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Na avenida dos vulcões do Equador: a escalada no Cotopaxi


Cume do Cotopaxi (foto: Arquivo pessoal/ André Dib)

O Equador é um pequeno país ao noroeste da América do Sul, espremido entre o Peru e a Colômbia e cortado pela mais extensa cadeia de montanhas do mundo, os Andes. Nessa região, porém a Cordilheira se divide em duas, denominadas de Cordilheira Oriental e Ocidental.

Entremeadas por um longo vale e compostas por pequenos vilarejos indígenas, a região foi “batizada” pelo alemão Alexander Von Humboldt, no século XIX, de “Avenida dos Vulcões”. Expressão que define bem esse território salpicado de “gigantes” que se expõem soberanos e determinam a paisagem.

Nesse território, existem cerca de 30 montanhas de origem vulcânica e muitos desses vulcões, que ainda permanecem ativos, já causaram centenas de mortes ao longo dos tempos. As histórias são muitas: A cidade de Latacunga, já foi devastada duas vezes pela erupção do Cotopaxi. Em suas ruas repousam milhares de pedras lançadas pelo vulcão a cerca de 80 km de distância, algumas delas com mais de uma tonelada, testemunham a dimensão da tragédia. O Tungurahua explodiu no ano passado e matou alguns habitantes locais. Cerca de 5000 pessoas tiveram que deixar suas casas às pressas e muitos hectares de roça foram queimados pela lava. A população, porém, já se acostumou com a natureza instável e convive em harmonia nesse universo de humor inconstante.

Expedição – Eu e mais dois companheiros de montanha, Geraldo Osório e Luiz Guimarães, estivemos na região em 2008, em busca dos cumes gelados desses magníficos vulcões. Nosso objetivo, além de outras montanhas menores, era o cume do lendário vulcão Cotopaxi, que desde os primórdios, alimenta os mitos, ilustra e compõe a história do Equador. Para isso, organizamos um cronograma de aclimatação. Aclimatação é o processo de adaptação que o corpo necessita para se ajustar, gradativamente, à baixa pressão atmosférica e conseqüentemente, com o ar rarefeito.

Vale destacar as paisagens surpreendentes que encontramos pelo caminho, entre elas a laguna de Quilotoa, uma admirável cratera vulcânica, rodeada por penhascos vertiginosos e guardando um misterioso lago verde esmeralda no seu interior.

Após seis dias de preparação, seguimos para o vulcão. Chegamos ao refúgio da montanha, por volta das 16h, jantamos e procuramos repousar cedo. Precisamente à meia-noite, acordamos e começamos arrumar as provisões.

Checamos os grampons, piquetas, polainas de neve e as cadeirinhas de escalada, itens fundamentais para a ascensão em gelo. Encordados, seguimos um a um montanha acima. As lanternas frontais (de cabeça) iluminavam o caminho enquanto a umidade implacável se adensava no Capuz do Anorake, cristalizando-se nos cílios e atrapalhando a visão.

A subida nessa montanha deve ser iniciada na madrugada, pois a neve é mais firme e oferece melhores condições para a subida, além de mais compacta, evitando assim o desprendimento de placas e uma possível avalanche.

A cada ano, centenas de pessoas se arriscam em busca de aventura e da imensidão, propiciada pela vista do cume, porém os números indicam que apenas 30% concluem o feito.

Apesar de não ser uma subida técnica, é raro uma temporada sem acidentes fatais, onde a força de vontade e um bom preparo físico são fundamentais para se atingir o objetivo final. A aparente placidez na imensidão branca, inerte, esculpida pelo vento, esconde traiçoeiras gretas, que, sem o conhecimento de um guia experiente e uso correto dos equipamentos, pode sorver uma pessoa para uma morte certa.

Cautela e segurança – Os edemas pulmonares e cerebrais são as principais causas de falecimento na montanha, causados pela altitude e potencializados pelas infindas ladeiras que compõem esse vulcão de formas perfeitas, com seus 5.897m.

O cume surgiu com o dia. Ao amanhecer avistamos o tão almejado destino. O mal-estar causado pelo ar rarefeito naquelas alturas conflitava com a experiência efêmera, única e irreproduzível.

As pernas cansadas e a dor de cabeça, no entanto, não tiravam a sensação da conquista. A cratera se expunha como um grande buraco negro, expelindo fumarolas de enxofre, e o vento, impetuoso, nos trazia a sensação de liberdade.

Dicas

Este texto foi escrito por: André Dib