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Não fique com raiva

Você pegaria no colo um filhotinho de jaguatirica parecendo um gatinho ou um sagui perdido se o encontrasse no meio de uma trilha na mata, carente e indefeso? Afinal, quem resiste a uma carinha de “quero colo” de um filhote? Se você cair nesta tentação, então pode se considerar um candidato a se contaminar com o vírus da raiva. Isto mesmo. Estes lindos animaizinhos, mesmo calmos e aparentemente saudáveis, podem nos transmitir esta terrível e séria doença.

Causada por um vírus extremamente contagioso, transmitido através do contato com a saliva, com o sangue e possivelmente com a urina de várias espécies de mamíferos, pode ser fatal se a pessoa não for tratada imediatamente.

Cães e gatos: perigo visível
Os cães e gatos vadios são os mais conhecidos dos transmissores desta doença. Eles são considerados um perigo para a saúde pública nas cidades porque, se não forem vacinados, podem efetivamente ser contaminados. Além disso, a doença costuma alterar o comportamento, transformando até mesmo os mais calmos e sociáveis cachorrinhos em animais arredios e agressivos. Neste estado, é comum eles morderem quem tente se aproximar ou apanhá-los, em geral crianças inocentes querendo brincar, transmitindo a raiva.

Animais silvestres: perigo oculto
Muitos animais selvagens podem não apresentar sintomas tão visíveis quanto a alteração do comportamento dos cães e gatos. Ou, por serem naturalmente arredios e agressivos mesmo quando filhotes, dificilmente perceberemos se estão contaminados.

E é ai que se esconde o maior perigo. Se pegarmos na mão um morceguinho, ou um lindo filhotinho no meio da trilha, mesmo sem deixá-los nos morder, estaremos entrando em contato com sua saliva no seu pelo ou sua urina. Se ele tiver o vírus da raiva estaremos contaminados. E o que é pior: quando um cão vadio nos morde procuramos auxílio médico porque pensar na contaminação por raiva é quase que imediata. Entretanto, quem é que vai procurar imediatamente um médico para tomar uma série de vacinas só porque pegou um macaquinho na mão?

Morcego: desmistificando um pouco
Os morcegos também são muito conhecidos, especialmente no meio rural, como transmissores do vírus da raiva. Isto porque o morcego hematófago, bebedor de sangue, é o maior vetor da raiva para o gado. Sabendo disto, muitas pessoas não dormem ao relento, em rede ou saco de dormir com medo de serem atacados por um morcego.

Acontece que, no Brasil, a grande maioria dos morcegos come insetos ou frutos e não se alimenta de sangue. E mesmo os poucos que o bebem, muito dificilmente atacam uma pessoa. Mesmo que o fizessem, dificilmente teriam sucesso em uma pessoa pois, até mesmo dormindo, temos muita sensibilidade para perceber um morcego pousando e andando sobre nós. Eles geralmente atacam o gado que pouco podem fazer além de abanar o rabo em cima deles.

Entretanto, apesar de praticamente não corrermos risco de sermos “atacados” por um morcego, devemos lembrar que eles podem se contaminar pelo vírus da raiva, mesmo os frugívoros. Assim, devemos evitar pegá-los. Se um morcego entrar na sua barraca, retire-o com uma luva grossa ou com um grosso pedaço de pano.

A raiva é causada por um vírus geralmente mortal. Uma pessoa que entre em contato com um mamífero (gato, cão, macaco, preguiça…) desconhecido ou não vacinado deve lavar a área contactada com água e sabão e deve procurar auxílio médico imediato para ser vacinada. É importante lembrar que isto é válido para qualquer contato e não apenas para os casos de mordida.

Existe vacina preventiva para seres humanos mas, por poder apresentar muitos efeitos colaterais, ela só é recomendada em casos excepcionais como em quem trabalha entrando em contato com animais que possam estar contaminados com por exemplo médicos veterinários, os biólogos que estudam mamíferos e os manipulam ou os tratadores de zoológicos e circos.

O que fazer

  • Não entre em contato com animais desconhecidos. Mesmo filhotinhos indefesos e calmos podem estar contaminados e lhe contaminar mesmo sem mordê-lo;
  • Se for obrigado a pegar um animal desconhecido, como um morcego na barraca ou um macaquinho na trilha, não entre em contato direto com ele. Use luvas ou uma toalha dobrada para se isolar;
  • Mas também não precisa matar os animais que encontrar por eles representarem um risco. Deixe-os. Viva e deixe viver…
  • Isto vale até para os morcegos. Deixe-os. Provavelmente ele será apenas mais um morceguinho que come insetos ou frutos, inofensivo. Eliminar os hematófagos é trabalho para os agentes de saúde.
  • Se entrar em contato devido a um acidente ou por acaso (mordida, saliva, urina ou pêlo úmido) lave a área contactada com água e sabão e procure o serviço médico imediatamente. É bom tomar estes cuidados com qualquer tipo de contato, por mais inocente que pareça;
  • Se possível leve o animal ao médico ou aprisione-o para que ele possa ser examinado e verificado sua condição de portador do vírus ou não. Desde que isto não ocorra a custa de mais contato, mordidas ou mais pessoas afetadas;
  • Nunca se aproxime de um animal agressivo ou arredio. Deixe-o ir ou chame a ajuda de alguém treinado para lidar com ele.

    Este texto foi escrito por: Cláudio Patto