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Niclevicz e Burda contam detalhes da escalada ao cume do Everest

Redação Webventure/ Montanhismo

Waldemar e Pemba (atrás) chegando no cume (foto: Divulgação)
Waldemar e Pemba (atrás) chegando no cume (foto: Divulgação)

Confira as melhores imagens da expedição dos montanhistas paranaenses Waldemar Niclevicz e Irivan Gustavo Burda, que escalaram o monte Everest (8.848m) na temporada de 2005!

Do topo do mundo, a 8.848 metros de altitude, para uma sala de reunião, a dupla Waldemar Niclevicz e Irivan Burda fizeram um encontro com imprensa e patrocinadores para contar as melhores histórias e mostrar vídeos e fotos da segunda conquista brasileira do Everest.

Niclevicz contou detalhes da escalada, principalmente dos momentos finais. “O nosso ataque ao cume foi muito tenso, com pouco oxigênio e muito vento”, comentou. Segundo a dupla, os ventos fortes foram o principal obstáculo para a escalada.

“Foi uma temporada muito difícil, com muitos obstáculos, principalmente o clima. Posso considerar a escalada mais difícil da minha vida”, disse Burda. “O vento é humilhante, te joga no chão repetidas vezes. É preciso ter paciência”, definiu Niclevicz

A dupla paranaense saiu do Brasil no final de maio para a expedição que comemorou dez anos da primeira vez que o Brasil chegou no topo do Everest, com Niclevicz e Mozart Catão, morto em uma expedição, no Aconcágua. “A primeira coisa que fizemos ao chegar no cume foi prestar uma homenagem a ele”, disse Waldemar. Ele pretende lançar um DVD com as melhores imagens dessa escalada e a de dez anos atrás.

Acompanhe os principais trechos do relato

Dificuldades – Waldemar Niclevicz se tornou o primeiro alpinista brasileiro a escalar duas vezes o Everest. Em 1995 subiu pela fae norte, do Tibete, e agora pela sul, do Nepal. “Analisando friamente, a face sul é mais simples, mas esse ano tive mais dificuldades para subir do que em 95. Isso porque o clima estava bem diferente, com muito mais vento. Essa foi a pior primavera em 46 anos no Everest”, disse.

A equipe reuniu 12 carregadores no Nepal e partiu para a base do Everest em um trekking de 16 dias. Poderia ser menor, mas a dupla escolheu uma rota pouco usual, que envolve escaladas a mais de seis mil metros, para melhorar a aclimatação. “Com isso conseguimos progredir bem mais rápido que as outras expedições logo quando chegamos no acampamento base, mas o clima não ajudou”, explicou Niclevicz.

“A nossa idéia era escalar o Everest em 30 dias, mas acabamos ficando 83 no total. Foram 30 dias no acampamento base sem poder fazer nada, só esperando o tempo melhorar”, disse Waldemar. Mas antes de atingirem a base da montanha, o caminho foi longo.

“Começamos pelo Mera Peak, uma montanha no caminho do Everest. Fizemos um trekking de 180 quilômetros, durante 16 dias, para começarmos a aclimatação. Isso dá cem a mais do que o caminho normal. Foi nesse momento que nos sentimos mais atraídos pela montanha, e foram os dias que nos sentimos mais a vontade, sem nenhuma outra expedição por perto”, contou.

“Chegamos no acampamento base no dia 11 de abril, tinham 23 expedições acampadas e apenas a nossa não era comercial. Um total de 600 pessoas, mas não parecia tanto, porque ficavam espalhadas pela montanha.”

Problemas de saúde – Niclevicz saiu do Brasil com amidalite e faringite, que pegou ainda na fase de treinamento. “Peguei muita chuva”, disse. Esse incômodo seguiu o alpinista durante todos os dias da expedição e foi um dos responsáveis pelo desgaste. “Tinha que tomar remédios muito fortes, antibióticos que me debilitaram muito, por isso perdi 11 quilos.”

Após 30 dias de uma tensa espera no acampamento base, a equipe decidiu arriscar uma brecha de tempo de “três ou quatro dias de clima mais ou menos bom”, como contou Irivan, e iniciar o ataque ao cume. “A nossa subida foi um período muito tenso, o vento atrapalhou bastante”, avaliou Niclevicz.

