Melhor downhiller do Brasil, o catarinense Markolf Berchtold, 19 anos, está de férias depois de rodar pelos continentes com a Copa do Mundo. Isso não quer dizer que ele consegue ficar longe da bike: Markolf está participando do Campeonato Fluminense, que termina em dezembro. A diferença está em andar ‘sem a preocupação de vencer’ e ter todo o tempo para pensar nos segredos que o fazem o 26º no ranking mundial que ele, “em breve”, pode até liderar.
Um dos programas de férias de Markolf foi passar pela Adventure Sports Fair, na semana passada, em São Paulo. Passeando pelos corredores da primeira feira de esportes de aventura do Brasil, o biker sentiu falta de estandes com pranchas de surfe e motos, as outras paixões na vida do atleta. E revelou à Webventure o que houve de errado na aparentemente perfeita temporada 99 e como se comportar para chegar um dia ao topo do downhill mundial.
Webventure – Como vão as férias?
Markolf – Estão ótimas. Cheguei hoje para a feira, amanhã viajo para Parati, onde participo de um campeonato que o meu pai organiza. Depois, vou para o Rio, correr o Fluminense.
Webventure – Que férias são essas?!
Markolf – Não dá pra ficar longe da bike… mas a diferença é que eu ando sem a preocupação de ganhar e reencontro o pessoal que não vejo há muito tempo. Mas vou voltar logo aos treinos porque tenho algumas coisas para corrigir em relação à esta temporada. Várias coisas deram errado…
Webventure – Por exemplo…
Markolf – Meus pneus furaram em duas provas importantes, isto é o tipo de coisa que não pode acontecer nunca. Também teve o lado de eu ter que fazer tudo, andar, ajustar a bike, consertar o que precisasse… Os outros bikers só se preocupam em andar.
Webventure – Quanto a isso, o que você está combinando com a Scott para 2.000?
Markolf – Provavelmente agora vamos viajar com um ajudante de mecânica. Já é alguma coisa.
Webventure – Seu plano é ficar entre os 10 primeiros do ranking no ano que vem. Ainda é cedo para superar o francês (Nicolas Vouilloz), oito vezes campeão do mundo?
Markolf – Ele é um cara que eu admiro muito. Está no topo não porque é ‘o cara’, mas porque pegou a modalidade num momento ainda amador e a transformou. O Nicolas é um pioneiro, vive daquilo. Ele é bastante reservado, muito inteligente e tem uma estrutura toda voltada para ele, com engenheiros e tudo.
Webventure – Você se espelha nele?
Markolf – Com certeza, apesar de eu tentar ter os meus próprios pensamentos. Se um dia eu fizer a metade do que ele fez, estarei feliz da vida. Vai ser difícil alguém conseguir ultrapassá-lo. Não digo que ele é um deus, mas o cara já entrou pra história. Sinceramente, um segundo lugar atrás dele é um vitória.
Webventure – Aqui no Brasil você é muito admirado. Os outros bikers vêm perguntar seus segredos, pedem pra treinar com você?
Markolf – Sim e eu não escondo, o que eu acho que posso contar eu falo. Mas tem coisas que guardo só comigo, que fazer a diferença pra mim.
Webventure – Já existe cobrança? Tem gente que acha você metido por causa desta sua auto-confiança?
Markolf – (rindo) Não sei, pode ser… Sem querer me superestimar, sou um cara simpático, falo com todo mundo. Mas tem horas, como antes das provas, em que eu me reservo. Então pode ser que alguém pense: ‘puxa, o cara não tá dando bola pra gente…’ Mas nunca ninguém me disse isso.
Webventure – Viajando tanto, você às vezes deve se confundir, esquecer até em que país está. Não dá nem pra passear nos intervalos das provas?
Markolf – É muito difícil. Mas o que eu gosto mesmo de fazer nas horas de descanso é deitar e ver TV, relaxar mesmo, ficar ‘na horizontal’, como diz um amigo meu. E pensar muito em maneiras de andar melhor. Para muitos bikers esses detalhes não fazer a diferença, mas para mim são fundamentais e para os melhores pilotos do mundo também.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira