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Nas asas da aventura

Redação Webventure/ Aventura brasil, Voo Livre

Betinho  à direita: simplicidade de campeão (foto: Inahiá de Castro/Sky News)
Betinho à direita: simplicidade de campeão (foto: Inahiá de Castro/Sky News)

Não foram poucos os que tiveram esse desejo, muito antes de nós. Voar como pássaros, como se tivéssemos realmente asas, sentindo no rosto o vento, aquele frio na barriga e observando a paisagem, tão pequena e distante. Leonardo da Vinci, no século XV, já se aventurava em projetos a fim de realizar esse sonho.

Foi da Vinci quem desenvolveu o que hoje é considerado o primeiro projeto de asa-delta. Porém, o desafio de estar no céu, apreciando esta experiência, não foi o motivador exato para a criação de equipamentos para o esporte como conhecemos hoje. Até a NASA, agência espacial americana, tem relação com a invenção.

Hoje, porém, o Brasil está na frente dos americanos. Pelo menos nas competições: somos os atuais Campeões Mundiais por equipe, com grandes chances no próximo Mundial, que acontece entre 14 de junho e 1 de julho no sul da Espanha. Se torcer para o futebol já não parece algo tão recompensador, talvez seja hora de olhar para cima e mandar para os nossos voadores toda a nossa torcida.

Conheça mais sobre este esporte, sua história e tragetória no Brasil e a equipe que irá representar o país na mais importante competição da modalidade. Deixe-se levar pelo vento, nas grandes asas da adrenalina aqui, no Aventura Brasil.

O primeiro a fazer um projeto de asa-delta foi Leonardo da Vinci, no século XV, antes até de o Brasil ser descoberto. O genial da Vinci, que estudava, dentre outras coisas, o movimento dos pássaros, criou a primeira asa, com base de bambu. A tentativa dos vôos, porém, não foi muito bem sucedida.

Alguns séculos depois, já conquistado até o espaço, a idéia do gênio ganhou lugar. As primeiras asas, mais parecidas com as que conhecemos hoje, foram desenvolvidas em 1948 por dois irmãos americanos, os irmãos Regallo. A finalidade do equipamento seria auxiliar cápsulas espaciais da NASA (agência espacial americana) quando estas voltassem para a Terra.

O objetivo do invento não foi cumprido, mas não demorou muito para que aventureiros descobrissem suas possibilidades. Os primeiros a utilizar as asas para fins esportivos foram os australianos em provas de esqui aquático. Logo, a possibilidade de voar sem motor, sentindo o vento bater no rosto, passou a atrair o interesse em vários países.

Foi nos Estados Unidos, porém, que o esporte começou a ser de fato praticado. As primeiras rampas eram as dunas das praias do Sul da Califórnia.

Cenário perfeito – Ao olhar para cima, uma estranha surpresa. Um objeto colorido rodopiava carregando algo que, de longe, parecia ser um homem (e era mesmo). A cidade do Rio de Janeiro recebeu com admiração, curiosidade e um certo espanto a presença de um francês em seus céus, em 1974. Ele gravava um comercial e foi o primeiro a voar de asa-delta no Brasil.

A imagem do homem voando tão alto e tão lentamente levou um grupo de jovens cariocas a procurar mais informações sobre o esporte. Então, no mesmo ano, Luiz Cláudio Mattos enfrentou pela primeira vez o céu fluminense. Em 1976, já havia algumas dezenas de praticantes e, em 1976, foi criada a ABVL (Associação Brasileira de Vôo Livre).

A evolução dos equipamentos e, principalmente, da tecnologia para segurança, ajudou no aumento da prática do esporte. Além disso, outros tipos de asa continuam sendo desenvolvidas. Exemplo disso são as asas rígidas, já usadas em competições. Quase planadores, elas apresentam diferenças de aerodinâmica em relação às flexíveis, mais amplamente difundidas. Seu preço pode chegar aos dez mil dólares.

Risco de vida, insegurança, medo. Quem nunca voou, ou só o fez dentro de aviões bem fechados, muitas vezes associa estas palavras ao vôo-livre (asa-delta e parapente). Quem está acostumado e, por opção, passa horas com os pés bem distantes do chão, não nega o perigo. O risco, porém, pode ser menor, desde que cada um saiba respeitar os seus limites.

“Antigamente, via muitos amigos morrendo por problemas nos equipamentos. Era muito triste porque, na grande maioria das vezes, eles não tinham nenhum tipo de responsabilidade. Hoje em dia, isso é muitíssimo raro: os acidentes só acontecem porque o piloto fez algum procedimento inadequado” conta Luizinho Niemeyer, um dos integrantes da equipe que representará o Brasil no Mundial e um veterano no esporte.

Luizinho começou a voar em 1976 e pôde ver, de perto, a evolução tecnológica ajudar na segurança da prática da asa-delta. “Os equipamentos são muito melhores hoje, a segurança é muito mais levada em conta. Quando eu comecei a voar, não se usava nem mesmo o pára-quedas de emergência, hoje um item obrigatório”, explica.

A morte de Pepê, campeão mundial da modalidade, depois de um acidente no Rio de Janeiro em 1993, foi, segundo Luizinho, um dos motivadores para a criação de uma nova consciência em relação à segurança na prática da asa-delta no país.

Saber voltar é saber voar – Para Betinho Schmitz, tetra-campeão brasileiro e vencedor do pré-Mundial realizado no ano passado na Espanha, o mais importante é conhecer e, principalmente, respeitar os próprios limites.

“Eu agradeço a Deus por, em vários momentos, me fazer enxergar que estava ultrapassando os meus limites. Sempre voltei quando percebi o exagero. É claro que eu amo voar, que quero vencer as competições. Mas, gosto muito mais de mim mesmo e quero poder fazer muitas coisas legais ainda”, conta.

E o medo de morrer? “Sinceramente, a gente não pensa que vai morrer. No meio de uma turbulência, ou uma situação mais complicada, a cabeça funciona para encontrar soluções. Mais do que medo, na hora vem à tona um grande senso prático. Deve ser o instinto de sobrevivência. “, brinca Luizinho Niemeyer.

A seleção de ouro do Brasil não tem como principal habilidade dominar bolas em gramados. Ao contrário, utiliza todo o corpo para se manter longe do chão, chegando a locais especificados. Esta seleção não conta com estrelas que apareçam sempre em programas de TV. Mas é a atual campeã Mundial por equipes, um orgulho para o Brasil.

O time campeão, formado por feras na asa-delta, irá disputar no próximo mês o bi-campeonato. União, companheirismo e muita vontade de vencer são as características deste grupo, formado por Betinho Schimitz, Luizinho Niemeyer , Lincoln Moreira, André Wolf e Nenê Rotor e que irá representar o Brasil no próximo campeonato Mundial, na Espanha.

A formação da seleção é definida de acordo com o ranking brasileiro da modalidade. “Acho que os bons resultados do Brasil podem ajudar a divulgar o esporte por aqui. Afinal, somos campeões mundiais por equipe com grandes chances de vencermos na individual com o Betinho Schmitz” , explica Luizinho Niemeyer.

Embora morem em cidades diferentes, cada atleta faz o seu prórprio treinamento visando o trabalho em grupo que será necessário na competição. “Há todo um preparo físico e psicológico. Em 99, quando vencemos na Itália, isso foi fundamental, além do companheirismo, é claro”, conta Luizinho.

Casa do mundo das asas – Em 2003, será o Brasil o palco para a mais importante competição do esporte. Será realizada no país, na cidade de Brasília, o campeonato Mundial. Uma boa oportunidade para conhecermos as feras e torcermos, de perto, pela nossa seleção.

“O que é aquilo pai? São barracas?”. Esta foi a pergunta feita por um menino curioso que voava em um pequeno avião junto com seu pai na cidade de Bento Gonçalves (RS), no ano de 1976. Aos quatorze anos, o garoto ficara intrigado com aquelas coisas coloridas lá embaixo, movendo-se tão lentamente.

A curiosidade do menino também atingiu o pai. Os dois, depois de pousar, pegaram o carro e foram conferir o que eram aquelas “barraquinhas coloridas”. Ao chegarem ao ponto onde elas estavam, surpreenderam-se com grandes asas e viram, pela primeira vez, homens utilizando aqueles instrumentos para ganhar os céus.

A partir de então, o pai começou a voar fora do pequeno avião, utilizando a grande asa. O menino continuou a acompanhá-lo e, depois pouco tempo, também começou a voar. O que em princípio era uma brincadeira nos céus transformou-se em paixão. O pai, Carlos Alberto Schmitz, conquista o Campeonato Gaúcho de asa-delta, em 1982. Em 1983, é a vez do menino, Betinho Schmitz que já era grandinho e se transformaria em uma das maiores estrelas da modalidade.

Viciado em adrenalina – Desde então, as tais “barraquinhas” passaram a fazer cada vez mais parte da vida de Betinho Schmitz. Nove vezes campeão Gaúcho, (83 a 91), quatro vezes campeão Brasileiro (94, 95, 97 e 99), o gaúcho se diz um verdadeiro viciado em adrenalina. “Não sei ficar sem aquele frio na barriga e sou apaixonado pelo que faço”, explica.

Sua rotina, realmente, não é das mais desagradáveis. Quando não está pelo mundo competindo, Schmitz volta para a base na cidade de Florianópolis. Nos poucos dias por mês em que pode aproveitar da tranqüilidade do seu lar, aproveita para continuar deixando a adrenalina em alta. “Como moro perto da praia, estou sempre surfando, coisa que eu adoro fazer. Além disso, faço trilhas caminhando e de bicicleta”, explica.

A escolha pela cidade de Florianópolis tem uma explicação bem simples. “Aqui é ótimo porque tudo o que eu mais gosto está perto e acaba ficando barato”. O que ele mais gosta? “Natureza e a possibilidade de praticar esportes. Desenvolver a minha capacidade psicomotora é muito importante também na asa” conta.

Campeão mundial com a equipe Brasileira em 99 e vencedor do pré-Mundial individual na categoria cross-country na Espanha no ano passado, Betinho agradece. “Este ano, se for calcular o tempo que fiquei voando, dá uma média de uma hora por dia. Como é o que eu gosto, me sinto muito satisfeito. Acho que sou um privilegiado e sempre agradeço a Deus por isso”, conta.

Este texto foi escrito por: Débora de Cássia

Last modified: maio 4, 2001

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