Esta será a 16ª participação consecutiva da equipe Petrobras Lubrax no Rally Paris-Dakar. Muita coisa mudou. Compare.
Em janeiro de 1988 as dificuldades para brasileiros começavam com as regras da economia. O câmbio do dólar já era instável e a importação proibida. Então eu e o André Azevedo só fomos pilotar as duas Yamaha Ténéré nas vésperas da nossa estréia. Os equipamentos não vinham preparados, como a KTM 660 que Jean Azevedo utilizará em 2003. Os serviços de apoio, como o contratado neste ano para trabalhar na manutenção e reparos do meu Mitsubishi Pajero Full, não existiam. Eram poucos os preparadores e fornecedores para o Dakar. Também não existia a Internet, que trouxe tremenda facilidade para pesquisa.
O desempenho dos veículos era muito inferior, menos potentes, mais pesados e não eram projetados para aquele uso, tornando-os mais perigosos. Era obrigatório levar mais combustível, ou seja, ainda mais peso.
Nos instrumentos para navegação aconteceu a maior evolução. Nós estávamos na idade da pedra, utilizando uma bússola, um hodômetro manual e um road book manual (aparelho para leitura de planilha em forma de pergaminho), todos de difícil leitura e manuseio (obrigavam ao piloto tirar a mão do guidão). Hoje estamos equipados com GPS (navegação por satélite), dois hodômetros eletrônicos e road book elétrico comandados através de botão no punho da moto.
Voltando à equipe de apoio. O regulamento exigia que todos fizessem o mesmo percurso dos concorrentes, muito difícil para caminhões carregados. Então era necessário investir em mais veículos deste tipo, lidando com a sorte, já que alguns ficavam atolados no deserto. Hoje o regulamento criou a categoria Assistência, a T5, com roteiros alternativos, que também permite que as equipes sejam reabastecidas com peças no dia de descanso. Assim, trabalhamos com menor número de caminhões. A organização também decidiu dar uma força para as motos. Desde 1993 todo piloto da categoria tem direito de levar um par de rodas e uma caixa de peças em avião da organização.
A comida era um martírio. O jantar era uma latinha de ração e não havia água. Hoje é montado um restaurante militar que, comparado ao passado, tem 20 estrelas e é garantido um abastecimento mínimo de três litros de água diário. Tentando humanizar a prova, o regulamento atual estabelece o limite de 800 quilômetros por trecho especial (cronometrado). Eu e o André já chegamos a percorrer etapas com 1.300 quilômetros.
A organização criou facilidades e diminuiu os custos, mas isto trouxe maior competitividade, fazendo com que a margem para erros e quebras diminuísse para praticamente zero. Se o objetivo é vencer, nada pode dar errado.
Klever Kolberg, 40, é piloto da Equipe Petrobras Lubrax e participa do rali Paris-Dakar há 16 anos.
A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Controlsat Monitoramento Via Satélite, Minoica Global Logistics, Mitsubishi Brabus, IBM, Planac Informática IBM Business Partner, Nera Telecommunications, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Sadia, Dakar Promoções, Vista Criações Gráficas, Adventure Gears, Mercedes-Benz Caminhões e site Webventure (www.webventure.com.br).
Este texto foi escrito por: Klever Kolberg
Last modified: dezembro 11, 2002