Nora quer montar um super time (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
No país do futebol, é comum ouvir sobre as negociações de jogadores: quem vai, quem vem, quem pára de jogar ou quem desponta como a nova estrela do ano.
E na corrida de aventura as coisas não são diferentes. Acabou uma temporada, começa uma outra e já surgem especulações ou mesmo confirmações de novas equipes. Algumas que deixam de atuar, atletas que ficaram órfãos e procuram parceiros para mais um ano…
E 2008 promete ser um ótimo ano para a corrida de aventura no Brasil. O país ganha uma nova prova expedicionária, o Brasil Wild Extreme, que será realizado no primeiro semestre. Além disso, o já tradicional Ecomotion/ Pro será o Mundial de Corridas de Aventura. Pensando em tudo isso, os times se reformularam, um pra cá, outro pra lá, gente nova aparecendo. Mas uma só certeza, todos terão muitos desafios pela frente.
Também em 2008, comemora-se 10 anos da primeira prova de corrida de aventura no país. A Expedição Mata Atlântica, EMA, foi realizada em Ilhabela (SP) em 1998, dando origem à corrida de aventura no país. Ao todo foram quatro edições (1998, 1999, 2000, 2002), mas foi a partir dela que surgiram muitas das provas de hoje. Uma reedição dessa prova também pode acontecer em 2008.
A primeira grande prova acontece nos dias 15 e 16 de março, o Adventure Camp, em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. É a oportunidade dos times testarem suas novas formações e se conhecerem num ambiente de competição.
A reportagem do Webventure conversou com as principais equipes do país e você poderá acompanhar as mudanças, o surgimento de um novo time que promete brigar por pódio, a separação das meninas da Atenah, além de um super time que está em projeto para a disputa do Mundial – Ecomotion/ Pro.
Após a saída da SOS Mata Atlântica, Marcio Franco, Marcelo Magnanini, o Macuco, e Manuela Vilaseca, tiveram a idéia de montar um novo time. A amizade e o companheirismo fizeram nascer a Team Xpresso (leia a matéria completa).
A saída da SOS se deu por divergências de perfil e idéias. Recebi alguns convites de outras equipes, mas como haviam mais pessoas também saindo, conversamos e vislumbramos a possibilidade de montar uma equipe juntos, principalmente pela vontade de continuar a estar juntos, comentou Marcio. Macuco compartilha do mesmo pensamento do companheiro: não tenho nada contra ninguém, só não estava mais dando para correr junto. Não estava curtindo tanto as provas. Na corrida de aventura, muitas vezes tem o sofrimento e se não estiver curtindo com seus amigos, não tem motivo para estar ali. Precisa curtir o momento que se vai lembrar e dar risada depois, disse.
Em uma conversa informal em um treino em São Paulo, Erasmo Cardoso, o Chiquito, se uniu ao time. Ele e Marcio já haviam conversado a respeito dois anos antes. Também farão parte do grupo Vinicius Zimbrão, ex-Oscarica e Flavia Araújo, a Fuca, que já correu com várias equipes brasileiras e disputou o Ecomotion/Pro com a Landscape.
A base da equipe, para mim, é a mulher, e a Manu é muito forte. Temos uma vantagem de tê-la na equipe. No começo da prova ela está para trás, do meio para frente temos que gritar, Manu, vai um pouco mais devagar, pois ela é uma atleta de fundo, disse Macuco.
Objetivos – O objetivo principal da equipe é o Ecomotion/ Pro, que será no segundo semestre. Além disso, a Team Xpresso quer terminar o ano entre as três melhores do país. Vamos brigar por resultado. Se falar que não estarei mentindo (risos). Sempre brigamos no passado com essa formação, comentou Macuco.
Os atletas da equipe farão outros tipos de prova para se aprimorar no esporte, como campeonatos de mountain-bike, corrida, canoagem e triathlon. Marcio, por exemplo, disputará o Brasileiro de Kayaksurf.
Após um ano de poucas vitórias, o capitão da Quasar Lontra, Rafael Campos, quer mudar esse quadro.
Vai ser um momento de superação. No ano passado conseguimos pegar pódio em quase tudo, mas tivemos poucas vitórias. O Ecomotion/ Pro foi um resultado abaixo do que eu esperava. Quero reverter isso, disse Rafael.
