamento. E começou a funcionar a Colônia Correcional para presos comuns, que duraria até 1938.
O começo – Essa decisão também iniciou as intervenções que foram acontecendo no meio ambiente. Introduziram-se espécies vegetais; criações de cabras, bois, galinhas, patos e perus; casas e alojamentos públicos, uma igreja e uma capela. E os presos passaram a ser a mão-de-obra que revestiria de pedra os acessos a todos os pontos da ilha, que conduziriam nos ombros as autoridades, fariam serviços domésticos e demais trabalhos na ilha. O presídio comum durou até 1938.
De 1938 a 1942, esse local passou a reunir prisioneiros de todo o país. Como a II Guerra já atraía outros aliados, o Brasil se preparou para entrar nela e Fernando de Noronha foi transformada em base avançada de guerra. De 1942 a 1945 viveram os mais de três mil homens do Destacamento Misto, ao lado de uma companhia americana instalada para construir o novo aeroporto.
Entre 1942 a 1988 foi o tempo de dominação militar, com a criação do Território Federal. No período, interferiu-se muito no espaço urbano, modificando-se a face colonial dos núcleos iniciais e erguendo-se vilas hierarquizadas, para abrigarem as categorias militares no poder. Ainda houve uma outra presença americana (o Posto de Observação de Teleguiados, de 1957 a 1965) e, por fim, Fernando de Noronha retornou a Pernambuco, por força da Constituição de 1988.
Mais do que paisagens bonitas, Fernando de Noronha reserva muitas atrações e emoções em terra ou no mar. Existem diversas trilhas e mergulhos para se fazer de diferentes graus de dificuldade, extensão e tempo de duração. As saídas para essas atividades começam cedo, geralmente às 8 horas. Selecionei algumas opções para comentar em detalhes:
Trilha do Mirante dos Golfinhos até a Praia do Boldró
Esta trilha dura praticamente a manhã toda. Não tem um grau de dificuldade elevado, sendo o único grande desafio suportar o grande calor e o sol na cabeça. É recomendável levar bastante água, boné, calçado apropriado para trilha e equipamento básico de mergulho (máscara, snorkel e nadadeira).
A trilha começa no mirante da baía dos Golfinhos, um penhasco de 70 metros de altura de onde se pode admirar os golfinhos rotadores, que procuram a baía para se acasalar, alimentar os filhotes ou mesmo descansar. A baía é um imenso aquário natural onde o banho de mar, a pesca e os mergulhos são rigorosamente proibidos. Para os menos preguiçosos vale a pena acordar cedo e ver os golfinhos chegando à baía após uma noite de caça pelo mar.
De lá seguimos rumo à Baía do Sancho, um dos principais pontos de mergulho da ilha onde a alta visibilidade em suas águas claras possibilita encontrar inúmeros tipos de peixes, raias, moréias e, com um pouco de sorte, tubarões lixa. Para poder chegar à baía do Sancho é preciso descer por escadas encravadas na fenda de um penhasco de 40 metros, mas sem muita dificuldade.
A próxima parada foi a Baía dos Porcos, com suas piscinas naturais e água de coloração variada, formando uma beleza estonteante. A vista para a baía e a para o morro dos “Dois Irmãos” é impressionante, pausa obrigatória para fotos. Seguimos então nosso trekking, passando pela praia Cacimba do Padre, onde inclusive estava acontecendo uma etapa de Mundial de surfe, e depois pelas praias do Bode e Americano, até chegarmos ao nosso destino, a praia do Boldró. Lá subimos no mirante e avistamos mais uma bela paisagem. Um trekking apaixonante!
Trilha do Buraco da Raquel até a praia do Atalaia
Uma curiosidade desta trilha é o seu percurso bastante característico, pois grande parte do trekking é realizada sobre pedras e rochas. Por isso não esqueça o tênis ou a bota. Além disso, leve equipamento básico de mergulho e muita água, pois o percurso é longo e no final um pouco cansativo. A trilha completa dura de três e quatro horas dependendo do ritmo da caminhada e das pausas para mergulho, explicações dos guias locais e fotos.
