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Na Rota do Rally Paris-Dakar 2004: Loja de armadilhas

Aos poucos a organização do Rally Paris-Dakar tem nos presenteado com raras informações sobre o percurso da prova. Não poderia ser diferente, já que uma das características deste desafio é o trajeto secreto, nunca repetido, mudado todo ano. E tem mais: o regulamento diz que quem fizer reconhecimentos ou montar bases de apoio antecipadamente está automaticamente desclassificado. Então é bom não acontecer uma daquelas coincidências de você estar, por acaso, “passeando” no percurso.

A planilha, uma espécie de livro de bordo que indica o caminho que teremos de seguir, só será apresentado na véspera da largada. A cada dia, ao completarmos uma etapa, recebemos o “alimento” do dia seguinte. Não adianta espernear; é assim. E isso cria competitividade. Se fosse diferente, quem tivesse recursos faria um pré-levantamento, treinamento, enviaria batedores e estaria estabelecida a regra de quem tem mais, pode mais.

Bom, alguém já deve estar se perguntando: “E se eu fizer um percurso diferente, mais fácil, mais curto?” Os organizadores já pensaram nisso. Em alguns pontos estratégicos do percurso são colocados PCs, e não se lembre daquele amigo do presidente Collor. Afinal ser PC no Dakar é barra pesadíssima. O PC é formado por uma dupla com um carro 4×4 e, antecipadamente e sozinhos, eles devem chegar a um determinado ponto que invariavelmente é totalmente isolado no meio do nada, sem qualquer tipo de infra-estrutura, inóspito e nada acessível. Eles lá ficam por conta e risco, por mais de um dia, faça sol ou faça chuva, que no caso é uma tempestade de areia. Num período previamente estipulado os competidores passam e, numa visita mais rápida que a de um médico, têm um cartão de passagem carimbado, o que garante que ninguém cortou caminho.

Além disso, a tecnologia também permite à organização monitorar os concorrentes. Todo dia nosso GPS (aparelho que faz a navegação por satélite) armazena centenas de pontos (1 a cada 5 minutos) em sua memória. A noite estes pontos são descarregados no computador da organização e um programa fiscaliza se nos mantivemos dentro de uma “avenida imaginária” com 10 quilômetros de largura, tendo como centro as coordenadas geográficas da planilha. Variadas penalizações, que chegam à desclassificação, são aferidas aos mais “distraídos”. Desta maneira também é controlada nossa velocidade quando passamos por vilarejos, que não pode ultrapassar os 40 km/h.

Então, o que sabemos até agora é que vamos encontrar pedras, dunas de areia muito fofa, dificuldades de navegação, trechos desgastantes. Como serão 11 mil quilômetros pela França, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Mali, Burkina Faso e Senegal, é como se eu fosse entrar numa loja de departamentos e encontrasse no primeiro andar areia para todos os gostos, depois a seção de pedras e assim por diante. Na verdade será uma visita à uma loja de armadilhas, onde posso encontrar tudo o que já vi ou imaginei. E há também o que jamais sonhei, de erosões a escorpiões para todos os gostos.

A equipe Petrobras Lubrax prepara sua 17ª participação consecutiva no Rally Paris-Dakar, que começa dia 1 de janeiro de 2004 na cidade francesa de Clermont Ferrand e terminará dia 18 do mesmo mês em Dakar, na capital do Senegal. Então vou aproveitar para contar tudo o que acontece nestas competições.

Ajude-me a escrever o próximo artigo. Faça perguntas, envie sugestões e tire suas dúvidas através do site www.parisdakar.com.br

Klever Kolberg, 41, é piloto do Mitsubishi da Equipe Petrobras Lubrax

A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Minoica Global Logistics, Banco DaimlerChrysler, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Eurofarma, Planac Informática, Mitsubishi Koala, Mercedes-Benz Caminhões, Nera Telecomunicações, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Adventure Gears, ZF do Brasil, Behr, Sadia e Dakar Promoções.

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg, da Equipe Petrobras Lubrax