Assim como existem várias personalidades ou temores, a coragem pode se manifestar de diversas formas, algumas saudáveis e outras creio que nem tanto. Para correr um rali como o Paris-Dakar é preciso saber discernir. Eu aprendi isto em pleno deserto e passei a tocar neste tópico em minhas palestras. Depois de ler um excelente artigo num livro especializado, a frase passou a ser a seguinte: Todo negócio embute certa dose de risco. O segredo do sucesso é aprender a ser ousado, não aventureiro. Enquanto o ousado assume riscos calculados, o aventureiro age sem pensar, sem se preparar.
Hoje estamos cercados por uma variedade de grandes temores que levam muitas pessoas a confundirem a bravura com a loucura. Ouço o tempo todo algo do tipo: Vocês são loucos de correr este desafio. Eu vivo na cidade de São Paulo. As notícias sobre doenças, roubos, assassinatos, acidentes, corruptos e até verdadeiras guerras entre gangues de traficantes fazem parte do cotidiano. Começam logo pela manhã com a leitura do jornal. Está certo, ninguém se inscreveu para desafiar este perigo, mas por outro lado não há muito que fazer para se prevenir. Justamente o oposto do Dakar.
Nestes primeiros dias de prova, mesmo com muito treinamento, é preciso ter muita coragem, da boa, que quer dizer confiança, porque é preciso saber o que se está fazendo e acreditar na sua capacidade, no seu talento, para chegar no meio deste deserto e sair acelerando. No Saara as velocidades são maiores do que numa prova no Brasil. Quanto mais rápido, menor o tempo de reação para corrigir um erro, ou maior precisa ser o espaço para frear. Então esta é a confiança na técnica e no treinamento.
Esta coragem também está ligada a outro T. É a confiança depositada no T de tecnologia. Eu preciso ter certeza de que o motor e todos os outros componentes de meu Mitsubishi irão agüentar o duro teste que será imposto. Para conquistar um bom resultado vou precisar acelerar o máximo, o tempo todo. Não posso nem pensar em poupar o motor. O lubrificante que faça sua parte. Preciso confiar nos freios ou andar rápido sobre pedras afiadas que insistem em cortar os pneus. Para que eu possa me concentrar não posso pensar na possibilidade de um furo e do que pode vir na seqüência, como um capotamento. Acredito nos meses, quilômetros de testes e nos conhecimentos dos engenheiros da Pirelli.
E para finalizar esta bagagem com chave de ouro, preciso ter segurança no trabalho da equipe. Os parafusos precisam estar bem apertados. O caminhão de apoio precisa cumprir a etapa. Afinal ele também está cruzando o deserto, podendo se perder, quebrar, atolar, enfim, sofrer um acidente. Todos sabem qual é nosso objetivo e a importância de darem o melhor de si na hora de desempenharem suas responsabilidades.
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Klever Kolberg, 40, é piloto da Equipe Petrobras Lubrax e participa do rali Paris-Dakar há 16 anos.
A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Minoica Global Logistics, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Mitsubishi Brabus, IBM, Planac Informática IBM Business Partner, Nera Telecommunications, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Sadia, Dakar Promoções, Vista Criações Gráficas, Kodak Professional, Adventure Gears, Mercedes-Benz Caminhões e site Webventure (www.webventure.com.br).
Este texto foi escrito por: Klever Kolberg