O quarteto sofrerá uma pequena mudança no início deste ano. A mulher da equipe, Teesa Roorda, está nos Estados Unidos e só voltará a integrar a equipe em meados de abril. Para a disputa do Brasil Wild, Rafael convocou uma veterana, Sabrina Majella, que correu até o ano 2000, quando passou a se dedicar ao triatlhon.
Era uma época que ainda não existia a Quasar Lontra, e sim, a Quasar e a Lontra Radical. Sabrina chegou a participar do ELF, EMA, Desafio dos Vulcões, dentre outros. Fabrizio Giovanelli e Rodrigo Martins completam a equipe.
Outro reforço da equipe para o Brasil Wild será Erasmo Cardoso, o Chiquito, ex-Selva, que passou a integrar a novíssima Team Xpresso, mas correrá essa prova emprestado para a Quasar Lontra.
Voltas às provas – Vou continuar nas provas na medida que for dando tempo, por conta do trabalho e de outros compromissos. Pretendo voltar um pouco mais do que no ano passado, mas tenho que continuar trabalhando. Como os calendários ainda não estão definidos, não sei se conseguirei participar de todas etapas do Adventure Camp. Para as provas longas (Brasil Wild e Ecomotion/ Pro), com certeza, comentou Rafael.
A equipe está treinando junta para o Brasil Wild mas, os treinos diários, cada um faz individualmente. É bom para o pessoal conhecer a Sabrina e ela também conhecê-los, disse Rafael, que já participou de provas com a atleta no passado.
Na linha de largada para a temporada de corrida de aventura está a equipe brasiliense Oskalunga, formada por Guilherme Pahl, Frederico Gall, Kenny Sousa e Mirela Albreicht.
Diante de muito treino e grande afinidade entre os participantes, o capitão Guilherme Pahl se diz seguro tecnicamente e vê como maior desafio a logística da equipe sair de Brasília e ir para o interior de São Paulo fazer a disputa.
Para o Adventure Camp, eles buscam uma forma de transporte que permita levar atletas da cidade junto com eles para participar do Camp, que é a porta de entrada da corrida de aventura, de acordo com o capitão.
Estamos indo competir com a equipe Oskalunga e levando atletas da nossa cidade que querem iniciar no esporte, por isso estamos criando essa estrutura de transporte. A gente sempre teve dificuldade nisso, então queremos oferecer essa oportunidade para quem quer entrar na corrida de aventura, finaliza Guilherme.
Rumo ao tetracampeonato – O grupo está junto desde o início de 2007 e começa este ano sem modificações.
Guilherme afirma que eles irão para Pindamonhangaba somente com a vitória como meta. Oskalunga é tricampeã do circuito e vai com toda sua força buscar o tetra. Além disso, eles venceram todas as etapas do Circuito no ano passando, garantindo 100% de aproveitamento na competição (veja mais).
Queremos a vitória na primeira etapa para começar o ano com o pé direito, mas já começamos o ano bem porque fizemos uma prova em Florianópolis (SC), o Multi Esportes Brasil, onde disputamos nas categorias individuais canoagem, corrida, trilhas e ciclismo e conseguimos não só a primeira colocação geral no masculino e no feminino, como também a terceira, quinta e sexta colocação no masculino, contou Pahl.
Quem também está pronta para a temporada de corrida de aventura é a equipe SOS Mata Atlântica, comandada por José Roberto Pupo, ou simplesmente Zé Pupo.
Com a saída de Marcio Franco, Marcelo Magnanini, o Macuco, e Manuela Vilaseca no fim de 2007, Pupo reuniu outros amigos e atletas para formar a equipe que estará nas principais provas de 2008.
Juntam-se a ele Mateus Ferraz Gil, Ícaro de Oliveira, Cíntia Gonçalves, Cris Carvalho, Silvia Guimarães, a Shubi, e Fábio Batista.
Cris Carvalho e Shubi são velhas conhecidas na corrida de aventura e referência no esporte nacional. Até o ano passado, integravam a equipe Atenah, formada basicamente por mulheres. Nós temos uma amizade muito grande e até eu mesmo já corri pela Atenah, mas esse ano nós firmamos essa parceria e as duas vão correr com a gente, e a Atenah não corre esse ano. Depois que acabar a temporada a gente pensa no que fazer em 2009, declarou Zé Pupo.
