Roberta Stopa é a segunda do ranking (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
No início do mês de setembro acontecem as disputas do Campeonato Mundial de Mountain Bike, na Austrália. O Brasil contará com seis representantes nacionais: Rubens Donizete, Edivando Souza Cruz e Ricardo Pscheidt na prova principal, Henrique Avancini e Shermann Prezza de Paiva, na sub-23, e Frederico Nascimento Mariano, na Júnior
Na competição internacional, a seleção Brasileira não contará com a presença de atletas da categoria feminina, mesmo tendo cinco vagas asseguradas pelo ranking internacional. A decisão da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), juntamente com o técnico do time nacional, Eduardo Ramires, foi muito contestada pelas atletas. No último fim de semana, durante a final da Copa Internacional de Mountain Bike, uma das mais importantes do país, em Congonhas (MG), as atletas correram com uma fita preta no braço, em sinal de protesto. Na competição, Erika faturou seu quinto título, se tornando a maior vencedora da disputa.
A opção por não levar nenhuma atleta mulher para o Mundial foi tomada por Ramires, que questionou a falta de índice técnico das competidoras. Acompanhei as últimas competições internacionais, como Pan-Americanos e Mundiais e também as provas aqui no Brasil e a avaliação que eu tive é que as atletas estão acomodadas. Como não há muitas competidoras de elite competindo, e com a saída da Jaqueline Mourão também, isso é um alerta para que elas corram atrás e reformulem o esquema de treinamento que estão fazendo para melhorar a performance física, explicou o técnico.
Jaqueline Mourão, citada por Ramires, é a única atleta brasileira a disputar as Olimpíadas de verão e inverno. Dentre outros títulos, a atleta garantiu a 19ª posição nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, 5º lugar no Pan-Americano do Rio de Janeiro-2007. 18º lugar em Atenas-2004, foi tetracampeã brasileira de MTB Cross-country e eleita cinco vezes pelo Comitê Olímpico Brasileiro a melhor da modalidade.
Logo que a opção do técnico foi definida, Érika Gramiscelli, líder do ranking nacional, seria o primeiro nome a ser escolhido para o Mundial, assim como Roberta Stopa, segunda colocada. A vencedora da Copa Internacional MTB afirma que as competições e a Confederação da modalidade não dão um respaldo suficiente para o crescimento. Não sei se é preconceito ou machismo, sinceramente, fiquei pasma com as palavras dele. É um técnico, confiamos, damos credibilidade para ele nos representar da melhor forma. E ele simplesmente disse que o motivo era falta de nível para competir no Mundial. Foram questionadas várias coisas, como rever nossa performance física, que faltava garra nas categorias femininas. Eu fiquei chocada, o problema não era por questões burocráticas, disse a atleta.
A jornalista Renata Falzoni, referência nas competições de aventura, em seu Twitter, declarou que ambas as partes da discussão tem pontos de razão. Mulheres brasileiras excluídas do Mundial de MTB, ambos lados têm razão, está muito baixo o nível do Mountain Bike delas; mas dizer que mulher não aguenta dor é mancada! As atletas de MTB podem estar fracas, mas mulher agüenta dor sim, afirmou a biker e repórter.
Alerta – O anúncio de Eduardo Ramires foi, para o técnico, um alerta para as competidoras melhorarem seus desempenhos e não questiona a habilidade de nenhuma delas. Se eu não tomasse uma atitude que as alertasse, para se fortalecerem até o próximo Pan-Americano em março de 2010, ficariam estacionadas. Elas têm um prazo mais do que suficiente para atingirem um pico de performance, e serão novamente avaliadas. Elas não estavam conseguindo nenhum bom resultado em provas de Pan-Americano, afirmou Ramires.
Érika, por sua vez, não entendeu os questionamentos da entidade e chegou a escutar que ela e Stopa deveriam ser mais agressivas nas provas. Está um ponto de interrogação enorme, qual a conclusão que eles chegaram que não temos nível para competir um Mundial? Ele não tem parâmetro, pois pedi dispensa do Pan-Americano, pois estava me preparando para a temporada de 2009. Para ir e ser mais uma para fazer número, não iria. O parâmetro que temos é de um levantamento dos resultados das provas nacionais entre homens e mulheres, e indiscutivelmente a categoria feminina tem mais medalhas, questionou.
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A decisão tornou-se mais polêmica quando, na última etapa da Copa Internacional MTB, realizada no domingo (23), as mulheres competiram com tarjas pretas em protesto. Grande parte da categoria feminina entrou no protesto contra a decisão. Todas tomaram conhecimento do que estava acontecendo e ficaram indignadas. Foi mais ou menos assim: vão pilotar fogão porque bicicleta vocês não sabem. Foi um protesto para mostrar que estamos na ativa, que temos garra, força e determinação, disse Gramiscelli.
Já imaginando a repercussão que tomaria, Ramires acredita que a decisão não irá prejudicar o trabalho de ninguém. O técnico disse que a situação do mountain bike feminino está acomodada e que o objetivo e treinamento das competidoras se limita a provas do Brasil.
Sabia da polêmica que causaria, mas preferi assumir a responsabilidade de tomar essa atitude agora. Ano que vem a pontuação valerá para a seletiva olímpica, e poderia acontecer do Brasil não conseguir vaga para os Jogos Olímpicos, afirmou Ramires.
Soluções – O técnico da seleção brasileira declarou que suas afirmações podem ter sido interpretadas de uma forma diferente. O protesto foi a forma das competidoras mostrarem a indignação. Foi um alerta que elas precisam se mexer. Ano que vem queremos levar os atletas para a Copa do Mundo, para conquistar mais pontos. E do jeito que está não conseguiríamos vagas nenhuma, garantiu.
Érika disse que as declarações foram absurdas, pois a comparação que o dirigente faz do nível técnico das atletas nacionais com as internacionais é injusto. Quero perguntar para o José Luiz Vasconcellos (presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo) o que ele acha da declaração do técnico que ele escolheu para tomar conta do MTB e ele falar coisas absurdas como essa. Não temos como comparar o nível brasileiro com o internacional. Um exemplo é o César Cielo, que treina fora do Brasil. Não tem nível técnico para nenhuma modalidade no país. O Ramires fala que precisamos mostrar serviço no Pan-Americano de 2010. Como estaremos lá com atletas tops e a gente corre só no Brasil, sem apoio e sendo discriminada pelo que fazemos? E também, não há como ser 100% o ano todo, os objetivos são determinados, declarou a líder do ranking.
Outro fator que revolta ainda mais as mulheres é que, em maio deste ano, o Banco do Brasil fechou um patrocínio milionário com a CBC, que visa fomentar o ciclismo no Brasil e dar recursos para os atletas participarem de competições internacionais.
Este texto foi escrito por: Bruna Didario