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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2003: O nada

Este é o primeiro ano que meu co-piloto no Brasil, Lourival Roldan, me acompanha no Dakar. Ele não tem descrito muito a impressão dele sobre o rali e, também como passamos 10 horas por dia dentro do carro e o resto no acampamento, dá até vontade de fugir deste assunto. Mas além do rali existe o deserto, que é eterno, mais importante. Nem sempre me sinto inspirado para descrever o deserto. Gosto de ver o que os outros estão falando, mas também aquelas observações típicas do tipo “é um lugar magnífico” e “as paisagens são belíssimas”, não me dizem nada.

Pouca gente lembra, mas meu primeiro navegador num carro, em 97, quando estreei com um Mitsubishi Pajero, foi o João Lara Mesquita, e eu nunca vou esquecer uma frase muito forte dele: “Eu não agüento mais ficar no meio desta miséria”, se referindo ao modo de como vivem as pessoas no deserto.

Assim como o Mesquita, outro dia o Lourival tirou as palavras de minha boca: “Isso aqui é um imenso mundo de nada”. E como descrever o nada? Este é um lugar onde mudam os valores. Graças à estrutura da equipe, após três dias sem banho, alguém conseguiu achar perto do acampamento um hotel. Parecia miragem, nada de odaliscas, mas água quente e uma cama com roupa limpa. Foi demais, um prazer indescritível com uma coisa tão simples. Foi um passeio no paraíso. Talvez o nada tenha esta capacidade de valorizar o que não damos valor.

Ou então quando cruzamos uma região vulcânica. Os organizadores até brincaram, nos avisando para levar equipamento para uma expedição. Mas na verdade foi uma pedreira. Literalmente. Subimos para um platô, onde rodamos cerca de 250 quilômetros, intermináveis, pois ele era escuro, com trilhões de rochedos daquele tipo formado pela lava de um vulcão. Não dava para andar 20 metros sem ter de fazer uma curva para desviar de um monte de pedras, primeira e segunda marcha no máximo, e que dificuldade para achar o caminho, a saída daquele labirinto, sem uma gota d’água, sem um verde, sem uma alma viva, e uma poeira escura. E o incrível. Por vezes já falei da poeira dos concorrentes me atrapalhando. Desta vez o vento estava soprando no mesmo sentido em que andávamos. Como o trecho foi super sinuoso, fui, várias vezes, ultrapassado pela minha própria poeira. E de quem reclamar? Do nada?

Acompanhe a cobertura do Paris-Dakar pelo site www.parisdakar.com.br

Klever Kolberg, 40, é piloto da Equipe Petrobras Lubrax e participa do rali Paris-Dakar há 15 anos.

A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Controlsat Monitoramento Via Satélite, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, IBM, Planac Informática IBM Business Partner, Nera Telecommunications, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Sadia, Dakar Promoções, Vista Criações Gráficas, Kodak Professional, Adventure Gears, Mercedes-Benz Caminhões e site Webventure (www.webventure.com.br).

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg – No Egito