Ele e Cris já disputaram duas etapas do Adventure Camp, em 2004, na equipe Mamelucos. Os dois voltam a correr lado a lado este ano e buscam o mesmo sucesso de anos atrás, quando alcançaram um primeiro e um segundo lugares.
É uma satisfação correr com ela. Ela é nossa treinadora, além de ser minha colega de faculdade, disse Pupo.
Sem chance de erro – O capitão tem o mesmo pensamento que outros capitães de equipes que disputarão o Adventure Camp: o maior desafio será ultrapassar a qualidade das equipes de ponta que concorrerão.
Geralmente no Camp ganha quem não erra, e para não errar tem que estar muito bem centrado. E nós estamos muito bem centrados e treinados, disse confiante. Estamos com uma sinergia muito boa, esse é o nosso diferencial, finalizou.
A equipe Selva é outra favorita para esta temporada de corrida de aventura, e tem sete integrantes divididos em duas partes: os que farão as provas mais curtas, com muita velocidade, e os que farão as provas mais longas, de expedição.
O time das provas longas será formado principalmente por Marcio Campos, Rosangela Hoeppner e João Belini. Erasmo Cardoso, o Chiquito, deixou a equipe no fim de 2007.
Nas provas curtas, a equipe muda e será formada por Caco Fonseca, Ursula Pereira, Hadi Akkouh e Alan Costa (que é aluno da assessoria esportiva de Márcio e pelo seu empenho e desempenho no esporte ganhou lugar no time).
O capitão Marcio diz que para a equipe que irá disputar o Adventure Camp os treinos estão específicos e intensos. Diferenciamos os treinos, que estão mais rápidos e mais curtos. Estamos simulando bastante subida, trechos técnicos de mountain bike e de corrida. São treinos curtos e explosivos, explica.
Além de todos os integrantes, a Selva contará muito em breve com mais um reforço: Camila Golubeff. Estamos preparando a Camila ainda. Ela está treinando com a gente, para pegar ritmo. Esse ano ela deve fazer cerca de duas provas conosco, mas sem comprometimento e, em 2009, ela entra em definitivo, antecipa Marcio.
Competitividade – Juntos há três anos, o capitão Marcio confia na experiência de sua equipe, mas está atento com o preparo dos outros times.
Todas as equipes estão bem treinadas, então quem agüentar mais, leva. O que pesa nem é tanto a parte técnica, subidas e descidas, e sim a resistência ao ritmo da prova. Quem conseguir comer direito, hidratar e dosar o ritmo vai vencer sempre, conclui.
A surpresa para muitos neste ano será a ausência da equipe Atenah, formada só por mulheres, que há sete anos estavam juntas. Mas as integrantes da equipe não saíram do esporte, e este ano irão disputar a temporada com outros times.
Silvia Guimarães, a Shubi, fundadora e capitã da Atenah, estará ao lado da equipe SOS Mata Atlântica nas provas de expedição de 2008. Além disso, representará a equipe nas provas individuais. É triste essa situação porque eu queria manter a Atenah, mas as meninas têm idéias mais ambiciosas e quiseram correr em equipes mais fortes nesta temporada. Foi por isso que está cada uma de um lado. Elas quiseram equipes mais bem preparadas e fortes para aproveitar que o Ecomotion valerá como Mundial, declarou Shubi.
Cris Carvalho, também ex-Atenah, correrá com a SOS Mata Atlântica, mas tem seu futuro indefinido com relação ao Mundial.
Eleonora Audrá, a Nora, outra fundadora da Atenah, e que está desde 2007 morando na Nova Zelândia com seu noivo, Ian, não se juntou a nenhuma equipe em 2008, mas garante que está treinando forte no país que mora para outras provas ao redor do mundo e que para o Mundial no Brasil ela virá com uma nova equipe.
Desde o Ecomotion/ Pro do ano passado, o Ian eu prometemos que iríamos fazer o Mundial no Brasil juntos. Uma espécie de “lua de mel” já que vamos nos casar logo antes da prova, véspera da abertura, no local da competição. Conversamos bastante e chegamos a conclusão de que para o Brasil estar entre as melhores do mundo, era preciso unir forças, e por isso convidamos o Rafael, da Lontra, e o Gui, da Oskalunga, para fazer parte da equipe com a gente, formando o Team Brasil. É a união de atletas de três das melhores equipes do país, antecipou Nora.
