Depois de 11 meses de planejamento e preparação para o rali Paris-Dakar, chega a hora de fazer as malas. Uma das perguntas que mais ouvimos é: “As malas já estão prontas?” Gostaríamos de responder que sim, ou pelo menos ter um quarto só nosso, para colocar as bugigangas conforme elas fossem ficando prontas. Um quarto não, na verdade precisaríamos de um galpão.
Para não esquecer de nada, um check list sempre é bom… Dá medo o que tem de coisa para levar. E o espaço é reduzido. Nosso escritório e nossas casas já entraram na roda e se tornaram um depósito. Reuniões aqui? Só com os íntimos. Caso contrário corremos o risco de ver uma bela imagem arranhada.
Também não estamos falando de uma mala, mas de várias. Pelo menos duas das grandes para cada piloto. E olha que levamos só o essencial. São 20 dias de prova. Quem sofre mais com este arrocho são os pilotos de moto. Apenas um capacete Bieffe, palas dianteiras de reserva e um par de botas Kaerre. E se vire com o chulé e com a areia. Levamos três calças de motocross e quase uma corrente para elas não saírem andando sozinhas.
São duas jaquetas Kaerre especiais para a prova, uma para dias de frio e outra já para o calor, 10 camisetas, e poucas coisas a mais, já que nosso espaço é contado e peças de reposição, parafusos ou lubrificantes têm preferência. Levamos várias cuecas, afinal depois de um dia de luta, suor e areia, o material se transforma numa lixa, podendo provocar estragos numa região, digamos, no mínimo embaraçosa para se procurar um médico.
Mas nossa mala não é tão simples, ela é mais completa. Você não pode esquecer do material para o banheiro, mas não se preocupe com o xampu ou o sabonete: provavelmente eles serão de pouca utilidade. É melhor pensar em papel, um bem macio, pois o banheiro no deserto é gigantesco e tem vista panorâmica. E não podemos esquecer de uma lanterna, para não pisar em “terreno minado”.
Calma, a mala não acabou. Você é supersticioso e tem algum amuleto. E a foto da família. Se você não tem filhos, leve foto dos sobrinhos. Assim, se você cair na mão de um guerrilheiro, ainda terá a chance de persuadi-lo com uma conversa melosa sobre os futuros órfãos.
E tem mais. Lembre de levar a casa dentro da mala. Estamos falando sério. Leve sua barraca e seu saco de dormir, pois a noite é linda, mas muito fria, além da barraca servir para guardar seus pertences das milhares de tentativas de furtos que você irá sofrer. A frase “as estrelas são o meu teto” soa melhor quando você está muito bem acompanhado em um paraíso.
O Dakar é assim: adrenalina até na hora de fazer a mala.
André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.
Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax
Last modified: dezembro 23, 2000