A estréia da Equipe Petrobras Lubrax no rali Paris-Dakar aconteceu no dia 1 de janeiro de 1988 e nossas condições eram mínimas: não tínhamos experiência e, como a importação era proibida naquela época, só fomos conhecer as motos, as Yamaha XT 600 Ténéré, poucos dias antes da largada, já na Europa.
Sem contar que ter mecânicos ou caminhões para transportar peças não passava de sonho e a organização ainda não havia criado o apoio que atualmente ela dá aos pilotos de motos, transportando uma caixa de peças e duas rodas para cada competidor. Não completamos a prova, mas ao nosso lado, na lista de abandonos, estava o francês Stephane Peterhansel, atual recordista de vitórias no rali, com seis títulos sobre duas rodas.
Ele debutava no Dakar de uma maneira bastante diferente da nossa. Peterhansel já colecionava títulos internacionais, como o Campeonato Mundial de Enduro, e fora contratado pelo chefe da Yamaha França, Jean Claude Olivier, para pilotar numa das maiores estruturas da competição. Para se ter uma idéia, a equipe tinha dois pilotos de ponta, Peterhansel e André Malherbe, um múltiplo campeão mundial de motocross que também estreava no Dakar. Mas infelizmente André sofreu um acidente gravíssimo e ficou tetraplégico.
Para dar um apoio rápido a estes dois pilotos, a Yamaha usou mais duas motos, uma pilotada pelo próprio “big boss” Olivier, três Mitsubishi Pajero, quatro caminhões de assistência e um batalhão de mecânicos no avião da organização. Um exército de 40 pessoas. Toda esta preparação não impediu o vexame da equipe que, além de sofrer com o acidente de Malherbe, também viu Peterhansel se perder no deserto e ter de abandonar seu protótipo de 150 mil dólares nas areias do Saara.
Mas o Dakar é feito de persistência e consistência. Peterhansel continuou recebendo todo o apoio do importador francês, por vários anos, chegando a repetir o fracasso em 91, quando novamente, perdido, acabou com a gasolina e foi resgatado pelos helicópteros da organização.
O apoio continuou e, em 1992, na edição do Dakar que ligou Paris à Cidade do Cabo, Peterhansel conquistou sua primeira vitória, repetindo o sucesso em 1993. Em 1994 sua equipe não competiu e no ano seguinte ele voltou a colecionar títulos, somando aos de 96, 97 e 98, quando se tornou o primeiro ser humano a conquistar seis vitórias no Dakar.
Para alegria dos outros pilotos de motos, Peterhansel decidiu encerrar sua carreira sobre duas rodas e começou a correr de carro, coisa que ele já vinha fazendo em outras categorias, como o kart e o troféu Andorra de Corridas, no gelo. No Dakar 1999 ele competiu com um Nissan Patrol na categoria T3, conquistando a sétima posição, a melhor colocação da marca japonesa nesta edição do rali. Em 2000 ele pilotou o protótipo Mega, com mecânica Mitsubishi, e subiu ao pódio colado no campeão, garantindo o segundo lugar. Parece que em duas ou quatro rodas, o “bicho papão” do deserto vai pegar.
André Azevedo, 41, e Klever Kolberg, 38, são pilotos da Equipe Petrobras Lubrax e participam do rali Paris-Dakar há 13 anos.
Este texto foi escrito por: André Azevedo e Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax
Last modified: novembro 26, 2000