A saída começa na praia do Buraco da Raquel, um dos pontos com grande concentração de tubarões. Passamos então pela Enseada da Caiera onde executamos um mergulho livre, mas sem muita emoção. Continuando nosso pedregoso percurso, passamos por morros com vistas exuberantes e pela lendária “caverna do capitão Kid”.
Pouco tempo depois chegamos à famosa e disputada Praia do Atalaia, um verdadeiro santuário onde diferentes espécies da fauna marinha vivem harmoniosamente em um aquário, com cerca de 90 cm de profundidade, formado pela maré baixa. É válido lembrar que por motivos de preservação, esta praia é fiscalizada pelo Ibama e somente cem pessoas por dia podem mergulhar no “aquário”. Além disso, o tempo de mergulho também é controlado e cada turista só tem cerca de 30 minutos para desfrutar da beleza deste paraíso. Em todo caso, chegue cedo e garanta o seu prazer, você não irá se arrepender.
Um aquário natural – Para aqueles que preferem o contato com as águas e os seus mistérios este é o lugar ideal. O Arquipélago de Fernando de Noronha é o principal e mais belo parque marinho brasileiro, sendo considerado como um dos melhores lugares para a prática de mergulho do mundo. Aqui, de um modo geral, pode-se desfrutar de uma visibilidade de até 40 metros. Golfinhos, tubarões, tartarugas marinhas, moréias, raias e infinitos tipos de peixe são fácilmente encontrados nas diferentes praias e pontos da ilha.
Todos os mergulhos são planejados e feitos com o acompanhamento de dive masters locais. As três operadoras de mergulho (veja quais são em “Serviço”) dispõem de profissionais que podem realizar filmagens submarinas.
O arquipélago dispõe de cerca de dezesseis pontos para a prática de mergulho.
Ponto de Mergulho | Profundidade | Categoria de Usuário |
Navio do Porto Morro de Fora Laje dos 2 Irmãos Corveta V 17 Pedra da Sapata Ponta da Sapata Navio do Leão Iuias Cabeço Submarino Ilha do Frade Pedras Secas Pontal do Norte Buraco do Inferno Cagarras Ressureta IIhas do Meio e Rata |
03 a 08m 06 a 15m 13 a 24m 42 a 63m 43m 14 a 27m 10m 08 a 24m 04 a 20m 10 a 23m 12 a 17m 45m 06 a 17m 08 a 30m 06 a 13m 08 a 20m |
Inexperiente Inexperiente Intermediário Avançado Avançado Intermediário Inexperiente Avançado Intermediário Intermediário Intermediário Avançado Inexperiente Intermediário Inexperiente Inexperiente |
Conheça um pouco sobre alguns dos melhores lugares para a prática do mergulho livre e autônomo:
Mergulho livre – Baía do Sueste e Praia do Leão
Uma das praias mais calmas de Fernando de Noronha, devido à sua forma de baía fechada, o Sueste torna possível mergulhos e banhos em qualquer tipo de maré. Possui bela paisagem e rica fauna marinha. Junto, localiza-se o único mangue insular oceânico da América do Sul, com fauna própria. Há restrições de mergulhos em parte da baía, onde se situam alguns bancos de corais.
A Baía do Sueste é o lugar ideal para aqueles que querem conhecer e encontrar além de peixes, as famosas tartarugas marinhas. No mundo existem sete espécies delas, algumas ainda ameaçadas de extinção. No Brasil, é possível localizar até cinco destas espécies.
Se você não possui equipamento básico de mergulho, não fique preocupado, pois no próprio local existe a possibilidade de alugar a máscara, o snorkel e a nadadeira. O mergulho na Baía é bastante tranqüilo e não oferece qualquer risco ou tipo de perigo. Ao se afastar um pouco da praia, encontra-se diversos tipos de peixes e confiando um pouco no seu destino, tartarugas marinhas. Se cansar, basta relaxar e deixar a correnteza levá-lo de volta à praia.
