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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2002: Largada

Redação Webventure/ Parceiros

Eu e o André Azevedo estaremos vivendo histórias parecidas nos próximos dias, disputando a 24a edição do Rally Paris-Dakar. Mas as diferenças serão grandes, já que eu estarei pilotando um Mitsubishi Pajero Full e ele um caminhão Tatra. Então, as quatro mãos passam a trabalhar separadas também para os próximos artigos sobre os bastidores da prova, que passam a ter um caráter mais pessoal. Mas existem emoções que foram praticamente as mesmas, como a emoção de subir a rampa de largada pela 15a vez consecutiva.

Sem dúvida foi um grande momento. Um privilégio de mais uma vez estar aqui representando nossos patrocinadores e, mais do que isso, representando o Brasil! Afinal, sempre nos citam fazendo uma referência à nossa nacionalidade. É um orgulho difícil de explicar, assim como não é simples a tarefa de colocar em palavras o custo desta conquista, como passar vários natais e réveillons longe da família, dos amigos, dos confortos e mordomias caseiras. Já se vão 15 anos. A saudade começa a bater forte e as lembranças nos emocionam quando tocamos neste assunto. O tempo literalmente voa.

Talvez o frio intenso do inverno europeu nesta época do ano tenha sido um adversário com maior presença, incomodando tanto que nos faz esquecer estas alegrias brasileiras. Depois de tanto tempo, ainda não nos acostumamos à esta temperatura e ao cardápio local. Mas algumas coisas mudaram e uma série de progressos foi alcançada.

Quinze anos atrás eu e o André estávamos na largada. O frio era forte e a solidão era completa, apesar de estarmos cercados por milhares de espectadores. A ansiedade era ainda maior, assim como a enorme bagagem que amarramos nas motos: mais de 60 quilos de peças, câmaras de ar, ferramentas, saco de dormir, equipamentos de segurança, sinalização e mais algumas poucas cuecas e meias.

Não tínhamos qualquer equipe de apoio; ela estava literalmente nas nossas costas. Nem existia o atual auxílio que a organização criou para os motociclistas (aviões transportam uma caixa metálica e um par de rodas para cada motociclista). Nem mecânicos, nem jornalistas e nenhum outro brasileiro havia tentado ou estava experimentando esta aventura.

Isso mudou bastante. Hoje já dispomos de um pouco de luxo, se é que esta palavra pode ser pronunciada num rali onde os banhos são raros. No meu carro e no caminhão do André há espaço para carregar muito mais bagagem, mas hoje já dispomos de uma equipe de apoio que carrega quase 20 toneladas de equipamentos, ou seja, 360 vezes mais do que eu levava na garupa da moto. E, acredite se quiser, ainda é pouco.

A experiência também cresceu nestes últimos 15 anos, mas frustrando algumas expectativas, nossa tensão ainda é grande. Conhecimento ajuda o planejamento, mas a implementação de um projeto é o momento que consome mais energia porque nesta fase só o desempenho interessa. E a bandeirada de largada representa exatamente este momento.

Esta pressão vem de vários lados. Existe a tradicional evolução dos equipamentos e concorrentes; e o percurso, secreto, que muda todo ano e é secreto. Só vamos ficar conhecendo os detalhes na hora da largada. A isso já estamos habituados. Existe o desafio dos pilotos que estamos trazendo para manter ou ampliar o espaço que conquistamos nas motos. O Juca Bala e o Luiz Mingione significam um enorme desafio. Ensinar, passar experiência e ajudar também são um grande teste para nossa capacidade. E depois de assumir este compromisso, em plena prova, vestimos a camisa do torcedor, preocupados com o estado físico e moral deles. Sem falar em toda a equipe que montamos e treinamos.

Mas a maior pressão vem de dentro, daquela cobrança pessoal, da vontade de realizar um grande sonho. A sensação é de haver um vulcão prestes a entrar em erupção. Talvez um grande crescimento em relação ao passado seja o domínio desta energia para começarmos com o pé direito, transformando nervosismo em concentração, dificuldades em vantagens e a sabedoria de que tudo deve ser enfrentado com bom humor para curtir os máximo os 10 mil quilômetros que vem pela frente.

Até a próxima!

E-mail: parisdakar@parisdakar.com.br
Site oficial: www.parisdakar.com.br

Klever Kolberg, 39, é piloto da Equipe Petrobras Lubrax e participa do rali Paris-Dakar há 15 anos.

A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, BR Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli e Eletronet, e apoio das Concessionárias Honda, VAZ Sprockets Chains, Carwin Acessórios, Controlsat Monitoramento de Frotas Via Satélite (Grupo Schahin), Iveco, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, Planac Informática, Nera Telecomunicações, Telenor, Dakar Promoções, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Vista Criações Gráficas e Webventure.

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax

Last modified: dezembro 27, 2001

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