Eu tentei convencer todas elas [da Atenah] de permanecermos juntas até o final, mas elas não quiseram. Para 2009 é tudo uma incógnita. A Atenah não morreu, ela só está hibernando um pouco. Não dá para prever se vamos ou não correr juntas, disse a capitã Shubi, completando que Fernanda Maciel, também ex-Atenah, irá defender a equipe espanhola Abarth Teva, do capitão Antonio de La Rosa.
União que deu certo – Não será a primeira vez que Shubi correrá ao lado de Zé Pupo. Em 2002 eles participaram de uma prova no Vietnã, com 1000 quilômetros de percurso, e nela alcançaram o sétimo lugar.
Eu estou muito animada por estar na equipe da SOS. Quando o Zé Pupo correu na Atenah em 2005, nós ganhamos o circuito Brasil Wild e todas as outras provas que ele esteve conosco. Temos um bom histórico de provas e acredito muito na experiência dele e na sabedoria que ele tem, falou Shubi.
Ex-integrante da Atenah, Eleonora Audrá, a Nora, está desde o ano passado morando na Nova Zelândia com seu noivo Ian, mas os planos ao lado do futuro marido continuam dentro da corrida de aventura.
Os dois se preparam para a Keen Adventure Race, que acontece em abril. É uma corrida de 400 quilômetros na Austrália, a qual venceram na categoria mista na última edição.
Para o Ecomotion, Nora e Ian querem formar a equipe Team Brasil, ao lado de Rafael Campos, da Quasar Lontra, e Guilherme Pahl, da Oskalunga. De acordo com ela, será a união de atletas das três melhores equipes do país que irá para o Mundial, provar que o Brasil tem grandes atletas. A expectativa é grande entre eles, porém ainda não é certo que isso aconteça. Estamos nos planejando. Agora vamos atrás de um patrocinador para poder viabilizar a idéia, confirmou Rafael.
A distância entre Nora e Ian, Rafael e Guilherme é enorme, mas ela garante que mesmo longe, a equipe segue alinhada. Pelo menos com relação aos ideais. Estamos tentando viabilizar uma prova internacional antes do Ecomotion para entrosar a equipe. Mas sabendo que estamos todos atrás de um mesmo objetivo, com a experiência que temos e nosso profissionalismo, tenho certeza que vamos estar entrosados. Temos nos falado por e-mail e conversado muito sobre nosso potencial como equipe, nossa força, e sabemos das chances que temos de conseguir um bom resultado para o Brasil, confessou Nora.
Ela diz ainda que eles querem, acima de tudo, aproveitar o astral da equipe e dar o seu melhor. Já vimos tantas equipes internacionais se reunindo na véspera da prova e tendo bons resultados, completa. Nora garante que eles estão trabalhando firme na preparação. Desde treinamento e estratégia, até apoio financeiro.
Atenah ainda pode voltar – Não vejo o fim da equipe, estamos apenas aproveitando o momento e as oportunidades para correr com outros times, para voltar ainda mais fortes quando a oportunidade chegar. É muito difícil conseguir manter a equipe sem incentivo e patrocínio. A Atenah nunca vai acabar, ela vai estar sempre dentro de nós, falou Nora.
Para ela, a equipe conseguiu algo muito importante no esporte, e principalmente dentro da corrida de aventura: mostrar o potencial e força das mulheres na área, além de ter se tornado um símbolo da força feminina no esporte. Ela sempre será uma inspiração, e vai sempre estar dentro de cada mulher que acredita nos sonhos, disse.
Nora explica que a Atenah foi criada há sete anos com base no sonho das amigas de correrem juntas e que elas conseguiram não só provar que as mulheres são capazes de fazer esse tipo de esporte, como também que são peça fundamental no equilíbrio e estratégia do grupo.
Ainda quero fazer provas com as minhas irmãs Atenahs e se a oportunidade aparecer, vai ser uma grande prazer compartilhar as mesmas piadas, músicas e perrengues com elas. Correr entre mulheres sempre foi um grande astral e eu sempre aproveitei muito estar entre as minhas amigas. Da saudade de cada uma, assim como sinto falta delas no meu dia-a-dia aqui na Nova Zelândia. Eu tenho a Atenah dentro do meu coração, ela é como uma filha, finalizou.
Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni e Lilian El Maerrawi
Last modified: março 7, 2008