A quinze minutos, no lado sudeste da ilha, está localizada a Praia do Leão. Na opinião de muitos, tem a mais estonteante paisagem do arquipélago. Principal local de desova das tartarugas marinhas, o local proporciona um mergulho magnífico, pois suas águas transparentes, cristalinas e a alta visibilidade garantem encontros e emoção. Alguns “sortudos” ficam cara-a-cara com tubarões.
Mergulho autônomo na ilha Rata
Para aqueles que já são credenciados está é uma ótima opção para um mergulho. O mar nesta região é bem tranqüilo. A diversidade e a abundância de espécies marinhas do local, fazem deste ponto um excelente programa. Mas se você ainda não faz parte desse grupo, como eu, existe a possibilidade de se fazer o batismo acompanhado de um dive-máster durante toda a atividade, porém, neste caso o interessado não ganhará a carteirinha oficial de mergulho. De qualquer forma, vale muito a pena.
O período ideal de visita a Fernando Noronha é de 7 dias ou mais, possibilitando assim um maior aproveitamento. Na chegada, é cobrada do visitante a taxa de preservação de acordo com tabela abaixo estabelecida pelo Governo.
Permanência (dias) |
Valor da taxa (R$) | Permanência (dias) |
Valor da taxa (R$) |
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 |
21,28 42,56 63,85 85,13 104,28 118,12 131,95 145,78 159,62 173,45 239,42 271,35 308,59 351,15 399,04 |
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 |
452,24 510,77 574,61 643,78 718,27 798,08 883,20 973,65 1.069,42 1.170,51 1.276,92 1.388,65 1.505,70 1.628,07 1.755,77 |
Quem leva
A Pisa Trekking organiza pacotes completos de viagens para Fernando de Noronha.
Para quem vai por conta própria
De avião
Hospedagem
Algumas sugestões:
Transporte (buggie/bugre)
Companhias de mergulho
Projeto Tamar
IBAMA
Com o objetivo de conservar o ambiente marinho e terrestre, O Parque Nacional de Fernando de Noronha foi criado em 1988, abrangendo aproximadamente 70% da área total do arquipélago e tem o IBAMA como responsável pela administração.
Toda a população da ilha é constantemente conscientizada da importância de se preservar todas as espécies da fauna e flora que abrangem a ilha.
Além disso, inúmeros projetos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos, tais como: levantamento das espécies de aves marinhas terrestres e migratórias; estudo sobre comportamento e reprodução dos golfinhos rotadores; ecologia e reprodução dos crustáceos; pesquisa sobre tubarões; Projeto Tamar (tartarugas marinhas), dentre outros. Estes temas são apresentados aos turistas todas as noites no centro de visitantes do projeto, próximo à sede do IBAMA. As palestras são descontraídas e bastante divertidas.
Ao andar pelas ruas, trilhas e praias ou até mergulhando no mar, logo se percebe que a taxa paga logo ao entrar na ilha é realmente utilizada para a preservação, estruturação e criação de programas sociais na ilha. Difícil encontrar restos de sujeira e lixo espalhados, tão comuns em outros pontos turísticos no Brasil. A sensação é a de estar contribuindo para que esse paraíso ecológico continue da maneira que está por muitos anos e décadas para que nossos filhos e netos possam desfrutar dessa beleza antológica que é este arquipélago de Fernando de Noronha.
“Entre ondas bravias, azuis
Sob um céu sempre cheio de luz
Há um pedaço da minha terra,
Esta ilha, que a todos seduz.
Brancas praias, rochedos, luar
E o Pico, altaneiro, sem par,
Fernando de Noronha é um sonho do qual ninguém quer despertar “
(Gercy Teles de Menezes – Hino de Fernando de Noronha)
Este texto foi escrito por: Roger Grinblat
Last modified: janeiro 26, 2001