Elas se preocupam com alimentação, levam protetor solar e fazem academia para preparar o corpo. Apesar de todas estas características tão femininas, são mulheres que conseguem sucesso num esporte predominantemente masculino e que toparam o desafio do mais importante rali do Brasil, o Rally dos Sertões.
“Recebo bastante apoio, principalmente das mulheres. Elas dizem que eu sou uma representante delas no Sertões”, explica Helena Deyama que irá participar da prova pela segunda vez.
Helena começou a andar de moto aos 15 anos e sempre gostou de velocidade. Ninguém em sua família tem ligação com esse tipo de esporte. Em 1995, trocou a moto por um jipe. “As motos ficaram muito altas para mim”, brinca. A escolha se mostrou acertada e Helena nunca mais parou de correr. Sua companheira de Sertõe será Kátia Stefani. As duas conquistaram a 8ª colocação em 1999 na categoria Maraton.
Para a pilota, a principal diferença entre mulheres e homens no Sertões são os cuidados com alimentação. “A grande maioria deles pára no boteco e come qualquer coisa, às vezes até fritura. Nós levamos frutas desidratadas, água, um verdadeiro ‘quite de sobrevivência’. E não esquecemos nem do saquinho para jogar o lixo”, explica.
Outro fator limitador para as mulheres acaba sendo a família. Helena, por exemplo, acredita que só consegue participar deste tipo de competição por ser solteira e não ter filhos. “Acho que é muito complicado, a minha família me apoia, sempre fui independente. Dificulta sim mas já vi mulheres que deixam o marido cuidando dos filhos e vão correr”
Sua expectativa para este ano é, com mais experiência, ter uma colocação ainda melhor na prova.
Protetor solar – Há famílias em que os filhos aprendem a sentir o gosto de poeira desde pequenos. Correndo junto com seu pai, Moara Sacilotti, que começou com o motocross aos sete anos, mostra a força das mulheres também sobre duas rodas. Ela já é campeã da Copa Baja 2000 e luta para conquistar o Brasileiro, que terá etapas no Sertões.
“A desvantagem das mulheres numa prova como o Sertões é física. A gente acaba cansando mais. Eu faço uma preparação treinando duas horas todo dia numa academia para ganhar massa corpórea”, explica Moara que
participou da prova em 1998 e deixou de correr no ano passado por problemas com patrocinadores.
Ela também acredita que há cuidados que só as mulheres têm no meio do sertão. “Eu vou com o meu pai mas se eu não levo protetor solar, ele não lembra de levar. E se eu não passo, ele não passa também! Acho que as mulheres são mais organizadas, têm mais disciplina. Não só com comida, mas também com horários e com a preocupação em relação ao sono”
Moara afirma não sentir muito preconceito. “O que há é uma coisa muito leve e indireta. Acho que no fundo nenhum homem gosta de perder para uma mulher”, brinca.
Vantagens femininas – A curitibana Priscila Bonacim é outra representante do time feminino no Sertões. Este ano ela estará participando pela terceira vez da competição ao lado do seu pai, o piloto Luiz Bonacim Filho.
O principal objetivo desta estudante de administração de 21 anos é conseguir terminar a prova. “É claro que estaremos indo com o máximo de técnica e profissionalismo. Porém, o mais importante é chegar até o fim”
Ela arruma um tempo entre a faculdade e os exercícios físicos para ajudar o pai a arrumar os últimos detalhes para a prova. “Ele cuida mais da parte mecânica. Eu me preocupo com as coisas ligadas à navegação, como o GPS, por exemplo.”
Ao contrário do que muitos podem pensar, Priscila acredita que as mulheres levam algumas vantagens no Sertões. “Se o pneu fura, por exemplo, sempre aparece alguém disposto a ajudar”, brinca.
Este texto foi escrito por: Débora de Cássia