“Saímos do acampamento três às dez horas da noite, para poder chegar de dia no cume. Quando estávamos no colo sul, nosso Sherpa caiu, se distanciou de nós porque era de noite e acabou descendo. Ele levava mais duas garrafas de oxigênio para nós. Fizemos as contas e o que tínhamos (apenas mais duas reservas) não era suficiente para subir até o cume e descer de volta”, contou.

O outro Sherpa que subiu com a dupla, Pemba, decidiu deixar uma garrafa no cume sul para Waldemar. Ele também voltou para o acampamento a partir desse ponto, a 8.700 metros. “Diminuímos o fluxo da garrafa e chegamos no cume ainda com oxigênio, daí optamos por desligar”, contou Niclevicz.

Enfim, o cume – “Ficamos duas horas no cume, estava muito frio e ventando muito. Estávamos muito cansados, tudo demorava muito para acontecer, andar, falar. Bem no final, por questão de dois minutos, encontramos o Vitor Negrete chegando. O reconhecemos pelo macacão, que nós tínhamos vendido para ele”, disse.

A chegada do outro brasileiro foi a salvação para a volta da dupla ao acampamento. “Ele deu um quarto do oxigênio dele para o Irivan, porque ainda tinha uma garrafa cheia”, contou Waldemar.

A descida – Descer é sempre um momento tenso depois que se alcança o cume do Everest. Para Burda e Niclevicz não foi diferente. “Sem muito oxigênio e com o olho esquerdo machucado por causa do vento, eu caia a cada três, quatro passos. Tentava correr entre uma pedra e outra para me abrigar do vento, mas muitas vezes fui atirado por ele no chão”, disse Waldemar, que foi guiado por Burda na volta.

Cerca de uma hora e meia depois, na chegada ao cume sul, ele encontrou a garrafa de oxigênio que Pemba tinha deixado. “Volltamos ao acampamento, encontramos com Pemba, também muito cansado. Nos hidratamos e dormimos. No dia seguinte já estávamos no acampamento dois.”

Previsão de tempo. – “A previsão estava quase nos deixando loucos enquanto esperávamos no acampamento base. Todo dia mudava muito. Os dias bons eram previstos para sete dias depois, mas quando esse dia se aproximava a previsão mudava e dizia que ia ser ruim”, explicou Irivan.

“Todo dia era sagrado ver a previsão do tempo, perto das duas da tarde, e todos os dias ela mudava. Não tivemos muitas discussões, era só olhar pra cima que sabíamos que não dava para subir. Quando as condições melhoraram, tivemos algumas discussões sobre quando ir. A quantidade de pessoas subindo também contou muito na decisão. Escolhemos a data certa”, completou.

Relacionamento com Sherpas – “Os Sherpas são geneticamente muito adaptados à altitude e também altamente religiosos. Tivemos um relacionamento excelente com o Pemba, um dos nossos Sherpas, mas tivemos problemas com o pai dele. Eles ganham cerca de 5 mil dólares nessas expedições, entre pagamentos e extra-bônus, como o do cume. O Sherpa tem um status muito grande no Nepal, mas alguns deles só querem dinheiro”, explicou Niclevicz.

Tecnologia – Segundo a dupla, os avanços tecnológicos foram fundamentais para o sucesso da escalada. “A internet e o telefone satelital mudaram o mundo e nos ajudaram muito nessa viagem, principalmente no contato com o mundo”, avaliou Burda.” Há dez anos atrás eram 20 dólares para passar um fax e era só isso que conseguíamos fazer”, disse Niclevicz.

Rivalidade – Segundo a dupla, não existe rivalidade entre eles e os brasileiros que subiram o Everest pela face norte, do Tibete. “Da nossa parte não existe nenhuma rivalidade com o Vitor Negrete e o Rodrigo Raineri. Todo mundo é Brasil nesse momento. O Vitor foi muito camarada em me emprestar oxigênio”, disse Burda

Quanto ao fato da decisão de Negrete e Raineri de subir com o auxílio de oxigênio, Irivan não quis comentar, mas Niclevicz sim. “Gostaria de ter visto eles chegarem sem oxigênio. Vimos só lá no cume que o Vitor subiu com as garrafas. Essa atitude é muito mal vista no nosso meio. Se me comprometesse a subir sem oxigênio, eu não subiria com ele. Mas os dois devem ter os motivos deles”, afirmou.

“Para escalar sem oxigênio uma montanha como o Everest precisa de muita experiência, ter outras montanhas de oito mil metros no currículo. Essa foi a primeira vez que eles vieram para o Himalaia”, explicou.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: junho 14, 2005

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