Foto: Pixabay

Na Rota do Rally Paris-Dakar 2004: Exageros

Redação Webventure/ Parceiros

Minha estréia no Rally Paris-Dakar aconteceu em janeiro de 1988. Foi a 10ª edição da prova e, apesar de uma curta participação, já pude perceber que este era um evento pleno de exageros, uma verdadeira “overdose”. Os organizadores são famosos por algumas destas medidas quase sem limites.

O próprio nascimento deste desafio está ligado à uma história que já é um exagero de vida. Em 1976 o francês Thierry Sabine atravessava o deserto do Saara de moto quando se perdeu, sem suprimentos, sem equipamentos para localização ou para pedir resgate. Três dias mais tarde, quando as buscas já estavam encerradas, um monomotor o avistou. Diz a lenda que a primeira frase do piloto do avião para Sabine foi: “Meu amigo, a partir de agora tudo o que você viver será lucro”.

Também foi num excesso, durante a edição de 1986, tentando tomar conta dos competidores que se espalhavam em todas as direções numa tempestade de areia, que Sabine sofreu um acidente de helicóptero e partiu desta para melhor.

Pessoalmente não tive a oportunidade de conhecer o “criador”, mas conheço quem teve este prazer e, segundo estas fontes, a vontade de Thierry era realizar um rali em que ninguém conseguisse chegar ao final da prova, sem limites!

Prova disso foi a edição de 1986, em vista da distância a ser percorrida (15 mil quilômetros), a dificuldade de terreno das regiões escolhidas e uma etapa de 2.000 quilômetros a ser percorrida, inclusive à noite, sem ver absolutamente nada. Ainda era a época da bússola, quando não era permitida a utilização do GPS… uma temeridade. Os que conseguiram chegar eram unânimes: “Duro demais”.

Mas não foi a morte de Sabine que fez as coisas ficarem mais suaves. No lugar dele, para a edição de 1987, entrou Patrick Verdoy, e seu excesso foi ficar com a viúva de Sabine, além do seu posto na organização. O pai de Sabine, Gilbert, não gostou nada da história e deu um pontapé no pretendente a herdeiro.

Em 1988, ano de nossa estréia na prova, a bola passou para as mãos de um tricampeão, René Metge, a raposa do deserto, que havia conquistado vitórias em 1981, 1984 e 1986. Foi a edição do recorde do número de competidores, com 603 veículos entre motos, carros e caminhões, um número que a organização atual da prova considera muito grande. Só para se ter uma idéia, são mais de 10 horas de largada, já que cada concorrente parte com um minuto de diferença.

Pensando em diminuir as dificuldades para controlar os competidores, Metge organizou a etapa considerada a mais difícil até hoje, carinhosamente chamada de “guilhotina”, com 500 quilômetros de dunas jamais atravessadas na Argélia. Acredito que ele errou na receita, com 60% dos concorrentes eliminados. E na seqüência muitos acidentes, com as mortes de três pilotos e outras três pessoas, um recorde que ninguém gosta de celebrar.

Mudaram os organizadores, mas os exageros continuaram. Em 1992, no Rally Paris-Cidade do Cabo, tivemos que atravessar uma região em guerra sem a devida segurança, ao contrário do que aconteceu em 2000, quando sob o comando de Hubert Auriol foram gastos cinco milhões de dólares para montar uma ponte aérea entre Niamey (Níger) e Sabah (Líbia), para fugir do GIA (Grupo Islâmico Armado).

Rally Paris-Dakar-Paris, 1994, e o exagero de confiança do organizador, que não fez o reconhecimento e ordenou a travessia de dunas inexploradas. Ninguém conseguiu. Se salvaram os que desistiram antes. Quem insistiu abandonou a prova. Estes erros acontecem também no Brasil, especialmente na travessia de rios e trechos alagados. Os organizadores têm o péssimo hábito de não orientar os competidores.

Chego à conclusão que se eu fosse organizar um rali, mesmo cheio de boas intenções, também acabaria cometendo grandes erros, pois a natureza nos engana. O que temos de fazer é aprender com estes erros para não repeti-los.

A equipe Petrobras Lubrax fará a 17ª participação consecutiva no Rally Paris-Dakar.

Ajude-me a escrever o próximo artigo. Faça perguntas, envie sugestões e tire suas dúvidas através do site www.parisdakar.com.br

Klever Kolberg, 41, é piloto do Mitsubishi da Equipe Petrobras Lubrax

A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Minoica Global Logistics, Banco DaimlerChrysler, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Eurofarma, Planac Informática, Mitsubishi Koala, Mercedes-Benz Caminhões, Nera Telecomunicações, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Adventure Gears, ZF do Brasil, Behr, Sadia e Dakar Promoções.

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax

Last modified: fevereiro 22, 2017

[fbcomments]
Redação Webventure
Redação Webventure