Quando nós decidimos participar do rali Paris-Dakar, em agosto de 1987, a prova tinha um super-herói de verdade, de carne e osso. Os feitos dele eram de um gigante, mas parecia uma criança. Estamos falando de Cyril Neveu, que até 1998 era o recordista de vitórias no Dakar: cinco. Foi superado por outro francês, Stephane Peterhansel, que conquistou seu sexto primeiro lugar no Dakar 1998.
Na véspera do Natal de 1978, 167 concorrentes estavam reunidos no centro de Paris para a largada da primeira edição do rali Paris-Dakar. Naquela época não havia distinção das categorias moto, carro ou caminhão. Neveu era um dos pilotos. Não se falava em times oficiais, nem em esquemas de assistência e os comentários eram de que a “coisa era pouco séria”.
Apenas 69 concorrentes – arrasados – chegaram a Dakar. Neveu venceu com uma Yamaha XT 500, tomando um pequeno tombo na rampa de chegada. Chovia naquele dia e o 1,60 metro de altura do piloto não ajudava muito.
Para a edição de 1980, vários erros da organização são corrigidos, inclusive a contratação de uma cozinha militar para acompanhar a corrida e acabar com os problemas e doenças provocadas pela comida africana. A indústria automobilística pressiona e Thierry Sabine, o inventor do Dakar, cria as categorias Carro, Moto e Caminhão. São 204 concorrentes e o ritmo cresce.
Pela segunda vez Cyril Neveu vence com Yamaha XT 500 e transforma este modelo num dos maiores sucessos da fábrica japonesa. Neste rastro nascem as estrelas e cresce o número de participantes: 276 veículos. Mas nesse ano Neveu não chega ao pódio.
Em 1982 são 320 veículos e os esquemas já são pesados. A vitória no Dakar tornou-se uma excelente operação promocional. Mas há também os momentos de pânico. Muitos se perdem, entre eles Mark Thatcher, filho da “Dama de Ferro”. A repercussão foi enorme, maior do que a terceira vitória de Neveu, agora com Honda.
Para o ano seguinte, em 83, Sabine preparou um percurso diabólico e Neveu mais uma vez fica fora do pódio, como em 1984 e em 1985, numa prova com 14.000 quilômetros Neveu termina em quinto. Dos 550 que largaram, apenas 126 completaram o rali. Foi duríssimo.
Mas Thierry Sabine não estava satisfeito e queria mais. Para 1986 ele montou um roteiro com 15.000 quilômetros. A Honda preparou uma moto especial e com ela Neveu chegou a seu quarto título, mas com pouca comemoração, pois foi nesta edição que Thierry Sabine, o Deus criador do Dakar, morreu com outras cinco pessoas num acidente de helicóptero.
Quando a prova veio para sua nona edição, Neveu venceu pela quinta vez, numa disputa acirrada até o final com o atual organizador do rali, o francês Hubert Auriol. Foi uma façanha: 9 participações, 9 chegadas, cinco vitórias, uma estatística imbatível. Além dele, os outros quatro títulos ficaram nas mãos de Hubert Auriol (1981 e 1983) e do belga Gaston Rahier (1994 e 1995).
Neveu competiu no Dakar até 1992, sem mais vitórias, e, segundo as más línguas, pedia salários enormes e não encontrou patrocinadores dispostos a bancá-lo. Atualmente ele organiza provas de várias modalidades, como um rali de jet-ski no Mediterrâneo e o Rallye da Tunísia, prova apenas menos importante que o próprio Dakar.
André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.
Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax