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Nas praias de Dakar

Mais uma vez a Equipe BR Lubrax chega a Dakar. Estamos rindo sozinhos, já que o Rally Paris-Dakar foi duro. Dos 434 veículos que largaram, apenas 52 motos, 45 carros e 15 caminhões cumpriram 100% do percurso. Só por fazer parte deste grupo já sentimos um grande prazer. A competição ficou para trás e os concorrentes agora dão as mãos e se cumprimentam, mostrando reconhecimento.

Nós estamos ainda mais felizes pelos nossos ótimos resultados. Também cometemos alguns erros. “Alguns” seria uma falsa modéstia. Cometemos vários, mas é impossível vir ao encontro deste nível de exigência e não ser humano.

Alcançamos alguns objetivos, outros bateram na trave. Como nossa característica é de sempre tentar se superar, vou comentar estes resultados, começando por nossos principais erros.

Estamos numa partida de decisão de campeonato. O Dakar é assim, ele acontece apenas uma vez por ano, portanto não há chance para se recuperar. E nós chutamos dois pênaltis para fora do gol.

Um dos pênaltis errados foi a quebra do caminhão do André Azevedo. Quebrou a cruzeta da transmissão, um problema que não acontecia num Tatra de competição desde 1983. Isto fez os engenheiros criarem uma grande confiança e nos persuadiram a não transportar a pequena peça. Talvez pela nova configuração do caminhão, com o motor na frente, o peso maior sobre o eixo dianteiro tenha criado esta sobrecarga e fomos surpreendidos. Resultado: perdemos a segunda colocação da categoria, que seria o máximo, já que o vencedor, o caminhão russo Kamaz, tem quase 50% mais de potência. Parabéns ao André, Tomas Tomecek e Mira Martinec.

O outro chute errado foi do Juca. Na chegada a Zouerat, quando atravessamos a fronteira entre Marrocos e Mauritânia, após a especial, eram 16 quilômetros de asfalto a serem percorridos, com um tempo máximo de 15 minutos. Tranqüilo. Mas o Juca se distraiu, a TV foi entrevista-lo, ele não controlou o tempo e chegou 21 minutos atrasado ao acampamento. O campeão da categoria Super Production até 400 cc chegou 19 minutos na frente dele. Lógico que ambos cometeram outros erros, mas este foi muito caro. A tentativa do bicampeonato fica para 2003. E também não podemos apagar totalmente o brilho da conquista da segundo posição e da própria chegada. Parabéns Juca.

Mas também fizemos alguns gols de placa.

O Luiz Mingione com sua 250, uma Honda Tornado Rally, foi um deles. Estreante numa prova infernal, andando sozinho devido a potência da moto, chegando várias vezes à noite, descansando pouco ou nada. Mais do que a vitória na categoria, se alguém deve receber um prêmio de chegada, é ele. Parabéns.

Me dou o direito de fazer um elogio ao desempenho meu e do Pascal Larroque, meu navegador. Nosso Mitsubishi Pajero Full Diesel conquistou três troféus. Ficamos em oitavo na geral e é um grande privilégio estar entre os “Top 10”. Garantimos o segundo lugar na categoria Carros Super Production Diesel, a que tinha maior número de concorrentes (47) e primeiro veículo amador, que aliás, financeiramente nos rendeu o maior prêmio, de 7.623 Euros (como estamos longe da civilização há dias, não tenho a menor noção da cotação atual da nova moeda européia).

Também não podemos deixar de reconhecer o trabalho da equipe de apoio, que aqui no Dakar, além de trabalhar na manutenção, tem de atravessar o deserto. Ou seja, tem que se virar para não criar problemas, e sim trazer apenas soluções. Um parabéns especial ao nosso mecânico da motos, o Helder Guimarães, do interior de São Paulo, cidade de Itatiba. Era sua estréia no rally e ele teve de fazer o papel de navegador do caminhão de apoio.

Mas o maior prêmio está dividido entre minha cabeça e meu coração. Ele é virtual. É a satisfação de estar com a equipe completa aqui em Dakar, todos inteiros, todos veículos chegaram. Isso sem dúvida é o mais importante. E para ficar ainda melhor o Luiz Azevedo, que correu pela equipe CDI, e o repórter da Sportv, o Tiago Brant, além do nosso “multi-homem” (já que ele foi repórter multimídia, fotógrafo, câmera e muitas outras coisas), o jornalista Ricardo Ribeiro, se juntaram a nós e formamos um grupo de 11 pessoas, que já dá uma pequena festa. Sempre é melhor comemorar cercado de amigos.

Até o Rally Paris-Dakar 2003!

Este texto foi escrito por: Klever Kolberg (arquivo)